25 de novembro de 2006


Acabo de receber de Goiânia o covite para o lançamento, na terça-feira, 28, na Livraria Cultura de Goiânia, do livro do amigo Vassil Oliveira, que narra os bastidores das eleições de 2006 para o Governo de Goiás. O livro vem coroar a carreira jornalística de Vassil — que acabou por especializar-se em política. Somos amigos desde de antes de ele terminar o curso universitário. Este é seu segundo livro, pois já publicou um livro de contos, que tivemos a honra de apresentar. E sei de poesias e novelas aguardando o gatilho de futuras edições.
Eu também aguardava ansioso este lançamento, pois só assim o Vassil Oliveira poderá se debruçar sobre a apresentação de nosso livro Safra Quebrada.
Vassil, sei que o sucesso será grande!!! E que os compromissos não se esgotam!!!!!

José Santiago Naud para professor emérito da UnB

Endossamos — e sugerimos que entidades e autoridades formadoras de opinião no meio cultural de Brasília que assim também se pronunciem —, a indicação do professor e poeta José Santiago Naud para professor emérito da Universidade de Brasília. José Santiago integra a vanguarda dos pioneiros de Brasília e, por antigüidade, merece indicação, já que foi um dos fundadores daquela instituição. Damos por certa a sua indicação e acolhida.

Comparecemos, nesta semana, ao lançamento de "Dicionário de pequenas solidões", que contém dez contos do amigo Ronaldo Cagiano. O evento concorridíssimo aconteceu na livraria Café com Letras, na 203 Sul. Eu tinha previsto ficar uma meia hora, mas eram tantos amigos que só consigo sair duas horas após chegar ao local. Só com o amigo Antonio Miranda uma hora correu sem nem deixar rastro de enjôo.
O livro praticamente inaugura as atividades da editora Agualusa, que tem programa de edição de autores de língua portuguesa (entenda-se aqueles do Brasil, Portugal e países africanos). Dá pra ver, pela edição cuidadosissíma que a editora veio para competir e ficar. Sugiro apenas que eles tenham uma cautela na composição do preço de suas edições. Caso mantenham o mesmo parâmetro do "Dicionário de pequenas solidões" acabarão impedindo certas camadas da população de ter acesso aos seus livros. A fitinha saiu muito cara.
Os contos foram selecionados dos livros Concerto para arranha-céus, editado em Brasília pela LGE; e de Dezembro Indigesto, também editado em Brasília, desta feita pela Bárbara Bela. Confesso, eu ainda não tinha lido os livros do Ronaldo, pois tenho me envolvido muito com o acompanhamento da poesia brasileira.
Agora, logo após o lançamento, já retornei para casa enfiado nos contos do Ronaldo. O amigo abordou temas cruéis, ambientados em Brasília, Cataguases, sua terra natal, e mesmo no Rio de Janeiro. Está ali o estupro, a viagem de metrô por Brasília, e outras solidões — a morte do pai...Mas cada um tem de ir lá conferir, senão não tem graça. Bota aí a solidão pra funcionar e vá às solidões do amigo Ronaldo Cagiano!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

21 de novembro de 2006


Nos últimos dias, assisti três filmes. Fui com amigos e familiares rever Paris Texas, de Wim Wenders. Assisti este filme pela tercerta vez, e sei que muitas outras vezes irei revê-lo. Aqui a música e a imagem se integram na deserticidade. Ry Cooder, que tocou com Eric Clepton, participa com a trilha sonora de outros filmes, inclusive auxiliou Wim Wenderes na produção de Buena Vista Social Club (este eu já devo ter visto umas dez vezes), também de Wim Wenders. Podem dizer o que quiserem, mas Wim Wenders tem uma sutil maneira road de andar pela vida. Medo e Obsessão, que também vi no fim de semana, e que se encontra em cartaz, trata da paranóia americana relativamente ao terrorismo. Mostra que a paranóia serve apenas para gerar mais paranóia, que, num crescendo, acaba gerando conflitos criminosos. E, ontem, fui ver Volver, de Almodovar. Não perco um Almodovar sequer. Com a transparência das taras, acaba mostrando os conflitos das relações humanas. Neste Volver ele está mais claro, mas amoroso do que nunca, com as mulheres sendo obrigadas a resgatar estradas perdidas. Amo Almodovar!!!!
O artigo "Três vozes, um mesmo tom", de Hildeberto Barbosa Filho, que já foi publicado no caderno Pensar do Correio Braziliense, acaba de sair na revista Correio das Artes, editada na Paraiba resistenteente por Linaldo Guedes. O texto pode ser conferido na íntegra na revista virtual Cronópios (http://www.cronopios.com.br/site/critica.asp?id=1928).
Aqui um trecho:
"Mais colado ao visgo da existência, o lirismo de índole filosófica de Salomão Souza não descarta o apelo metalingüístico, quando ao final do poema da página 65, enuncia: “A lenha das palavras / acende a festa / na beira de meu pasto”. Antes, no mesmo texto, o poeta já dissera: “Não consigo sorrir se o homem / deixa de ser uma lenda / se o homem deixa de entrar / nos esconderijos do arco-íris / se é negada a festa da palavra / cheia dos olhos de Osíris / se há o logro da censura / e não chegam dizeres e vizires”. Observem-se em cada verso a carne e a plumagem das palavras. Intuição e razão não se excluem, complementam-se na composição das tantas imagens, imagens estésicas, que habitam este poemário, conjugando significado e significante."

16 de novembro de 2006

Às vésperas do feriado fui ao concerto da Orquestra do Teatro Nacional. Num concerto nunca estamos sós. Tem a música, tem a pulsação do pública. E mesmo a possibilidade de conhecer pessoas com a mesma expressão humana da arte. Ali estava a Beatriz e seus pais, pela primeira vez numa audição de música erudita. Pura alegria, até mesmo quando adormeceu.
Mesmo com a substituição do programa, pois eu espero há mais de ano que a orquestra toque a 1ª Sinfonia do Mahler, que é um das primeiras músicas clássicas que inseri no meu repertório de preferência pessoal (nela está a energia da juventude), assisti todo o programa com muito prazer. Foi uma surpresa ouvir o Canto de Amor e Paz para orquestra de cordas, do brasileiro Claudio Santoro. É algo que nos corta com a serenidade da paz. De acordo com o musicólogo Vasco Mariz, à primeira obra dessa época, o Canto de Amor e da Paz, Santoro “imprimiu um tom lancinante, de uma sinceridade que impressiona já na primeira audição... É evidente que este trabalho tem um programa político também, mas a lembrança que deixa no ouvinte me pareceu tão elevada e universal a ponto de esquecer aquele aspecto menos artístico. A obra foi premiada pelo Conselho Mundial da Paz....No dizer do compositor Katchaturian, essa obra se assemelha a uma grande canção em forma de sinfonia.”

7 de novembro de 2006

A AMIZADE A AMIZADE A AMIZADE AMIZADE

Com o título e "Lagartas", talvez a propósito das lagartas que estão postadas aqui no blog, acabo de receber um e-mail de um poeta. Até desafio outras pessoas a me mandarem fotos de lagartas para serem postadas aqui. Mas que tenham sido fotografadas pelo remetente.

Vez por outra acredito realmente que sou poeta, sermos lidos, num país tão pouco lido, por tempos penso que é só a nossa teimosia mesmo, destas querelas de caboclo domesticado da cidade.
Edson Bueno de Camargo
Mauá - SP

Nunca me preocupei em ser lido, no instante em que escrevo. É um ato tão solitário, que não podemos imaginar nada no instante de escrever, mas em achar em nós mesmos algo que nem imaginávamos estar ali. Algo que outro vai ver e, por ter sido escrito por um humano, pensará que poderia ser amigo daquele ser humano que escrevia. Não terei sido um poeta se alguém não desejar me conhecer enqaunto estiver lendo. Eu queria ser amigo de todos aqueles que escreveram algo cheio de vida. É nisso que penso quando leio. Ser amigo de Rilke, acompanhá-lo na loucura. Ser amigo de Lorca enquanto ele escreveu "Romance sonâmbulo", um dos mais belos poemas. Mas quantos outros poemas belos escritos por poetas que seriam belos amigos!
A lagarta, mesmo, não pensa em ser lagarta. Talvez pense em se defender enquanto lagarta. Basta ver as muitas antenas venenosas que a protege na beleza. Acredito que o homem não se protege tanto. Tem de criar as suas antenas. A amizade, a ampliação da escolaridade, o aprofundamento da textura da própria poesia. Nosso país crescerá com isso. Quem tem inimigos vive alerta, sem descanso, no medo.

Mas talvez não fosse nada disso que eu quisese escrever, Edson. Mas lembrar dois textos sobre a amizade.
O primeiro, eu não vou datilografar. É do livro "Érica e seus irmãos", de Elio Vittorini. Aliás, acabo de achar o trecho aqui na internet. É um romance pequeno, mas assustador. Veja o trecho:

"Sonhava sobretudo uva, uma uva de doce cor, amarelo embaciado pelo frio, e não uva de comer, mas de morar. Tratava-se de bosques dourados, com pássaros invisíveis que cantavam, e com globos de polpa onde as pessoas entravam e ficavam felizes. Ela estava sozinha num globo, mas sabia que a todos acontecia a mesma coisa e sentia uma melodiosa certeza de companhia. Esta era, aliás, a felicidade: a companhia. "

Assusta-me e me encanta esse desejo de companhia num ambiente em que tudo já não existe, pois Érica está na miséria. E acredito que o leitor de hoje nem quer o contato com a miséria. Mas a perda do contato com o real nos torna desleais com a gente mesmo, torna-nos despreparados para ser homens. O homem ter de viver no real, aí sim ele respeita o real e a si mesmo.

Mas fui descobrir que esta importância da companhia, pois a am izade é companhia, talvez tenha sido retirada por Elio Vittorin do primeiro parágrafo do 3º vol. do romance "Jean-Christophe", de Romain Rolland, que acaba ter nova edição brasileira pela editora Globo. Gosto dos romances caudalosos. Este tem quase 1600 páginas, distribuídas em três volumes. Ainda não li. Mas está aqui sobre a minha cabeceira. Vejamos o tal parágrafo, parágrafo de assustadora beleza :

"Tenho um amigo!... Doçura de termos encontrados uma alma onde aninhar-nos em meio da tormenta; um abrigo terno e seguro, onde por fim respiramos, à espera de que se acalmem as pulsações de um coração ofegante! Não estarmos mais sós, não necessitarmos permanecer sempre armados, os olhos sempre abertos e queimados pelas vigílias, até que a fadiga nos entregue ao inimigo! Termos o companheiro querido, em cujas mãos pusemos todo o ser – e que pôs em nossas mãos todo o seu ser! Bebermos, enfim, o repouso, dormirmos enquanto ele vela, velarmos enquanto ele dorme! Conhecermos a alegria de proteger aquele a quem queremos, e que confia em nós, alegria de proteger aquele a quem queremos, e que se confia a nós, como uma criancinha. Conhecermos a alegria imensa de nos entregarmos a ele, de sentirmos que ele possui os nossos segredos e que dispõe de nós. Envelhecidos, gastos, cansados de carregarmos durante tantos anos a vida, renascermos, moços e vigorosos, no corpo do amigo, saborearmos com os olhos o mundo renovado, apreendermos, com os sentidos, as belas coisas passageiras, gozarmos com o coração o esplendor de viver... Mesmo sofremos com ele... Ah! o próprio sofrimento é alegria, contanto que estejamos acompanhados!
Tenho um amigo! Longe de mim, perto de mim, sempre em mim. Tenho um amigo, pertenço-lhe. Meu amigo me quer. Sou dele. A amizade confunde as nossas almas num só alma."

Lamentável que as pessoas de hoje, egocêntricas, se julguem as melhores pessoas do mundo. As melhores pessoas do mundo são aquelas que nos completam com a anizade. Somos seres imperfeitos em busca de completude — — — do amigo.

Certamente motivada pela lagartinha miraculosa do Robson, a Nayara Vieira me mandou algumas fotos de flores, jaboticabas, e a lagartinha camuflada na casca de uma árvore. Uma lagartinha muito menos assustadora, quase um amuleto de sorte, assim um ente de estimação. Não deve ser da fazenda da vó, mas uma lagartinha que ela trata com pequenas gotas de perfume, e deixa passeando na táboa da cabeceira enquanto dorme.
Só aqueles que sabem ter intimidade com lagartas e flores são os que melhor respeitam a vida, são aqueles
que jamais serão egocêntricos.

5 de novembro de 2006

Algo miraculoso


São vários os temas que eu poderia abordar aqui no blog, neste domingo, de um novembro que já nos desemboca no final do ano. Assim numa abordagem memorialística, assim o prolongamento de um diário irresponsável... Antes, relembrar os buracos aberto aqui em minha garagem, com mais de metro de fundura, para reorganização da rede de esgoto. Às vezes esquecenmos que somos personagens do mundo, com necessidade de encarar nossos esgotos pessoais. Nem tudo termina em livro, mas bem que poderia terminar. Ainda há pouco, com as mariposas invadindo a minha janela, à procura de luz, eu tentava construir um aforismo:

- Nenhum livro é tão ruim que não serva para matar mosca. (este é um pensamento bem à moda de Augusto Monterroso, que fez um livro com epígrafes que remetem sempre às moscas).

Passei a semana ultimando os arranjos finais para a conclusão do Safra Quebrada. A edição está garantida. O livro estará concluído — acredito — até meados de dezembro. Mas o lançamento só acontecerá lá para os inícios de março (em Brasília e Silvânia, minha terra natal). O Mourinha até disse, quando fomos ao seu lançamento, na Livraria FNAC: vamos lançar em Goiânia. Se tiver ajuda dos amigos, quem sabe...

Voltei a encontrar a Nayara numa livraria. Ou fui encontrado por ela ou por seu companheiro. Gostaria de fazer uma metáfora que expressasse a alegria que anda com ela. Nayara é uma água intocável pelo barro? Ela é o ar que move tudo por onde passa. Se todos andassem assim com a alegria pelo braço, a amizade seria muito mais fácil de ser travada. E eu acho que somos amigos desde o primeiro dia que nos encontramos. E, lembrando dela, penso em todos os escritores latino-americanos que são amigos da latinidade. Sábato, que ela já deve ter concluído a leitura, com seu senso de defesa da humanidade, de destruição das vias que levam o homem modrno ao egocentrismo; Octávio Paz, com a sua intimidade com os destinos de seu país, principalmente em O labitinto da solidão; e Carlos Fuentes, que resiste diante das ameaças colonialistas. Saiu dele agora o Este é meu credo, em que contsrói a própria biografia em quarenta e poucos tópicos, como se fossem crônicas ou artigos memorialísticos. Amo Carlos Fuentes desde a primeira linha que li dele. Deste livro, já na primeira página, encontramos o amor à latinidade:

"Grandes civilizações foram derrubadas. A conquista da América foi uma catástrofe. Mas uma catástrofe, segundo María Zambrano, só é catastrófica se dela não nasce nada que a redima. E da catastrofe da conquista, nascemos todos nós. Somos, majoritariamente, mestiços, filhos dos encontros."

Ainda para parodiá-lo um pouco mais, poderíamos dizer que as amizades são nosso segundo lar, onde construímos o complemento de nossa formação, e habitamos melhor o mundo. A amizade é onde amamos sem a necessidade da libido.

Não era para estar dizendo nada disso, mas registrando os livros que recebi nos últimos dias. Encaminhados pelos amigos. Mas deixemo-los descansar mais um pouco sobre a minha cabeceira. Perdão Lívio Oliveira, Gabriel Nascente, Jorge Tuffic...

Estou às voltas com o imaginário para ver se consigo construir a capa do meu livro. O Robson Corrêa de Araújo, que me visitou neste sábado com o Sandro, suiço que está há um mês no Brasil, fotografou uma lagarta para fazermos experiências. Acho que esta lagarta ainda não será a capa definitiva. Poderia sobrar só o rabo desfocado dela...

O que você acha? É belo ou assustador? Ou miraculoso, como me ligou hoje a Camila para me perguntar o que esta palavra quer dizer?

A amizade é algo miraculoso. A palavra é do Godoy e a amizade era Godoy.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...