29 de março de 2008

Uma fidelidade veio ficar comigo
Uma fé sem bomba escondida no casaco
Vieram parar bem aqui
entre os eixos que fazem a paz

Protege a minha porta
a serenidade sem lama
Sinto-me sem fronteira
se extintos os negociantes
com os aros de impedir nossos pés
Nossas mãos já se aproximam

Os lábios não se disfarçam
com o cuspe e com o chulo. Sinto.
Sinto que não sou eu que me enche
Enchem-me uns lábios, uma idéia
um corpo vindo sem fronteiras
Sinto que chegou sadio
o homem que come comigo
o meu o pão e planta comigo o desejo
Sinto que enche de força os meus ossos
Uma fidelidade me beija

Tão perto um Tibete sob meus pés
Beijo o calor de seu cânhamo

o rastros de seus cães
Sacio-me
na fidelidade de seu cântaro

@ Salomão Sousa

18 de março de 2008


Luiz Martins da Silva, poeta daqui de Brasília, nosso amigo, visitou este blog e nos remeteu email incentivador. Deixamos aqui um poema de sua autoria.


Tercetos


Luiz Martins da Silva

Por mais que se queira o oásis,
Nada irá conter o determinado,
A implacável têmpera da areia.

Quando acordamos, de imediato,
A clareza: foi tão somente sonho.
Não há sereias.

Há anos, na montanha, um monge
Acredita ter firmemente aprendido:
Vencer é não lutar.

De volta ao mundo, às ruas,
Ao calor dos sentidos, ei-lo de novo:
Ressurgente, ereto: o desejo.

9 de março de 2008

Visitei ontem uma exposição de documentos
da história portuguesa.
Impressionante a peça denominada "cupa",
que os antigos deixavam dentro da tumba.
Parece um pesado aríete de Pedra,
taLVEZ para arrebentar as portas do paraíso.
Ainda pesquisam seu significado.
Enquanto isso, deixo aqui um poema
em que me valho de sua simbologia
para registrar a minha inquietação
de estar presente no Universo.
Versos, portanto, de inquietação.
Sempre que olha para as mãos
e elas se oferecem limpas
a borduna lhe apetece
e mais lhe apetece
quando o repouso de um homem
oferece-lhe o beijo na face

Pediu-me para segurá-la
Se é mansa a oração
e brilha quieta
a estrela no universo
pede-me a borduna
o inimigo ao desabrigo
de uma paz que o anime

Não pede o gesto que o aqueça
Não pede a abertura da trilha
ou o ajeito de uma telha
Pede-me a borduna
de arrancar a marca de sangue
que o satisfaça em seu abrigo

Para a paz do inimigo
ofereço o sangue de animar a festa

8 de março de 2008

São multidões para morrer
e para as urnas faltará madeira

No melhor recorte de pedra
já esculpida a minha cupa
Irei sem exércitos, sem armas
com as culpas que fiz e herdei
Sem água, punhos de marfim, elmos
na cúpula de silêncio
só com meu recorte de pedra
Sem guilhotina, horda de dementes,
engendro grafias para que a sabedoria
não seja só outro grão na areia

No mostruário, confundem-se os ossos
expostos com ostras e oferendas

Desconheço se é de um filho
ou de uma amada ou do inimigo
os ossos que levo por meus
No último dia não virá
a criança que sapateava
em espasmos de alegria
Saltitava sobre o tablado
sobre os entrelaces dos guerreiros
Com os ossos de outros ou meus,
terei de mover a minha cupa,
fazê-la o aríete de arrebentar
os portões da fortaleza


Na cupa não haverá outras inscrições
Na fortaleza já se apagaram os últimos frisos
Somos — eu e os guerreisos,
eu e os ossos de uma amada, e do inimigo —
só os entrelaces na tapeçaria
em que saltita a criança dos pequenos guisos

4 de março de 2008

Depois de muito pesquisar em livrarias argentinas, consegui a edição dos ensaios completos de Ernesto Sabato, pela editora Seix Barral. Admiro estes escritores que resistem diante dos problemas históricos de seus paises, e buscam reversão crítica para os ações corruptas da humanidade. Sabato participou dos trabalho de Tortura Nunca Mais. E, em muitos momentos se preocupa com o processo de desumanização do indivíduo, sobretudo pela convivências com a máquina. Em um texto ele lembra, com muita justiça, que as famílias, em vez de dar um animal-máquina para as crianças cuidarem, dessem uma avó ou um avô bem velhinho.

Sempre me emociono ao ler Sabato. Nele não há guilhotina, não há tina de merda, ou a erva da idiotice. Nele há humanismo.

Em uma homenagem a Che Guevara, na Universidade de Paris, ele lembra:

" Porque a sua morte tem disso: o valor de um símbolo. E nesta sociedade racionalizada que desertou, esqueceu e menosprezou os símbolos mais valiosos que o fervor e o sacrifício, pode encontrar em Guevara, com efeito, um romantismo tresloucado. Mas é precisamente esse romantismo, é justamente essa imagem heróica e solitária a que desperta a esperança e a coragem e a fé em milhões de jovens generosos nos quatro cantos da terra."
O amigo Lívio Oliveira, poeta de Natal (RN), me encaminhou o programa do I ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES, que vai se realizar naquela cidade no período de 24 A 26 DE MARÇO DE 2008. Vão ser debatidos temas como literatura de cordel, a literatura do Seridó, a legislação da literatura do autor potiguar, a prosa potiguar, entre outros. Diversos autores participarão do evento: Tarcísio Gurgel, Lisbeth Lima, Demétrio Diniz, Napoleão Paiva, Crispiniano Neto, Deífilo Gurgel, Gutenberg Costa, Vicente Serejo, Bartolomeu Correia, Caio Flávio Oliveira, além de muitos outros. Nosso abraço a todos, desejando boas polêmicas e bom intercâmbio de idéias. Mais informações no email: eduardogosson@tjrn.gov.br.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...