22 de junho de 2014

Por mim, não será dado fim ao dia, os lilases
não se incorporarão à intriga da noite.
Por mim, as paisagens desejadas 
brilharão em montanhas de ventilados verdes,
em nuvens de todos os Himalaias.

Alguns não se importam com a condução 
de retornar às ruínas de Bizâncio,
reconstruí-la com os próprios punhos.
Não escravizar os homens das aldeias
felizes debaixo das pompas de floridas faias.

Por mim, não será dada a ordem
à tropa de cercar os açoites dos vândalos.
Sejam arrancados os retrovisores,
e falhe o corujão de levar o último trabalhador.
Os homens caem. Os homens se levantam.

Por mim, pode ser oficializado o capuz.
Não induzi à fome, escapei do pau-de-arara.
Não velejei na nau que trouxe a carga
de homens recolhidos nas aldeias.
Recortei a minha telha de cara limpa.

Por mim, não caia a hera do palácio,
do muro de retornar ao campo.
Tive a face às claras no exílio de um quarto
tomado de triponossomas e pus.
Não posiciono na esquina o aparelho.

Logo as palavras em todas as redes.
Quantas vezes destruída Bizâncio
na hora do aríete e do incêndio.
Quantas vezes reerguida e renomeada
na hora do trabalho e do diálogo.




15 de junho de 2014

Em honra do que se perfilou
na primeira batalha, na audiência
que assistiu o último sermão,
mover-se para a Bizâncio
milenar, tantas vezes reconstruída
e renomeada. Por Constantino
das dominações perpétuas,
em cada cálice elevado nas assembleias,
turcos possantes para encher
o horizonte com altas abóbadas
distendem a tua fama pelos
territórios mutáveis dos séculos.
Subir as tuas vielas de puro manto
com ossos de ouro dos videntes.
Perpétuo orgulho do esplendor.
Na fortaleza, renovar a proteção
dos próximos acordos, isentos
de discórdia, de invasões, de guerreiros
envolvidos em areia de tormento.
Estocar a madeira de estender
a ponte, de vencer a truculência
do abismo e do gelo, desfile
das hordas das armadas.
Mover-se para calcificação
da vitória e da permanência da sombra,
em cada hora mudar o gesto,
alcançar outra aparência, de cicatrizes
que lembrarão novos gestos na paisagem.
Deixar um território sem destroços
em que outros circularão heróicos,
orgulho para a ordem da pele e da voz.
O pai que tossiu solitário
sem que a isca tenha sido perdida.
O que manteve a guarda ao balcão
em vigília ao estoque
de peças a todo instante reclamadas.
Dar audiência à voz do herói
que por mim morreu em Bizâncio,
na beira das capoeiras do rio dos Bois
estendeu sobre os lombos
a arreata em debruns de vernizes
cautelosos, nós resistentes
aos mais bruscos saltos.
Não falo por mim, mas pelos
heróis nus que ardem bem depois
dos ventos em ritornelo nalguma
angra, onde âncoras não descoram
no esquecimento de funduras de lama.
Onde não aguardam as naus
na veemência da podridão da madeira,
nas borradas linhas de fronteiras
os estrangeiros não oferecerão
os corações famintos às miras adversárias.
As naus circulam com a voz dos guerreiros,
dos descendentes, de engenhos
de ininterrupto moer.
Morrerá em mim o heroísmo
se afundar o barco vindo em fuga de Darfur.
Em que Bizâncio aguarda por mim
a batalha? Em que canal
a travessia para o desejo, a fundura
de ancorar-me com todas as cores
da bandeira de uma pátria?
A voz em mim é a voz do primeiro guerreiro.
O grão no armário, o cabelo luzente,
as palavras livres no parlatório.
O primeiro guerreiro me quebra arestas,
por mim seca a poça, assenta
a poeira, distende a fronteira.
Não há vitória, não há conquista,
dilação de fronteiras além de Bizâncio
àquele que só honra a inércia e o destroço.

4 de junho de 2014

Atrasei no carregamento do dia
apenas para conhecer o taipeiro
Veio dos extremos da intimidade
das florações/do dourar fiel dos cachos
Veio de amparar a água nas taipas
de reconhecer a distância suficiente
para que as sementes não apodreçam
Veio de um pátria amparada 
sobre o ouro e a clemência
Dos arrozais da riqueza de puro branco
Quer conhecer onde pisa
onde flora/onde as dívidas
merecem resgate/Levanta-se
entre todos e oferece o assento
o taipeiro clemente com as raízes
dominador generoso das águas
Dominador da coleta dos grãos
e da memória das palavras gastas






RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...