Li o novo livro Escuta, de Eucanaã Ferraz. Animou-me o despojamento do uso da língua, o formato adotado para desenrolar a comunicação ágil. Poesia messenger, sem perder a mensagem humana. Por exemplo no poema "Certo": "Hoje quero te falar de permanecer vivo//mas venho te dizer que tudo permanecerá vivo/nesta hora em que te digo agora". Esse primeiro verso dá da Gonçalo M. Tavares escrever um de seus tópicos de seu ciclo o Bairro. Pois está difícil permanecer vivo. Em outro poema, comovente a alegria de saber que emerge o homem do mar sem ser o afogado. E também o que aborda a impossibilidade de a poesia ser lida pelos mortos. Quantos outros mortos ficaram fora do poema, pois todo morto não lê poesia. Ou quem não lê poesia é o morto. Há uma metalinguagem do risco dessa poesia que emerge do mar desse tempo. Uma poesia que zomba de si mesma, que se sabe grotesca pois emerge do e habita o grotesco. Uma poesia que dialoga com Camões e Alphonsus de Guimaraens. Adoro o poema de Alphonsus Guimaraes, que ele reconstrói em outro. A poesia faz uma viagem pelo Brasil. Em Brasília, passa por Candangolandia, Valparaiso. Uma poesia muito propícia a este tempo. Alguém tem de arriscar a fazê-la. E Eucanaã ousa arriscar.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
Assinar:
Postagens (Atom)
RETRATO, poema de Antonio Machado
Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...
-
A um olmo seco Antonio Machado A um olmo velho, fendido pelo raio, e pela metade apodrecido, com as chuvas de abril e o sol de maio, saíram...
-
O processo de editoração é dinâmico, também. Os livros de poesia devem se aproximar da visualidade das páginas da internet. Papel que reflit...
-
Se eu e Ronaldo Costa Fernandes soubéssemos que não mais teríamos oportunidade de voltar a encontrá-lo, não ficaríamos ali estáticos na Livr...