4 de novembro de 2018

|Poema da garrucha velha


Quem me ajuda a analisar esta estrofe de uma ode de Fernando Pessoa?
Quando um poema me destrona do conforto, indago-me o que ele contém para gerar um andamento de emoção. A emoção, o desconforto, a satisfação, a saciedade - sempre surgem de uma ingestão. O que uma estrofe assim carrega de carga de construção para que possa ser medida depois da leitura? O que contém para me deixar saciado após a ingestão?
Primeiramente, começa com uma evocação: VEM. Tudo que nos chama já exige uma resposta imediata. Após, utiliza-se elementos eternos da versificação para criar efeitos encantatórios de linguagem. Primeiramente, sobrecarrega-se de repetições e aliterações. São 19 “i” e 14 “n”, 9 “d” que geram rimas internas. E não pode passar despercebido o efeito que fecha a quadra: a aliteração com o “j” de lantejoulas e franjado. E ainda a intensidade dos 11 "t" criando rimas e soniridades internas.
O tema é bem comum: a noite, mas que gera algo lúgubre, por isso Rainha destronada, mas antiquíssima e idêntica. Agora, o que gera a grandiosidade do poeta é a criação desse efeito que vai criar novas possibilidades de construção poética no futuro. Quando emprega “estrelas lantejoulas” sem ser uma palavra nova com hífen ou vírgula, quer mostrar apenas algo como uma cortina, criar algo emendado pela noite. Uma vírgula seria um corte na noite, no escuro. É uma efeito da poesia atual, neobarroco, com confrontos de palavras para geração de novas possibilidades linguísticas. E Fernando Pessoa complementa essa expressão com “vestido franjado”, pois essa cortina ainda tem uma barra franjada - imagem que irá se desdobrar ao longo do poema.
Agora sei porque volto sempre a esse poema.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...