CANTO DE MIM MESMO
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O falcão pedrês desce veloz e acusa-me, queixa-se da minha tagarelice e
/vagabundagem.
Eu também sou indomado e também intraduzível,
Faço soar meu grito selvagem sobre os telhados do mundo.
A última lufada do dia demora um pouco mais por mim,
E, real, joga a minha imagem depois das outras, nas sombras desérticas,
e seduz-me para a bruma e o anoitecer.
Parto como o ar, agito a cabeleira branca ao sol que se vai,
Espalho a minha carne em remoinhos, deixo-a seguir aos pedaços.
Entrego-me ao esterco para crescer da erva que amo,
Se de novo me quiseres, olha-me debaixo da sola das tuas botas.
Dificilmente saberás quem sou e o que penso,
No entanto, serei para ti a boa saúde,
Se de novo me quiseres, olha-me debaixo da sola das tuas botas.
Dificilmente saberás quem sou e o que penso,
No entanto, serei para ti a boa saúde,
E filtro e fibra para teu sangue.
Se não me encontrares da primeira vez, mantém a coragem,
Se eu não estiver num lugar, procura-me em outro,
Em algum lugar estarei à tua espera.
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário