Faleceu neste domingo (23), aos 88 anos, durante uma
viagem à Espanha, o poeta brasileiro Lêdo Ivo.
Não é um poeta popular, mas bem poderia ser, pois de
expressão lírica, de profundo enraizamento na realidade e na vida.
De uma vasta obra, que perpassou pela Geração de 45, mas interligada com a lírica universal, Lêdo
Ivo, de Alagoas, teve ótimas relações com Brasília. Participou de encontros de
escritores na cidade, manteve correspondência com vários escritores
brasilienses e Antonio Miranda, ainda agora em 2012, publicou pela Poexílio, o
livro inédito dele Poesia Breve (ver e-book), em tiragem numerada, de luxo.
Na década de 70, saí de casa, para encontrá-lo num
encontro de escritores para pegar um autógrafo. Voltei sem pedi-lo, pois, ele,
no auge de sua produção, conquistando os prêmios de poesia mais importantes daquela época,
voluntarioso, cercado pela nata dos poetas; eu, poeta inédito, preferi não
me acercar dele. E, com isso, foi um dos raros poetas que admiro, ao longo destes
últimos anos, de que não aproximei para expressar a minha admiração. Aqui tenho as minhas fotos com Manoel de Barros, com Adélia Prado, as minhas cartas de Drummond, de Zila Mamede, os meus autógrafos de Ferreira Gullar e Thiago de Mello e Juan Gelman, e de muitos outros.
Mas, onde
ele estiver, saiba, que leio sempre a sua obra e a admiro.
Canto Grande
Não tenho mais canções de amor.
Joguei tudo pela janela.
Em companhia da linguagem
fiquei, e o mundo se elucida.
Do mar guardei a melhor onda
Não tenho mais canções de amor.
Joguei tudo pela janela.
Em companhia da linguagem
fiquei, e o mundo se elucida.
Do mar guardei a melhor onda
que é menos móvel que o amor.
E da vida, guardei a dor
de todos os que estão sofrendo.
Sou um homem que perdeu tudo
mas criou a realidade,
fogueira de imagens, depósito
de coisas que jamais explodem.
De tudo quero o essencial:
o aqueduto de uma cidade,
rodovia do litoral,
o refluxo de uma palavra.
Longe dos céus, mesmo dos próximos,
e perto dos confins da terra,
aqui estou. Minha canção
enfrenta o inverno, é de concreto.
Meu coração está batendo
sua canção de amor maior.
Bate por toda a humanidade,
em verdade não estou só.
Posso agora comunicar-me
e sei que o mundo é muito grande.
Pela mão, levam-me as palavras
a geografias absolutas.
E da vida, guardei a dor
de todos os que estão sofrendo.
Sou um homem que perdeu tudo
mas criou a realidade,
fogueira de imagens, depósito
de coisas que jamais explodem.
De tudo quero o essencial:
o aqueduto de uma cidade,
rodovia do litoral,
o refluxo de uma palavra.
Longe dos céus, mesmo dos próximos,
e perto dos confins da terra,
aqui estou. Minha canção
enfrenta o inverno, é de concreto.
Meu coração está batendo
sua canção de amor maior.
Bate por toda a humanidade,
em verdade não estou só.
Posso agora comunicar-me
e sei que o mundo é muito grande.
Pela mão, levam-me as palavras
a geografias absolutas.
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