Recebi nesta semana dois livros de poesia. Os dois poetas chegaram. certamente, por orientação de amigos.
"O livro de Marta", do cearense Rodrigo Marques, cujo autor deve ser do círculo de Nilto Maciel; e "A flor fugaz", de José Eduardo Degrazia, vem de Porto Alegre, mas traz apresentação de Anderson Braga Horta. Os dois livos são dedicados a amadas, pois bem líricos. O de Rodrigo Marques chega quase a um escracho, bem coisa de cearense, que nem sei se fica muito bem para a poesia, que sempre deseja se apresentar liricamente ereta, serena... Mas o poema que deixamos aqui ainda tem um quê de Camões-Século XXI. O de Degrazia, mais contido. Gosto de uma lírica em que os elementos se universalizem. Onde o amor se transparece em excesso, às vezes, perdemos em universalidade. No poemas de Degrazia, por exemplo, se a palavra do penúltimo verso fosse "amigo", acredito, a unieversalização aconteceria com muito mais perenidade.
Vamos aos poemas:
Soneto do amor quebrado
à Marta
de Rodrigo Marques
Sem esvaziar a estrutura,
Sem escapar à linha-curva,
Agachas inteira a carne
Num biquini quase marca.
Vejo-te aí contendo a fruta,
Assim e tanto, corpo e parte,
O pomo agachado que bifurcas,
Que meus olhos escodem a cidade.
E de te lhar sozinho, à parte,
Sou-te muito o amor mais fácil:
Que não fixa e que não passa,
Que se acende e que não arde,
Posto que carne quando agachas,
Posto inteiro quando partes.
ABRIGO
de José Eduardo Degrazia
Um sino que repica no silêncio,
uma porta que bate em meio à bruma,
um sonho que se tem em meio à noite,
um amor que surpreende e que se esconde.
Uma nota de piano em meio à sala,
uma canção soprano em seu concerto,
um coração que fala em cada verso,
uma oração que cala em cada terço.
Tudo o que a vida nos ensina em calma,
tudo o que a alma reflete em seu refúgio,
tudo o que vem de um céu azul e limpo,
só para ver abrir-se o teu sorriso,
só para crer em ti — a melhor amiga,
só para ter em ti por fim, abrigo.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
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