José Eduardo Degrazia me reenvia o livro Um animal espera — com poemas livres que o livro anterior. O livro integra a coleção minibuks da Território das Artes (Porto Alegre). O livro veio acompanhado de uma carta carinhosa, no estilo antigo — em manuscrito de punho azul. As cartas que me chegarem agora escritas de próprio punho passarei a postar aqui como "autógrafos do blog". Sempre lembrando que qualquer imagem pode ser ampliada — basta clicar sobre ela.
Neste Um animal espera, Degrazia faz uma espécie de diário íntimo, lírico, do poeta dentro da cidade, com a sua crença e descrença. Posto aqui o primeiro poema do livro. Assim um Bloom que se levanta para o dia.
FEITO FLORES EXPLODINDO NOS VASOS
Feito um homem que estivesse lendo um poema
diante da janela subitamente azul da manhã,
um homem recém-levantado da mesa do café
em que migalhas de pão convidam os pássaros,
um homem que leu nos jornais as notícias do mundo
e ficou olhando as árvores pensativas da avenida,
um homem a olhar o céu onde andorinhas retornadas
de terras distantes anunciam a chegada da primavera,
um homem como todos com calor e frio e sede
e se dispõe a viver mais uma manhã por acreditar
na vida e nas pequenas coisas que acontecem
ao seu redor, feito flores explodindo nos vasos
e abelhas em sintonia com o mel das estações,
um homem apenas com a certeza de ser ainda
a encruzilhada no cosmos, vivendo o instante
sutil que lhe foi dado estar no mundo,
instante único e mágico da aventura de estar vivo.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
27 de julho de 2011
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