Em solenidade na Escola Fazendária, no dia 28/10/2009, foi concedida a premiação a funcionários do Ministério da Fazenda por tempo de serviço e por "desempenho funcional".
Na foto, aparecemos fazendo o pronunciamento em nome dos homenageados por "desempenho funcional" pelo Gabinete do Ministro da Fazenda. A seguir, a íntegra de minha fala:
Convidado a pronunciar uma pequena alocução em nome dos funcionários do quadro do Ministério da Fazenda, que neste momento são homenageados por desempenho funcional, saúdo de forma afetuosa nossos familiares, nossos amigos, nossos colegas de trabalho, que, com sacrifício de seus compromissos, comparecem aqui para nos abraçar. Sem os familiares, os amigos, os colegas, este evento seria ocorrência sem brilho e nem mereceria transparência a nossa atuação no serviço público. Aos organizadores deste evento, também nossos colegas, nossos especiais agradecimentos.
E cada um de nós, obviamente, manifestará com características bem individuais o reconhecimento às chefias pela possibilidade de desempenho bem sucedido de nossas funções para merecermos indicações para esta honrosa homenagem. Sem chefias honestas, envolvidas com o processo da administração, torna-se frustrante e impeditivo o desempenho da atividade de qualquer servidor. Desejamos a cada uma dessas chefias que possa continuar alcançando desempenho vitorioso em seus setores. Em nome de todas as chefias, agradeço a Demetrius Ferreira e Cruz e a José Messias de Souza a proposição de meu nome para esta homenagem e, sobretudo, a credibilidade em meu trabalho.
É quase impossível — assim numa fala rápida — condensar o sentimento que cada um dos homenageados sente, e que desejaria ver externado neste momento. Pois, certamente, cada um expressaria de forma mais eloquente e com colorido mais convincente as suas experiências, afetos, as suas crenças e esperanças construídas no convívio do trabalho, da família e da comunidade.
Portanto, lembro que neste instante eu falo com as minhas experiências, em nome de todos, esperando que as minhas palavras possam corresponder pelo menos em parte ao que cada um desejava e imaginava dizer neste momento.
Se desde a minha infância convivo com a poesia, socorro-me de um poema de Bertolt Brecht para ilustrar estas minhas palavras. Trata-se de poema do tempo de muitos que hoje estão aqui sendo homenageados, pois condensa os ideais dos anos 70 e 80. Ele deve ter passado pela cartilha da maioria da geração desse período — agora às portas da aposentadoria —, que viveu e participou de momentos de crenças sociais igualitárias, que trabalhou muitas vezes com movimentos militares espreitando a porta da consciência e povoando a paisagem da janela do trabalho.
Já que é rara a possibilidade de as novas gerações conhecerem este poema, não só pela indiferença da atual juventude para com as questões sociais, mas também pelo desprezo pelos valores culturais, é importante a sua leitura para nossos filhos e netos aqui presentes. Trata-se de poema que põe em relevo a importância do trabalho de todo homem na face Terra.
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros estão os nomes dos reis.
Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a reconstruiu outras tantas vezes? Em que casas
Da Lima refulgente de ouro moraram os construtores?
Para onde foram os alvanéis na noite em que
A Muralha da China ficou pronta? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os levantou? Sobre quem
Triunfaram os Césares? Tinha a celebrada Bizâncio
Só palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engolia, gritavam
Os afogados pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Filipe de Espanha chorou, quando a Armada
Se afundou. Não chorou mais ninguém?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem
Venceu além dele?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete da vitória?
A cada década um Grande Homem.
Quem pagou as despesas?
Tantos relatos.
Tantas questões.
Esta é a palavra do Brechet teatrólogo, do Brechet poeta e humanista, que nos diz com esse poema: o homem não trabalha só afirmação de sua existência, mas que a existência do homem se afirma com a obra que ele ajuda a construir para orgulho e benefício da humanidade.
E eu retomo a minha humilde palavra para dizer a cada filho, cada neto, bisneto, que, no futuro — se não encontrar o nome de um dos ascendentes entre os grandes construtores e heróis — poderá dizer: no entanto, ele estava lá. Ele participou com a sua crença e com a sua descrença. Ajudou, com pequenas, mas necessárias, tarefas cotidianas, a construir determinado momento histórico desse País, seja fazendo cópia, entregando documento, ou elaborando algum arcabouço da legislação que contribuiu para o País entrar em novas fases de crescimento. Até mesmo aquele funcionário que era chamado para mudar a divisória de lugar sempre que tomava posse uma nova equipe econômica. O descendente daquele funcionário poderá dizer: ele a mudou tantas vezes de lugar, até o desgaste da rosca daquela divisória, que contribuiu para o País encontrar o encaixe justo para novas fases de sua história. Este é o trabalhador — ou servidor, como no caso da Administração Pública — que cumpre meritoriamente as suas missões, ainda que as tarefas sejam repetitivas como a de Sísifo, mas que, no fim, terminam imprimindo resultados maiores do que aparentemente apresentavam no cotidiano em que eram executadas.
Cada descendente — neto, filho, ou aderente que se encontre em outra região do País — irá reconhecer que o seu herói, por mais anônimo que tenha sido, não ajudou só com o vencimento na construção de uma família — mas era um braço, uma idéia, uma consciência, não só para a sua família e a sua comunidade, mas para ajudar a Administração dos governos de que participou no decorrer destes muitos anos de trabalho.
Cabe à descendência de todos nós — esperamos que com maior eficiência, e consciência ainda mais esplêndida e destemida —, seja na administração pública ou em atividades da vida privada, alcançar resultados ainda mais gloriosos. E os mais novos, aqui homenageados, já antecipam a sua participação na melhoria da feição de nossa nacionalidade. Quanto àqueles que daqui a pouco vão requerer a aposentadoria, podem até estar sendo visitados ou rondados pela velhice, mas este país é novo — Roma e Grécia tem mais de 2 mil, o Egito mais de 5 mil —, portanto, este país novo precisa de juventude com conhecimento, de juventude que preze, reconheça e não fuja de seus compromissos. Se a juventude entende que a Nação não está construída, este entendimento torna maior o desafio para ela. Não podemos mais viver uma totalitária pregação sobre o Brasil no sentido de “ame ou deixe-o”, mas precisamos de uma pregação otimista com o futuro no sentido de “ame-o ou ame-o”, pois a fuga não constrói nenhuma nacionalidade. A fuga só fomenta o ressentimento.
Que os trabalhadores do futuro — e entre eles se encontrará a juventude de nossos filhos e netos — possam dizer como os servidores deste momento: não fomos os expatriados ressentidos, pois participamos e ainda construímos aquilo que acreditamos — uma Nação em que a riqueza sirva a todos, afinal, de uma Nação de alegre e viva liberdade.
E cada um de nós, obviamente, manifestará com características bem individuais o reconhecimento às chefias pela possibilidade de desempenho bem sucedido de nossas funções para merecermos indicações para esta honrosa homenagem. Sem chefias honestas, envolvidas com o processo da administração, torna-se frustrante e impeditivo o desempenho da atividade de qualquer servidor. Desejamos a cada uma dessas chefias que possa continuar alcançando desempenho vitorioso em seus setores. Em nome de todas as chefias, agradeço a Demetrius Ferreira e Cruz e a José Messias de Souza a proposição de meu nome para esta homenagem e, sobretudo, a credibilidade em meu trabalho.
É quase impossível — assim numa fala rápida — condensar o sentimento que cada um dos homenageados sente, e que desejaria ver externado neste momento. Pois, certamente, cada um expressaria de forma mais eloquente e com colorido mais convincente as suas experiências, afetos, as suas crenças e esperanças construídas no convívio do trabalho, da família e da comunidade.
Portanto, lembro que neste instante eu falo com as minhas experiências, em nome de todos, esperando que as minhas palavras possam corresponder pelo menos em parte ao que cada um desejava e imaginava dizer neste momento.
Se desde a minha infância convivo com a poesia, socorro-me de um poema de Bertolt Brecht para ilustrar estas minhas palavras. Trata-se de poema do tempo de muitos que hoje estão aqui sendo homenageados, pois condensa os ideais dos anos 70 e 80. Ele deve ter passado pela cartilha da maioria da geração desse período — agora às portas da aposentadoria —, que viveu e participou de momentos de crenças sociais igualitárias, que trabalhou muitas vezes com movimentos militares espreitando a porta da consciência e povoando a paisagem da janela do trabalho.
Já que é rara a possibilidade de as novas gerações conhecerem este poema, não só pela indiferença da atual juventude para com as questões sociais, mas também pelo desprezo pelos valores culturais, é importante a sua leitura para nossos filhos e netos aqui presentes. Trata-se de poema que põe em relevo a importância do trabalho de todo homem na face Terra.
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros estão os nomes dos reis.
Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a reconstruiu outras tantas vezes? Em que casas
Da Lima refulgente de ouro moraram os construtores?
Para onde foram os alvanéis na noite em que
A Muralha da China ficou pronta? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os levantou? Sobre quem
Triunfaram os Césares? Tinha a celebrada Bizâncio
Só palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engolia, gritavam
Os afogados pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Filipe de Espanha chorou, quando a Armada
Se afundou. Não chorou mais ninguém?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem
Venceu além dele?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete da vitória?
A cada década um Grande Homem.
Quem pagou as despesas?
Tantos relatos.
Tantas questões.
Esta é a palavra do Brechet teatrólogo, do Brechet poeta e humanista, que nos diz com esse poema: o homem não trabalha só afirmação de sua existência, mas que a existência do homem se afirma com a obra que ele ajuda a construir para orgulho e benefício da humanidade.
E eu retomo a minha humilde palavra para dizer a cada filho, cada neto, bisneto, que, no futuro — se não encontrar o nome de um dos ascendentes entre os grandes construtores e heróis — poderá dizer: no entanto, ele estava lá. Ele participou com a sua crença e com a sua descrença. Ajudou, com pequenas, mas necessárias, tarefas cotidianas, a construir determinado momento histórico desse País, seja fazendo cópia, entregando documento, ou elaborando algum arcabouço da legislação que contribuiu para o País entrar em novas fases de crescimento. Até mesmo aquele funcionário que era chamado para mudar a divisória de lugar sempre que tomava posse uma nova equipe econômica. O descendente daquele funcionário poderá dizer: ele a mudou tantas vezes de lugar, até o desgaste da rosca daquela divisória, que contribuiu para o País encontrar o encaixe justo para novas fases de sua história. Este é o trabalhador — ou servidor, como no caso da Administração Pública — que cumpre meritoriamente as suas missões, ainda que as tarefas sejam repetitivas como a de Sísifo, mas que, no fim, terminam imprimindo resultados maiores do que aparentemente apresentavam no cotidiano em que eram executadas.
Cada descendente — neto, filho, ou aderente que se encontre em outra região do País — irá reconhecer que o seu herói, por mais anônimo que tenha sido, não ajudou só com o vencimento na construção de uma família — mas era um braço, uma idéia, uma consciência, não só para a sua família e a sua comunidade, mas para ajudar a Administração dos governos de que participou no decorrer destes muitos anos de trabalho.
Cabe à descendência de todos nós — esperamos que com maior eficiência, e consciência ainda mais esplêndida e destemida —, seja na administração pública ou em atividades da vida privada, alcançar resultados ainda mais gloriosos. E os mais novos, aqui homenageados, já antecipam a sua participação na melhoria da feição de nossa nacionalidade. Quanto àqueles que daqui a pouco vão requerer a aposentadoria, podem até estar sendo visitados ou rondados pela velhice, mas este país é novo — Roma e Grécia tem mais de 2 mil, o Egito mais de 5 mil —, portanto, este país novo precisa de juventude com conhecimento, de juventude que preze, reconheça e não fuja de seus compromissos. Se a juventude entende que a Nação não está construída, este entendimento torna maior o desafio para ela. Não podemos mais viver uma totalitária pregação sobre o Brasil no sentido de “ame ou deixe-o”, mas precisamos de uma pregação otimista com o futuro no sentido de “ame-o ou ame-o”, pois a fuga não constrói nenhuma nacionalidade. A fuga só fomenta o ressentimento.
Que os trabalhadores do futuro — e entre eles se encontrará a juventude de nossos filhos e netos — possam dizer como os servidores deste momento: não fomos os expatriados ressentidos, pois participamos e ainda construímos aquilo que acreditamos — uma Nação em que a riqueza sirva a todos, afinal, de uma Nação de alegre e viva liberdade.
Caro Salomão,
ResponderExcluirAcabei de ler o seu discurso. Olha, rapaz, você foi perfeito. Disse exatamente aquilo que tinha de ser dito, nem mais nem menos. E o poema do Bertold Brecht não poderia ter sido mais apropriado para o momento. Meus parabéns pela homenagem recebida. Abraço fraterno, João Carlos Taveira
Parabéns! O seu pronunciamento por certo levou todos os que ouviram (ou leram), a ter um pouco mais de consideração pelo trabalhador discrito, que não é visto, pois está nos alicerces, sustentando a administração deste país. O seu blog se constituiu em leitura diária e listado em Favoritos no meu navegador. Um abraço fraterno. P.Ponce de Leones - SILVÂNIA.
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