Vou escrever uma resenha sobre 2666, de Roberto Bolaño, romance que deverá sair no Brasil nos próximos dias. "As ventriloquias de Roberto Bolaño", pois narrativas se realizam através de várias vozes, que não deixam de ser sempre a dele mesmo. Para estabelecer parâmetros, terminei de ler Os detetives selvagens. Raro romacista, de domínio raro da narrativa, e foi também poeta. Traduzi alguns poemas dele para o portal do Antonio Miranda. Deixo um aqui.
RESSURREIÇÃO
Roberto Bolaño
A poesia entra no sonho
como o mergulhador no lago.
A poesia, mais valente que ninguém,
entra e cai
direto
num lago infinito como Loch Ness
ou turvo e infausto como o lago Batalón.
Contemplai-o ali ao fundo:
um mergulhador
inocente
envolto nas plumas
da vontade.
A poesia entra no sonho
como o mergulhador morto
no olho de Deus.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
21 de março de 2010
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