Decidi traduzir dois poemas de Luis Cernuda, após ler no livro Gênio que Harold Bloom cita este poeta espanhol como um dos expoentes da modernidade. Mas encontrei farta dificuldade para aproximar o poema do português, pois, apesar simplicidade - quase oralidade dos poemas -, há uma grande dificuldade de ajuste, pois o resultado pode simplificar excessivamente na versão. Os dois poemas serão encaminhados ao Antonio Miranda para que sejam incluídos no verbete do poeta.
Peregrino
¿Volver? Vuelva el que tenga,
Tras largos años, tras un largo viaje,
Cansancio del camino y la codicia
De su tierra, su casa, sus amigos.
Del amor que al regreso fiel le espere.
Mas ¿tú? ¿volver? Regresar no piensas,
Sino seguir siempre adelante,
Disponible por siempre, mozo o viejo,
Sin hijo que te busque, como a Ulises,
Sin Ítaca que aguarde y sin Penélope.
Sigue, sigue adelante y no regreses,
Fiel hasta el fin del camino y tu vida,
No eches de menos un destino más fácil,
Tus pies sobre la tierra antes no hollada,
Tus ojos frente a lo antes nunca visto.
PEREGRINO
Retornar? Tens que retornar
após longos anos, após longa viagem,
cansaço do caminho e a avidez
por tua terra, tua casa, teus amigos.
Do amor que, ao regresso, fiel te espera.
Mas, tu? regressar? Voltar não pensas,
mas seguir sempre adiante,
disponível para sempre, jovem ou velho,
sem filho que te busque, como a Ulisses,
sem Ítaca que te aguarde e sem Penélope.
Vá, vá em frente e não regresses,
fiel até o fim ao caminho e à tua vida,
não busque um destino mais fácil,
teus pés sobre a terra nunca percorrida,
teus olhos em frente ao antes nunca visto.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
27 de julho de 2010
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