Nesta manhã de sábado, enquanto
aguardo o dia se ajustar ao horário de verão, repasso rapidamente o romance Dentes negros, de André de Leones. As
imagens inseridas ao texto do livro, a busca de raízes, o percurso dos
personagens num movie road, remetem-me
a algumas reflexões da minha infância.
Mas ainda não será desta vez que
irei abordar criticamente um livro de André de Leones (e já abordando!). Estas
palavras é mais para dialogar comigo mesmo.
Talvez por sermos de Silvânia, prazerosa
cidade histórica de Goiás, e eu e sua mãe termos vivido uma juventude de íntima
e construtiva amizade, tive o privilégio de ter sido um dos primeiros leitores
de um livro dele. Livro inédito, de poesia. Ele já vivia sua inquietude e sua
busca, rumo à maturidade. Lembro-me de nosso encontro na casa de minha irmã.
Em Dentes negros, os personagens, mesmo apregoando que não tiveram
infância, vão rememorando pequenos fatos, que não deixam de ser a formação de
uma geração: a do próprio André de Leones, que perdeu a intimidade com ruas
raízes para ativar a intimidade com o humano. Basta ver que as imagens integradas
ao texto não trazem nenhum vulto de ser vivo. O que já comprova a mudança do formato
de as gerações formarem as imagens da infância: os locais destas imagens de
André de Leones, para mim, sempre aparecerão povoadas de pessoas, pássaros e outros
animais da infância. E da própria maturidade, quando de meus retornos a estas
paisagens. Acredito que eu não conseguiria flagrar estas paisagens de Dentes negros esvaziadas de humanidade.
O esvaziamento das figuras da infância é um dos fatores da produção de rancor. Por
isso eu digo que todas as contradições de minha infância e de minha juventude
estão resolvidas: o bulling, a
pobreza, a exploração do trabalho infantil, tudo. Insito: tudo isso está
integrado à minha aprendizagem de nacionalidade e de minha própria
personalidade.
A geração que veio com o
surgimento da “geração tela” (só para usar da sabedoria de Harold Bloom) ─ que é a de André de Leones ─, não tiveram e não terão a
mesma formação das gerações anteriores. Aí as dificuldades de os personagens de
Dentes negros se identificarem com o
passado. Dentro da velocidade, com
espaços que sempre estão se modificando, sobra muito pouco tempo para a geração
tela se deter no homem com contato visual e físico.
Dentes negros, e espero que assim seja com todos os futuros livros de
André de Leones, é de temática atual, oportuno e que merece ser adotado nas
escolas goianas, para que a juventude se veja e, assim, veja se é isto mesmo
que quer. Só um autor desta geração que agora se forma para registrar as
contradições do homem novo que vai se formando no país. A minha já está muito
distante da infância para se aborrecer com as próprias origens, mas que mantém
a esperança e a luta para que o homem do Planeta, do Brasil, das pequenas
cidades silvanienses vá se formando com dignidade e ética, satisfeito consigo e
com a nacionalidade.
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