17 de janeiro de 2009

Terminei agora de assistir a minissérie "Maysa". Por que os músicos pagaram com um preço tão elevado pelo alcance da liberdade? Elis? Charlie Parker "Bird"?
Aqui de madrugada e precisando dormir. Ah! mas me deu vontade de postar aqui a tradução que fiz de um poema de Federico Garcia Lorca. E outros que foram arrastados para a morte pela vontade de participar da liberdade de todos: Lorca José Marti. Neste poema, há o verde, mas um verde para encobrir o vermelho-sangue. De vez em quando vou postar um grande poema da humanidade, até completar uns cem. Alimento este desejo de fazer uma antologia com os maiores poemas da humanidade (na minha parca sensibilidade).

Então Federico Garcia Lorca:

ROMANCE SONÂMBULO
Tradução de Salomão Sousa

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura,
ela sonha na varanda
verde carne, cabelo verde,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Debaixo da lua cigana,
as coisas a estão olhando
e ela não pode olhá-las.

***

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
vêm com o peixe de sombra
que abre o caminho da alba.
A figueira arranha o vento
com a lixa de seus ramos
e o monte, gato matreiro,
eriça suas fibras acres.
Mas quem virá? e por onde?¼
Ela continua na varanda,
verde carne, cabelo verde,
sonhando no mar amargo.

***

Compadre, quero trocar
meu cavalo por sua casa,
meu arreio pelo espelho,
minha faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde os portos de Cabra.
Se eu pudesse, seu moço,
este trato se fechava.
Mas eu já não sou eu
nem já é minha a minha casa.
Compadre, quero morrer
decentemente em minha cama.
De arma branca, pode ser,
com os lençóis de holanda.
Não vês a ferida que tenho
do peito até a garganta?
Trezentas rosas morenas
leva teu peitilho branco.
Teu sangue respinga e cheira
ao redor de tua faixa.
Mas eu já não sou eu.
Nem já é minha a minha casa.
Deixai-me subir ao menos
até as altas varandas:
deixai-me subir!, deixai-me
até as verdes varandas!
Avarandados da lua
por onde estronda a água¼

***

Já sobem os dois compadres
até as altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremulavam nos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

***

Verde que de quero verde.
Vento verde. Verdes ramos.
Os dois compadres subiram.
O longo vento deixava
na boca um gosto raro
de fel, de menta e alfavaca.
Compadre! Onde está, dize-me?
Onde está tua menina amarga?
Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
de cara alegre, cabelo alegre,
nesta verde varanda!

***

Sobre a boca da cisterna
a cigana tremia.
Verde carne, cabelo verde,
com olhos de fria prata.
O gelo da lua, em pedaços,
ampara-a sobre a água.
A noite se tornou íntima
como uma pequena praça.
Guardas-civis bêbados
na porta golpeavam.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco sobre o mar.
E o cavalo na montanha.

Um comentário:

  1. maravilha essa ideia de postar classicos da poesia.
    quero seguir os proximos post.
    parabens!

    abç
    aline
    www.porelaabela.blogspot.com

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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

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