A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
1 de janeiro de 2009
Doloroso notar que alguns programas de televisão são tão sem escrúpulo! Acabei de ouvir a declaração final de Ana Maria Braga em seu programa do dia de Ano Novo. Nunca vi tamanho desserviço para a formação do humanismo. Prega a ausência da memória (jogue aquela foto fora), o egoísmo "egocêntrico" (você mesmo), a arrogância (não mudar para agradar o outro). Estamos na época de pregar a importância da história pessoal, de ajustar-se ao outro, agradar ao outro. Se não nos ajustamos com a diferença do outro, só podemos cair no deslavado abandono, no descarado rancor capaz de nos tornar tão deslocados na Humanidade que podemos virar assassinos totalitários, nazistas. O egocêntrico quer desocupar o mundo para existir só.
Pessoas que escrevem textos como estes do programa Ana Maria Braga nunca leram o conto "O pinheirinho", de Hans-Christian Andersen. Temos de sonhar com o mundo que podemos habitar, que conseguimos dominar com harmonia, e não aquele que vamos só impor nossa vontade sem respeitar a vontade do outro. No abandono — vamos simplesmente queimar como carvão.
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