Assim que foi lannçado, ouvi o disco "Chico", de Chico Buarque. Um disco lírico, de andamento lento, bem distante da música rítmica, ágil das baladas atuais. Um disco bem de um voyeur, sobretudo das mulheres (tremeluzir da saia). Talvez isso — o excesso de poeticidade em conjunto com a lentidão rítimica — ainda tenha trazido ainda mais dificuldade para a voz do Chco Buarque. Acredito que é um disco que precisava de mais convidados para que os músicos, e o próprio Chico, ganhassem em soltura. O Chico cantor está preso e, com isso, os músicos também ficam presos. Não há a leveza que os jazzistas conseguem em seus discos.
Mas o Chico, só de de dizer que existe, não é um velho. A música do Chico nunca será velha para os seus amantes. O que é seu velho, em arte? Ora, estar fora de seu tempo. Para a juventude, a música do Chico está velha, pois é uma juventude sem nenhuma causa, uma juventude só rítmica, movimento. E o Chico, não: é música. É palavra. Será que se aplica a ele o que Octávio Paz disse de José Vascocellos:
"Toda poesia se move entre esses dois pólos de inocência e consciência, solidão e comunhão. Nós, homens modernos, incapazes de inocência (a juventude de hoje talvez não venha nunca a saber o que é comunhão, observação minha), nascidos em uma sociedade que naturalmente nos torna artificiais e que nos despeu de nossa substância humana para nos converter em mercadoria, nós, honmens modernos, buscamos em vão o homem perdido, o homem inocente. Todos os esforços valentes de nossa cultura, desde o final de século XIX, estão direcionados para recuperá-lo, para sonhar com ele. Rousseau o buscou no passado, como os românticos; alguns poetas modernos no homem primitivo; Karl Marx, o mais profundo, dedicou sua vida a construí-lo, a recriá-lo... A poesia, dando voz a esses sonhos, nos convida à rebelião, a viver nossos sonhos enquanto estamos despertos. Isso aponta o caminho para a futura era dourada e nos intima à liberdade".
Octavio Paz já antecipou em outro texto: o homem moderno (jovem) não pratica mais a revolução ou a rebelião, mas só a rebeldia.
A cada dia que passa, amo mais Chico Buarque e amo mais Octavio Paz. Esse mundo só velocidade nos tira a poesia e, consequentemente, a liberdade, pois estamos sendo sendo empurrados para onde nem desejávamos.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
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