Sou filho do caminho, caravana é minha pátria e minha vida a mais inesperada travessia.
A tradução do poema foi a partir do espanhol
CELEBRAÇÃO DO DIA E DA NOITE
Adonis (Ali Ahmad Said Asbar)
O dia encosta a cancela de seu jardim,
lava os pés e se envolve em seu manto
para acolher a sua amiga noite.
O crepúsculo avança lentamente.
Há manchas de sangue em seus ombros;
em sua mãos, à beira de murchar,
uma rosa.
Ruidosa
avança a aurora.
Suas
mãos abrem o livro do tempo
e o
sol passa as páginas.
No
umbral do ocaso
o dia
rompe seus espelhos
para
conciliar o sono.
Os
momentos são ondas do tempo.
Cada
corpo uma praia.
O
tempo é o vento
que
sopra dos lados da morte.
A
noite veste a camisa da noite.
O dia a
descobre.
É a alba:
na
sacada as flores roçam os olhos;
na
janela,
ondeiam
as tranças de sol.
O dia
vê com as mãos;
a
noite vê com o corpo o corpo.
Se o
dia falasse,
anunciaria
a noite.
Suave
é a mão da noite
nas
tranças da melancolia.
O dia
não sabe adormecer
fora
do regaço da noite.
Concedeu-me
a minha tristeza
ser
uma contínua noite.
O
passado,
lago
para um único navegante:
a
lembrança.
A luz:
vestido
que às
vezes tece a noite.
O
crepúsculo: a única almofada
em que
se abraçam o dia e a noite.
A luz
só age desperta.
Só adormecida
age a escuridão.
Com os
sonhos da noite tecemos
os trajes do dia.
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário