Traduzi porcamente uma pergunta de uma entrevista concedida pelo poeta Juan Gelman, em 2011, por ocasião do lançamento de sua "Poesia Renida", pela FCE do México. Será que sempre teremos de falar em autoritarismo? Mas de espiritualidade, acredito, será sempre oportuno falar quando falarmos de poesia. Ela espiritualiza realmente o indivídupo, mas para uma "espitirualização social", "espiritualização de cidadania".
José David Cano:
Dizia o poeta argentino Roberto Juarroz: a poesia nos tornará livres. Essa sentença parece verdadeira e necessária hoje?
Juan Gelman (nasceu em 1930):
Eu não acredito. O que nos tornará livres é a luta social. Agora, a poesia, e em geral todas as artes, enriquecem de imediato o ser humano. É um fato: vivemos numa época onde se quer castrar a espiritualidade da gente; neste sentido, a poesia em particular, e a arte em geral, têm mais valor do que nunca. Porque são expressões que, queira ou não o autor destas expressões, dirigem, não por vontade própria pelo fato de existir ou não o autor, à sociedade. Enfim, são manifestações de resistências num mundo que, ademais, está mais mercantilizado, e onde cada vez mais quer uniformizar nosso espírito e converter-nos assim em terra fértil para qualquer autoritarismo. Talvez tenha sido sempre assim, mas eu acredito que hoje mais do que nunca, em meus 81 anos, e em comparação com épocas que vivi, parece-me que a arte e a poesia têm esse valor. Quando falo de épocas que vivi, refiro-me a épocas da adolescência, de juventude, de minha Argentina daquele momento. Mas não me refiro só a ela; depois de tudo, como disse o grande poeta argentino Paco Urondo: muitos de nós pegaram nas armas porque buscávamos as palavras justas.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário