26 de fevereiro de 2013

Ricardo Alfaya, obrigado pela leitura e a gentileza da bela manifestação crítica



Oi, Salomão,

Chegou hoje à tarde seu Vagem de Vidro.  É uma obra densa, complexa, de estrutura singular.  Um livro de poesia de fato diferente.  Vc realiza uma colagem de textos e imagens numa velocidade vertiginosa, explorando inúmeros efeitos surrealistas, a começar pelo título; a quebra ou mesmo eliminação da pontuação formal acarreta por vezes a sensação de estarmos diante de um hipertexto – por sinal, a influência da Internet no seu fazer literário se evidencia em vários momentos.  Alguns poemas marcaram-me mais, como o que fala em Ulisses.  Destaco também “E se todos nós  decidíssemos pela ausência?” -  Esse poema, aliás, caracteriza uma das tendências que percebi em seu estilo: a criação de uma espécie de universo à parte, totalmente feito de palavras (signos), em que tudo é possível.  Algum dos seus apreciadores notou, com propriedade, a presença de um tom um tanto solene, grandioso, em seu discurso; por exemplo, no poema que começa por “A palavra definitiva”, há algo de bíblico no discurso; e aquela história de “corpo que repartes” evoca a passagem bíblica mais conhecida do antigo Salomão – só que, no seu poema, quem entra em cena é Prometeu; a parte do corpo a sacrificar não é o filho, mas o heroico fígado.  Enfim, é uma poesia personalíssima, muito instigante.  Difícil pretender esgotar a riqueza de seus significados e possibilidades com um único e breve comentário.  Porém, fica aqui o registro, não apenas do recebimento do livro, mas também do prazer que essa primeira leitura me proporcionou.  Parabéns.

Um grande abc,
Ricardo Alfaya

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