30 de junho de 2012

Ronaldo Costa Fernandes

O ponto eletrônico do cotidiano está impedindo que eu e Ronaldo Costa Fernandes retomemos os nossos cafés em alguma livraria da cidade nalguma quinta-feira à tarde. No dia 25 de maio, ele lançou mais um livro de poesia. "Memória dos porcos" - título nervoso, no entanto, retrata o momento raivoso que o poeta bem que sabe mas não sabe em que atirar, em quê. O real e a linguagem estão em guerra com a Poesia. O poeta se confunde neste universo em mutação - vitrual e real, sem definir em que local cada um se fixará.Aí num mesmo ambiente o cemitério e a cantiga de ninar. Um poema do livro:

Minha foz não é de Iguaçu

A rotina muralha e dique das vontades.
Tudo comporta minha voracidade represada.
As hélices da liberdade
logo percebo são asas de borboleta,
lúbricas, mas aleatórias e divergentes.
O que me põe elétrico são as turbinas do sonho.
Em outros momentos, seco-me.
Desaba sobre mim o desânimo.
Não sinto nenhuma energia.
Só uma queda na seca.
Um arame de água
- o desconforto do abismo -
nada de mar vertical,
o drama de esperar
a catarata do tédio
as sete quedas da semana.




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