Ando sempre à procura de poetas que reforcem a galeria do túnel do tempo de nossa literatura. De repente, vejo alguns amigos saudando com euforia o livro "O idioma das sombras", de Simone Bacelar. Inicialmente, fiquei desconfiado. Poderia ser a saudação à autora, que tem atuação audaciosa e livre nas redes sociais. Mas eu não poderia deixar de conhecer o livro. Os meus amigos tinham razão: a poesia de Simone Bacelar é uma consistente, carrega identidade com os grandes poetas e com a legitimidade da lírica. Não se atrela ao comum realismo atual, de descrição do cotiano amoroso dos poetas; sem lamúria, e com legitimidade. Até traz um excesso de formalismo para uma autora nova. Talvez ela precise cristalizar ainda mais as metáforas, mas já deu tom maduro e definitivo logo de cara. Basta tirar as frases óbvias como "O amor não precisa ser bonito " ou inúteis convicções que só limitam a expressividade como "Hoje,". Não datar os versos, não localizar a narrativa. Deixar a expressão pura, um verso entrando no outro.
Vejamos uma quadra linda, mas melhor ainda se viesse sem o verbo de ligação "é", uma vírgula no lugar:
Mudar de cidade
é dobrar a esquina do tempo,
sem mapa, sem GPS,
só a bússola do peito.
A poesia enriquece com cortes e suspensões de palavras, e termos próprios de quem escreve como "GPS", que vem da geracão atual.
Parabéns à Simone Bacelar por chegar com um poemário rico, que enriquece a poesia atual.

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