Hoje podem me visitar com narrativas bem banais
A sobrinha Hariclia para passar a tarde
e poderá arremessar no lixo os meus livros
depois de contar a inutilidade da existência
de um talher quebrado, do fungo amarelo
que nas árvores e nos frutos enfeita as cascas
Não alegarei que tenho de visitar Hari
ou de denunciar o serralheiro a surrar chapas
sobre os telhados decadentes de uma viúva
Não usarei de subterfúgios para espantar o que chega
Quem for visita em Alexandria irá se sentar
em limpas cadeiras de veludo esfarrapado
e ouvirá os poemas Itaca e Deus abandona Antônio
Com uma visita não estarei abandonado
no frio hostil aos meus ossos, na rua com ameaças
ao voo do sanhaço assustado e faminto
A visita poderá rejeitar os feitos de Hafiz,
assumir que não há fome, que não há desejo,
o destroço numa encosta ou cajás grátis
só porque são ácidos e de entremeadas nervuras
Dourada sineta aguarda quem a acionará
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
27 de julho de 2019
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