30 de novembro de 2010

O falecimento de uma mãe



Ao Demetrius Cruz

O mais justo é o silêncio!
A mãe é uma grande flor no caule!
Ainda na intempérie, afaga.

Se se esgota o tempo da flor,
és o fruto.

Lídia Arantes Borges

A poeta e artista plástica Lídia Arantes Borges, que visitei em Piracanjuba com o amigo Herondes Cézar, lançou o livro de poemas  Navegando nas Ondas do Tempo. Não pude estar presente ao evento, e ainda não vi o livro.
O amigo Herondes Cézar voltou a Piracanjuba e esteve com a poeta. Ele escolheu os poemas que postamos abaixo. Vida longa aos poetas! E a amizade seja eterna!

AS ROSAS E AS GRAÇAS

Santa Teresinha das Rosas,
Santa Teresinha das Graças,
minha linda santinha
das rosas e das graças!

Primeiro virão as rosas,
depois as graças virão,
cai uma chuva de pétalas
que se espalham pelo chão!

Vou recolher as pétalas,
vou alcançar as graças,
as pétalas guardarei com amor
no meu cofre de latão.

Sempre que me achar sozinha
triste, triste a chorar,
vou lembrar-me da santinha,
terei as graças na mão!

A BANDEIRA DA PAZ

Lá vai o barquinho
com a bandeira branca,
símbolo da paz,
ao sabor dos ventos,
no mar de ondas revoltas,
singrando, singrando...

Ondas sobem,
ondas se quebram
e o barquinho continua
seja dia, seja noite,
rumo ao porto longínquo,
singrando, singrando...

Barquinho sobe,
barquinho desce,
vencendo procelas,
desafiando intempéries
e a bandeira permanece
tremulando, tremulando...

PALAVRAS QUE O VENTO TROUXE

Eu preciso de uma folha
em branco,
eu preciso de um lápis
ou caneta, agora.
É que o vento que passa
assobia
poesia,
palavras soltas
envoltas
em mistérios e
encantamento.

Pego uma folha invisível
e com os dedos da imaginação
tento gravar as letras
antes que se percam
na vastidão.

Ora, se eu tivesse um carvão
fosse aquele que restou
das fogueiras de Santo Antônio
ou São João
que versos tão lindos
eu iria transcrever.

Pena que o carvão
já virou cinzas
que o vento
e o tempo
espalharam pelos confins.

O ouvido bem atento
aos assobios do vento
consegui desvendar
na alma das coisas
o clamor da poesia,
suscitando sentimentos
que permeiam o nosso dia:
sonhos e realidade
na doçura das lembranças
no gosto amaro da saudade.

A VELHA PONTE

Velha ponte de tantos anos
quantas histórias tens para contar?
Muita água rolou sob ti,
cantarolando notícias
de outras paragens.

Com seu apito merencório
o trem passava,
estremecendo tuas bases,
soprando chispas de fogo,
soltando fumaças.

Hoje, és apenas o espectro
de um tempo que foi feliz.
E o trem de ferro?
Encolhido, enferrujado,
aposentado em algum canto,
tristonho por não ter mais
a chama de fogo
que o fazia viver,
por não mais apitar
acelerando corações.
O entra-e-sai dos passageiros,
o burburinho das estações,
o sorriso nos encontros,
as lágrimas nas despedidas.

Só o rio continua o seu percurso
suspirando ainda histórias
de novos amores.
E o ipê amarelo
às margens do rio
todos os anos floresce
em agosto e setembro
jogando flores douradas
sobre a velha ponte
enferrujada.

28 de novembro de 2010

Autógrafos do blog — José Carlos Pereira Peliano


Foto: Salomão Sousa
Se são pessoas com ação cotidiana de trabalhar, de fazer compras, de passear, podemos encontrar os poetas em todos os lugares. E nem haveria poesia se não houvesse um cotidiano onde os poetas agissem perto da natureza — se fosse diverso, a poesia seria insossa, insalubre, assim sem cor como um verme arrancado de um oco de pau. Sempre encontro o amigo José Carlos Pereira Peliano próximo da realidade, principalmente no ato de olhar, apalpar, escolher — como se fossem palavras — as frutas e as folhagens tenras na feira do CEASA. Encontro-o sempre com o maior ânimo diante da vida. Fazermos projetos nesses rápidos encontros, que, certamente, um dia cumpriremos.  

Autógrafos do blog - João Carlos Taveira

Quase semanalmente tenho o prazer de receber a visita do amigo João Carlos Taveira. Conversamos sobre poesia (a obviedade), música (outra obviedade), e, para fuga da obviedade, voltamos a falar de litetarura. Hoje ele escreveu na cadernetinha dos autógrafos do blog aqui com os meus netos querendo interferir na sua resposta. O Davi já foi enfático: o Taveira é meu amigo. Esta a importância do blog: fuga da necessidade de metalinguagem, pois é mais para metamizade. Deixo de incluir foto nesta postagem, pois, numa entrada recente, já registrei uma. E, aí pela internet, principalmente na página do Miranda, poderão encontrar muitos poemas de João Carlos Taveira.

21 de novembro de 2010

Autógrafos do blog — Maria Antonia

Foto: Salomão Sousa

Gosto das visitas inesperadas, pois assim quebram a nossa rotina, inserem algo para desestabilizar ou harmonizar o nosso tempo. No final dste sábado, o amigo Antonio Miranda chegou em minha casa com Maria Antonia Garcia Moreno, professoraa de Ciência da Documentação da Universidade Complutense de Madri. Ela fica em Brasília até meados de dezembro, pois está ministrando oficinas na Biblioteca Nacional de Brasília. Aproveitei para fazer esse enlace Brasil/Espanha registrando aqui o autógrafo dela, que se confessou apaixonada pela natureza de Brasília — os pássaros, as pessoas, as árvores — nas pequenas caminhadas que tem feito no centro da Capital. No seu afã de aprender o português, ela deixou uma frase valiosa no seu autógrafo: "com ganhas de re-voltar". Gañas (sem correspondente no português, como ela imaginou): ter desejo, vontade; e volver: voltar, retornar. Ela está no Brasil e já sente que vai ter vontade de retornar ao Brasil.

Mariposa


Não fui a Portugal colher flores
Vejo-as raras na velocidade
de um dia na cidade
de uma cidade tão perto das narinas
quanto o rio Tejo 


De um dia quase úmido quase acidez
no óleo e nas atrevidas buzinas
dos motoristas inquietos
Talvez os motoristas não entendam
que aquela em que estamos
é a cidade disponível
As tesourinha da cidade
aguardavam os pequenos insetos
da véspera da chuva
Os homens não sabiam aguardar
o sinal se abrir, a vez surgir
enquanto a tesourinha

era só um vulto silencioso no azul
Sempre aguardar a vez surgir
de ir a outro país colher flores
ou insetos
se levarmos nossa tesourinha

Enquanto aguardo o dia da ilha de Cetim
a mariposa quieta
pousada na guarda de meu teto
sem buzina para aturdir a noite


9 de novembro de 2010

Email do poeta João Carlos Taveira

Saloma,

       Realmente andas sumido. Que houve? Não dás mais as caras. Ontem, Miranda perguntou por ti e eu disse que não sabia, que havia dias não nos falávamos. O telefone celular é caro, mas o fixo ainda é viável. Espero que estejas bem. Abraços, Taveirovsky

Respondo:
Mas estou aqui, me sentindo também meio russo, também meio Salomonsky, pois distante das alegrias da escritura, a não ser pelas leituras. Terminei a leitura de "As aventuras do Sr. Picwick", de "A utopia", e talvez eu avance pela "Noite", do grande Érico Veríssimo. Agora, poesia, que é bom, anda arredia. Se bem tenha sido, a pouco, atropelado por uma borboleta amarela, que atravessou ilesa, à minha frente, o sinal fechado.

Mas ainda ontem ao chegar à rodoviária e me deparar com o Teatro Nacional, imaginei que o amigo Taveira, em caso de concerto, estaria ali com outros amigos comuns ao abrigo do céu fechado pela noite e pela ameaça de chuva.
Entrei na multidão e fiquei por isso mesmo, pois parti para minha casa.
Logo nos veremos
Abraços.
Salomão


O amigo Taveira na foto

5 de novembro de 2010

Fela Kuti

Estou apaixonado por Fela Kuti. Sua história de resistência política, e de uma música irmã de Miles Davis, Frank Zappa, Bob Marley. Um ícone no meio do caminho. Acaba de sair na Europa, pela Wrasse, mas vendida nas boas lojas virtuais, uma caixa com todos os seus discos. Estou doido para que chegue a minha, pois já fiz a minha encomenda. Veja um vídeo com a sua música.


Video Yutube

4 de novembro de 2010

Autógrafos do blog — Wilson Pereira


Foto: Salomão Sousa
(sempre clicar na imagem para ampliá-la)

Wilson Pereira é poeta sempre solicitado para os encontros literários e para comparecer às escolas, pois, além de a maioria de seus poemas fazerem alusão à infância, articula-se bem com o público. Quando ele não está presente, sempre alguém perguntará: cadê o Wilson Pereira. Fui encontrá-lo hoje também no shopping Conjunto Nacional no horário do almoço. Os poetas também almoçam e olham vitrines. E, sempre, compram livros. Quase não consigo postar a foto do Wilson Pereira, pois, com a falta de padronização dos cabos dos diversos aparelhos eletrônicos, a cada dia se torna mais impossível localizar o cabo de que precisamos para determinada máquina. É mais fácil achar uma palavra para uma sonoridade do que um cabo. Se algum autógrafo não vem acompanhado da foto do autor — assumimos — a culpa é minha. Nem sempre me lembro de acionar a máquina. Assim, aos poucos, iremos aumentado a galeria dos autógrafos — para não esquecermos que a assinatura ainda é um dos nossos melhores DNAs.  Tenho uma caixa cheia de cartas — Drummond, Jorge Amado... Quem sabe, nalgum momento, eu venha a postar alguns destes autógrafos.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...