30 de setembro de 2010

imitação do vento

num porto que se desfaz em areia
se expoem ao desamparo as falésias
constroem trilhas abrem fendas
as mãos de um vento que não descansa

as velas levam os pensamentos
não me lembro se uma corrente
me trouxe rumos brancos
ou a fera inútil ao meu leito
se uma criança acorda
num país tão perto da bonança

ainda que fosse outro no barco
o vento não iria esquecer as orlas
as águas não prometeriam chegarem mansas 
ainda que se esqueça ou que se lembre
tem muitos barcos a esperança

26 de setembro de 2010

flor de mandacaru em Morro Branco

Foto: Salomão Sousa
Só para colorir o blog, flor de mandacaru que fotografei em Morro Branco (CE)

"Estive em Águas Belas
e fiquei sem pensamentos.
Levou-os o vento."

23 de setembro de 2010

Mais uma importante livraria do Brasil vai cerrar as portas

Foto: Maria Antonieta Bezerra e Salomão Sousa

Em visita a Fortaleza agora neste final de setembro de 2010, estive na Taberna Livraria acompanhado dos escritores Nilto Maciel e Pedro Salgueiro, e fomos informados por Maria Antonieta Bezerra, proprietária da livraria, que brevemente entrará num processo de liquidação de algumas áreas dos 17 mil volumes do acervo até o encerramento total das atividades do estabelecimento.

A Taberna Livraria – mais antiquário que sebo, pois está voltada para um acervo mais seletivo – está em atividade há doze anos.  Antonieta, ao esclarecer que a livraria Taberva nunca foi um grande empreendimento, talvez pela falta de seu tino comercial, não se aventura a apresentar causas específicas para o acelerado processo de fechamento das livrarias brasileiras. Ela, que é bibliotecária aposentada, disse que já assistiu várias crises que ameaçaram a existência do livro. Primeiramente, a microfilmagem, que acabou ficando restrita aos jornais; depois, a xerox (relembra que conheceu a primeira Xerox do Brasil, em São Paulo, que enchia toda uma sala). E, a última crise, a chegada do computador −, “mas não acredito que o livro digital vá acabar com o livro. Primeiro pelo preço do leitor do e-book, e ainda pelo sabor do livro impresso que o e-book não tem”.

A Taberna Livraria funciona numa casa de propriedade de Maria Antonieta Bezerra, com instalações acolhedoras, que as grandes redes não conseguem mais oferecer, pois o moderno consumidor não tem mais oportunidade de sentar com o livreiro, discutir as edições e os títulos dos livros, e nem mesmo tomar um cafezinho num ambiente de familiaridade. Eu, Nilto Maciel e Pedro Salgueiro ficamos na sala especial de Antonieta, conversando por quase duas horas.

Maria Antonieta Bezerra, que faz questão de dizer que não é uma bibliófila, é uma das oito primeiras bibliotecária do Ceará, que foram enviadas ao Rio de Janeiro por Martins Filho, da Universidade Federal do Ceará, para fazer o curso. Depois do encerramento das atividades da livraria, Antonieta deseja desenvolver algum tipo de trabalho voluntário, mas não área cultural, apesar de reconhecer que Fortaleza precise de uma orquestra sinfônica, de um corpo de balé, entre outras carências culturais. Ela relembra que a sua relação com o livro vem desde a infância, pois sempre gostou de ler (na livraria, ela mantém uma estante fechada com os livros pessoais, que inclui Rilke, Tolstoi, Thomas Mann).  Ela relembra uma das maiores emoções de sua visita: visitar, na Alemanha, o Museu Gutemberg, e ver com encantamento a Bíblia de Mogúncia; e afirma que, por não ter paciência de abrir o dicionário, deseja ter um leitor de e-book só para consultar com mais facilidade o dicionário e ler Bíblia. 

Viagem a Fortaleza

Foto: Nilto Maciel, Pedro Salgueiro e Salomão Sousa na oficina da Taverna Livraria.


Os amigos Nilto Maciel e Pedro Salgueiro me salvaram em Fortaleza. Eu queria conhecer as livrarias da cidade e só conseguia localizar quiosques de venda de livros didáticos ou de ponta de estoque. Depois de passarmos uma tarde na Taberna Livraria, Pedro Salgueiro me levou à Livraria Arte & Ciência, que está localizada no bairro Benfica. Esta livraria funciona em dois andares, com livros novos e usados. E bom acervo. E uma linda atendente de olhos azuis.

Agradeço ao Nilto Maciel e ao Pedro Salgueiro a oportunidade de viver estas aventuras na capital do Ceará, inclusive a troca do pneu furado. 

Volto para Brasília com os livros do Pedro Salgueiro e de exemplares das revistas Para mamíferos e Caos portátil, por ele dirigidas. Além da antologia Contistas do Ceará, organizada por Nilto Maciel. De imediato, a revista Para mamíferos me encantou pelo conteúdo e pela visualidade; e, também a antologia do Nilto Maciel, que não se limita a trazer os contos, mas enriquecida de estudos críticos e históricos de cada antologiado.

O Ceará é o Ceará. Como disse o ultimo taxista da noite, mesmo que a fala dele tenha coincidido com o momento em que passávamos por linda garota se prostituindo na orla da cidade: “fui abençoado de ter nascido no Ceará”.

13 de setembro de 2010

Kipling

Terminei de ler hoje o romance "Bel-Ami", de Maupassant. Leitura gloriosa! De uma temática de contundente atualidade, pois trata da inescrupulosidade humana. Melhor só Ivan Ilitch, de Tolstoi.

Estou lendo o conto "O homem que queria ser rei", de Kipling, na edição que está sendo lançada nas bancas pela editora Abril. Belíssima coleção, em pano, impressa na Itália, e a preço módico. Interrompo a leitura para transcrever uma frase do conto, que é de um verdadeiro poeta:

"Ouro eu vi, e turquesa chutei na rocha, e tinha granadas na areia do rio, e aqui está um pedaço de âmbar que um homem me trouxe."

Todas as coordenadas trazem o nome de uma pedra preciosa, inclusive a "granada". O ouro contido nas palavras vai desaparecendo da narrativa contemporânea! 


10 de setembro de 2010

Teklando com o poeta e amigo Sóter

Sóter: olá, salomão. com vai?


Salomão Sousa: estamos aqui, sonolento, após assistor um Woody Allen

E você? Na fazenda!

Sóter: nada. tô qui no entre lagos, mesmo.

e vc. escrevendo muita poesia?

Salomão Sousa: mais ou menos. tenho trabalhado muito.

já que poesia não é trabalho.

Sóter: é. estou terminando um novo livro, pra comemorar os 50 anos de brasília. deve sair antes do fimdo ano.

Salomão Sousa: eu também estou com um pronto, mas me atrapalhei na captação de recursos do FAC.

depois eu vou ver como viabilizo financeiramente o projeto.

b urocratizaram depois o FAC, mil e uma exigência, fichas, o diabo a 4.

Sóter: eu nunca utilizei recursos do fac. um dia desses estava na secretaria e procurei saber como participar e me deram umalista de burocarcias a romper e... como nãotive tempode voltar, até hoje não sou cadastrado.

Salomão Sousa: o cadastro é o mais fácil.

eles precisam partir para outro sistema.

selecionar o material e fazer uma única tomada de preço.

o autor não tem que ficar prestando conta, preencehndo isso e aquilo.

é um vexame.

Sóter: temos que fazero gdf cumprir a lei e relançar oprêmio brasilia de literatura...

Salomão Sousa: estamos reivindicando muito pouco.

Sóter: vc se lembra que eu fui oo responsável pela regulamentação em temnpo recorde da lei? tb fui responsável por duas edições do pr~emio. depois o roriz assumiu e engavetou a lei...

Salomão Sousa: aparecendo muito pouco.

participando menos ainda.

só mudam para complicar.

Sóter: eu vou viabilizara publicação do meu por outros meios.

Salomão Sousa: os promotores, em vez de caçar complicações onde elas existem, ainda emprerram a cultura.

Sóter: talvez eu faça a publicação e distribuição pela lge. vc já teve algum trabalho executado por eles?

Salomão Sousa: Não. Mas muitos fizeram. Acredito que eles até que distribuem bem, em se tratando de Brasília.

Sóter: o navarro me disse que faz distribuição nacional...

Salomão Sousa: acredito que sim. tenho visto os livros da lge em todas as redes.

precisdamos tomar um café numa hora destas. ou almoçar.

tem mexido com rádio ainda?

Sóter: estou às voltas com a realziação de 27 congressos estaduais e um nacional de radios comunitárias... uma trabalheira só.

Salomão Sousa: tem funcionado a regulamentaçaõ das rádios comunitárias?

Sóter: já temos 4062 emissoras autorizadasem todoo brasil.

Salomão Sousa: o rádio ainda é um grande instrumento.

a minha cidade, silvânia, mudou depois da instalação de uma rádio.

Sóter: eu sei. a maioria dasciaddes do interiro tem uesse divisor de águas: antes e d epois daradio.

saiu truncado: a maioria das cidades dointerior tem esse divisor de águas: antes e depois da radio.

Salomão Sousa: é curiosa essa linguagem da internet. tudop é permitido e compreendido.

Sóter: eudigito muito rápido e às vezes troco as letras de lugar...rsrsr

Salomão Sousa: falar em permitido. vamos publicar essa maçaroca de nosso diálogo no meu blog? autoriza? assim o nosso encontro fica registrado.

Sóter: fica à vontade. peraí. como o meu livroé umahomenagemaos 50 anos de brasilia, vc não querescrever um textinho testemunhal pra mim.

Salomão Sousa: como assim? no blog?

terei o maior prazer.

Sóter: não. pra o meu livro.

Salomão Sousa: será uma honra. é só mandar o livro.

tá pensando em fazer em formato mais alternativo, como nos tempos da marginália ou será em formato e apresentação mais standard?

preciso estar preparado para esta questão.

Sóter: não sei. deixei oprojeto gráfico por conta do zé nobre. devrá ter uams 100 páginas.

Salomão Sousa: então será coisa fina.

não quer acresntar um poema a essa conversa para que ele fique no meu blog?

assim o projeto começa a progredir.

isto é, se o blog tiver alfum leitor.

vai continuar assinando só Sóter, ou vai acrescentar mais algum nome.

Sóter: com prazer: EUS eu era muitos... ainda me preservo alguns... outros?... um bom vinho embalou. outros?... mirella alinhavoucom fios de gestalt.outros!!!!...


EUS
eu era muitos...
ainda me preservo alguns...
outros?...
um bom vinho embalou.
outros?...
mirella alinhavou

Salomão Sousa: EUS

Sóter: com fios de gestalt./ outros!!!!...

Eu: eu era muitos...

ainda me preservo alguns...

outros?...

ótimo

Sóter: vc já tá bom nessa ferramenta, hem!!! outros?.../ mirella alinhavou/

Salomão Sousa: mais ou menos

Sóter: oqueacjhou dopoema? publicável?

Salomão Sousa: pra ir encerrando. alguma lembrança ou recado ou mensagem para deixar no blog?

junto com essa conversa

Sóter: as lembrabnças são muitas. tbmais de 30 anos de brasília e de vivência com vcs que fizeram a fazem a identidade cultura da cidade, né?

Salomão Sousa: e a sua poesia é parte disso e todos os seus textos são publicáveis. ela está dentro de uma vertente especial, ágil, necessária, e que precisava dar mais frutos palpáveis. estamos carentes de novos valores. até que existem aqueles que escreve,, basta ver os blogs. mas não estão vindo pra rua. tivemos um bom tempo de corpo a corpo, e agora está tudo dehntro da rede, webs e bits.

só uma comunicação solitária ou unilateral, como fazemos agora, nesse momento, nessa maçaroca incorrigível.

Sóter: qual é o seu email pra eu lhe enviar a boneca do livro?

Salomão Sousa: era bom cheirar a tinda xerox, o álcool do mimeógrafo.

mas é bom o visual florescente dos poemas no vídeo. tudo se ajusta, obrigatoriamente a linguagem.

Sóter: pois é. nessa eu me lambuzei todo no mimeógrafo a tinta e nas capas em silk.

Salomão Sousa: vamos nos despedindo?

fico aguardando o livro.

Sóter: tem umas ferramemntas que dá p´rafazer uns livros virtuais muito maneros. cheiode feitos sonoros e de imagens. mas... não curto não. prefiro o livro analógico.

Salomão Sousa: e vou organizar o tetxo para publicar no blog.

mas é um mundo sem volta. o e-book chegou para ficar.

Sóter: boa noite.

qualé o seu blog?

Salomão Sousa: www.safraquebrada.blogspot.com

Sóter: voiu visitá-lo antes d edormir.

Salomão Sousa: depois combinamos um tete-a-tete.

boa noite

6 de setembro de 2010

strass

Pelo estrugir do engarrafamento passar
como as águas que moveram o moinho

Esquecer de esquecer o sussurro sobre
o amante playboy da Cibele
Depois de não ter dúvidas de conhecer
o namorado que morreu sem pagar as dívidas
andar pelo shopping cheio de strass

Não será mais a antropologia
de juntar cacos e contar ripas
e se enfiar debaixo da cerca do stress
Ainda mais que atravessou a fronteira
o amigo que levantava o arame em Tamaulipas

Virás 
Em tua pele incrustar um Rivera
um crustáceo de um mar íntimo
Aparecerão tuas virilhas quando
assim que quebrados os vidrilhos
Tanto faz Levi-Strauss em nosso gás

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...