20 de agosto de 2008

Um poema construído após um diálogo com Gardênia Holanda Maciel
sobre a necessidade de montagem do poema acima da datação do real:


Está incompleta a boca.

Esqueceu o vértice de uns ombros,
da prata de uns umbrais.
Da possível palmatória na hora do crime,
das algas já em águas claras.

Não se lembrou do instante de inclinar
a palavra — a palavra que liberta o escravo.
Esqueceu de enfiar outra saliva
na travessia de uns umbrais.

Abandonou o sopro
diante do que dizer.
Se achou florida a calêndula,
deixou-se lêndea escrava nas escarpas.

Estão fundadas as ruínas de calar .

8 de agosto de 2008

Acabo de receber um email carinhoso do amigo Donaldo Mello:

Prezado Salomão Sousa,

na mesma ocasião em que não poderia comparecer à sua palestra na ANE, felizmente que, presenteado pelo poeta A.C. Osório com o vol. 18 da Revista da Academia Brasiliense de Letras (2005), no dia da posse do Taveira, seu belo texto atemporal A perene aurora de José Godoy Garcia a mim chegou. Li-o comovido, apreciando o desvelar contínuo de um homem (amigo), de um autor e sua vasta obra, provavelmente fruto de um grande poeta e fundo pensador da vida, regido pela natureza e suas imprevisibilidades.Portanto, continuando a ser seu leitor, aprendi um pouquinho mais sobre a poesia goiana e sabedoria de um grande poeta: "perene aurora". Ele, capaz de ensinar como Sêneca propunha, que a felicidade consiste em se adaptar à natureza ( "a poesia é tudo o que pássaro pensa da chuva") para manter um equilíbrio que nos deixe a salvo das vaidades da fortuna e dos impulsos do desejo que obscurecem a liberdade.Meu abraço fraterno e cumprimentos pelo seu fidelíssimo canto de bem querer, Donaldo Mello

7 de agosto de 2008

Nesta noite, às 20 horas, farei uma palestra na sede da Associação Nacional de Escritores sobre a poesia goiana.
Enquanto isso, termino a leitura do romance "Hard Times", de Charles Dickens, na edição espanhola da editora Catedra. Este romance foi traduzido uma única vez no Brasil — tamanha é a indiferença do mercado editorial entre nós. Na Espanha, são doze traduções, quase sempre com três edições cada uma delas. No mínimo. É uma crítica ao Utilitarismo, às relações humanas, ao confronto entre patrão e empregado. São temáticas amplas, mas interligadas. Se hoje não temos o Utilitarismo, temos o Egocentrismo — que vem a dar no mesmo —, pois o indivíduo se preocupa excessivamente consigo, com o enriquecimento, solapando as relações sociais. "Tempos duros" — talvez fosse uma boa tradução — ou melhor: "Época Dura Nestes Tempos".

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...