27 de dezembro de 2022

Alguma memória de minhas atividades literárias em 2022:

Comecei o ano de 2022 com este texto, que vale também para 2023:

Ler é a melhor maneira de avançarmos em nosso humanismo, com experiências emocionais, históricas e civilidade. Quem lê, vai se preocupar bem menos com armas e em chutar outro homem. Mereça o título de humano, leia. O rato não lê e não escreve.

Às vezes julgamos que não fizemos muito, quando vamos fazer o levantamento de nossas atividades ao final de um ano que termina. As paisagens são quase sempre as mesmas, os percevejos aparecem sempre nas mesmas árvores e nas mesmas camas. No entanto, o olhar refaz o ângulo e tudo parece que está em novas vagens. Não me espanta nem mesmo ter sido apagado pela Wikipédia sob o argumento de que se trata de “personalidade sem relevância” – dá o título de um livro de memórias. Sofri bastante com as ameaças totalitárias, mas resisti com angústia, pois o Brasil não merece a desonestidade de pessoas de boa índole, que passaram a apoiar a insanidade. Me perguntei sempre: amigos ficaram também insanos? Mas a poesia sempre me trazendo conforto... Perdi a minha mãe, o meu primo Sansão, que foi um dos raros amigos de minha infância, além de amigos, como Alan Vigiano. Mas mantenho a esperança nos novos tempos. Para que esses novos tempos floresçam, plantemos confiança, afeto e mãos empenhadas em participar da construção. Confiemos em nossa capacidade de contribuir para que os novos tempos correspondam à nossa esperança. Juntemos já as nossas mãos.

Participei das seguintes publicações:

1) Em agosto, no Jornal da ANE, publicação do meu artigo “Os pulmões cheios de Gás Lacrimogêneo”.

2) 2° número da Revista da Academia de Letras, Artes e História de Silvania (ALAHS), publicação de poemas de minha autoria.

3) Revista nº 7, da Academia de Letras do Brasil, publicação do meu artigo “Legado de resistência de Cecília Meireles”.

4) Já está pronta a antologia Brasilidade, do Coletivo de poetas, organizada por Menezes y Moraes, para lançamento na abertura de 2023. São três poemas de minha autoria.

5) Coletânea Poesia Salva, Salve Poesia!, organizada por Valter Silva, com três poemas de minha autoria.

6) Antologia Cena Poética 8, publicada em BH, organizada pelo amigo Rogério Salgado a oportunidade de participar da antologia com três poemas.

7) Antologia Tempos adversos, organizada pelo Celeiro Literário Brasiliense, com lançamento de gala. Brasília-DF, também com dois poemas.

8) Antologia Poemas e poetas na Ilha da Magia, pela editora Artecultural, Florianópolis, também com dois poemas.

9) 28. 6 – Circulou meu artigo Consciência e trapaça ou até quando Mr. Hide?, no site Jornal Opção, editado pelo amigo Euler Belém

10) Permiti a publicação integral de dois livros de crítica no Jornal de poesia, portal pioneiro de divulgação da literatura brasileira, com prioridade na crítica e na poesia. É uma honra participar desde o início desse projeto vitorioso, mantido heroicamente por Soares Feitosa.

Alguns eventos:

1) Na Live INSTAPOESIA, do Programa Cruzeiro em Letras, outorgou-me certificado por justa distinção literária. Agradeço ao Pietro Costa a homenagem.

2) Descobri que desde 2019, circula a terceira edição do histórico livro A Poesia em Goiás, de Gilberto Mendonça Teles. A primeira edição é de 1964 - eu ainda estava sendo alfabetizado. Só agora tive acesso à essa nova edição e pude notar que fui mencionado no novo prefácio preparado pelo autor. Notei um erro na edição: os autores mencionados no prefácio não estão relacionados no índice onomástico. Uma pena, pois as menções aos novos autores terão de ser localizadas no ato da leitura.

3) Na edição de fevereiro do Jornal da ANE, saiu a resenha de Sônia Elizabeth Nascimento Costa “As biografias espalhadas pelas páginas de Cascos e Caminhos”.

4) 12.4 - Leonardo de Magalhaens apresentou minha poesia no Youtube, belo estudo do meu livro Vagem de vidro. Gratidão eterna! O artigo está publicado no blog https://leoliteraturaescrita.blogspot.com/2022/03/vagem-de-vidro-poesia-adensada-de.html?m=1&fbclid=IwAR2GEHurcvUGP29uwq8A0F2uKo6v582-zdJ046qeqwm0Q4W66LfxBOdTSzw

“Assim um von Schiller, um von Goethe, um Victor-Hugo, um de Balzac, um Thomas Mann, um Hermann Hesse, um Drummond de Andrade, um João Cabral de Melo Neto, um Ferreira Gullar, um Antonio Miranda [1], grandes autores por serem grandes leitores, atentos e vorazes, e assim um Salomão Sousa, com vários títulos com sua autoria, desde final dos anos 1970. Vivendo entre livros, nos corredores de estantes e volumes convidativos, pronto para acessar letras e linguagens, outras épocas e universos./ Assim a obra Vagem de Vidro [2013] enquanto exemplo de leituras acumuladas, intertextualidade, metaliguagem em muita erudição. De faro, podemos adentrar os mundos da mitologia greco-romana, ou das narrativas bíblicas, com soberanos egípcios, ou reis babilônicos, e também poetas renascentistas, primeiras utopias, e até agências de espionagem. Eis aqui uma Obra a completar uma década e merecedora de uma leitura atenta./ Os temas sobre os quais se dedica os poemas densos de Vagem de vidro são os mais variados. As preocupações do Autor são muitas, desde a condição humana a metafísica, desde a vida rústica a correria nas cidades, desde as figuras mitológicas aos labirintos do dia-a-dia. Sem mencionarmos os metapoemas... Aqui faremos alguns recortes, destacando alguns em lugar de outros. Longe qualquer possibilidade de tratar aqui de todas as cores e as nuances do arco-íris./ É a partir de imagens selecionadas do cotidiano, em flashes e polaróides, cuidadosamente recortados e colados que o Poeta apresenta a nossa condição, ou melhor, a Condição humana, sempre diante de algo lá fora, cercado de mercadorias e promessas, entre os direitos e os deveres.”

5) 21.04 - Uma leitura de meu livro Bifurcações, pela escritora Amanda Kristensen. Não há nada mais valioso para um escritor do que ouvir: “Quero levar a sua obra para onde eu for!”.

6) 29.02 – Publicação do meu poema “O grão seco” no jornal Poiésis, por Camilo Mota.

7) Compareci ao lançamento do livro Trem da memória, com a bela poesia de Nirton Venâncio.

8) Compareci ao lançamento do livro Assim não vale, com a poesia de Noéla Ribeiro.

9) Compareci ao lançamento do livro O itinerário do curativo, com a contínua poesia de Nicolas Behr.

10) 2.12 - Mostra Visual de Poesia Brasileira - Poesia em Movimento - Curadoria do poeta Artur Gomes, na Biblioteca Municipal de São Francisco de Itabapoana-RJ;

11) 3.4. - Circulou no portal O Jornal Opção, editado em Goiânia por Euler Fagundes De França Belém , um artigo de João Carlos Taveira , que muito honra e dá transparência à trajetória de minha atividade de poeta. O artigo também foi publicado no Jornal da ANE – Associação Nacional de Escritores, edição de Junho.

12) 21.10 - Compareci à Bienal do Livro. Está no parque da cidade. Esqueceram de criar facilidade para quem chega de ônibus. O visitante se desloca da parada de ônibus e dá de cara numa portaria fechada e tem de dar volta ao pavilhão. Essas coisas precisam ser pensadas e executadas. Era melhor catraca. Tirar ingresso dificulta para o visitante. É preciso facilidade e não dificuldade. A Bienal é feira de livro e é necessária.

13) 14.12 - Quinta-literária na Associação Nacional de Escritores, com palestra de Sandra Maria Fontoura Queiroz abordando a poesia feminina de Goiás. Reencontro com as Rosy Cardoso Rose e Elizabeth Abreu Caldeira Brito.

14) 7. 10 – Compareci à Associação Nacional de Escritores para o lançamento do livro sobre Dostoievski, de Vera Oliveira. Encontro com os amigos José Anchieta Oliveira e Nirton Venancio . Aproveitamos para desanuviar a tensão com conversa profunda.

15) 11.8 – Compareci ao lançamento do livro A invenção do passado, do amigo Ronaldo Costa Fernandes, na Associação Nacional de Escritores, oportunidade de encontro com o amigo Wil Prado, grande romancista.

16) 26.6 – Participação do recital do Coletivo de Poetas, com Ádyla Macial, no Digitalina. Curadoria de Menezes y Moraes e minipalestra de Jorge Amâncio.

17) 18.6 – Comparecimento à Feira do Livro de Brasília -- Um dos eventos mais necessários para uma cidade é um feira de livros. Acho até que as cidades deveriam ter feira permanente de livros. Para incentivo à leitura, às conversas culturais, aos encontros amigos.

Fui duas vezes à Feira do Livro de Brasília. Ela tem de passar por uma total reformulação. A feira tem de estar integrada ao calendário de eventos da cidade para que a sua organização ocorra de forma permanente. A feira vem ocorrendo de forma improvisada, com total descaso dos governantes. No improviso, não há tempo para definição dos livreiros participantes, não há tempo sequer para montagem dos estandes e mesmo para montagem do pavilhão. Os feirantes e os visitantes ficam expostos ao sol e, se chover, os livros irão à deterioração. Uma garota passou a mão sobre um livro e achou que ele emanava calor, pois não viu que o sol incidia sobre ele. O livro emana calor, mas não merece exposição direta ao sol. Ninguém sabe quem vai expor, o restaurante é um fracasso e sequer funcionou no primeiro dia. O que vemos é a exposição dos mesmos livros em todos os estandes. Não há diversidade. Os livros ofertados são os piores do catálogo nacional. A feira tem de atrair expositores com diversidades. Não é só a questão do desconto, da gratuidade do livro, mas também do livro raro, do livro belo, novo, bem acabado. Um expositor de livros em outras línguas. Quero a feira anual, mensal, permanente, mas com diversidade e um espaço agradável à visitação. Não sabemos quais palestrantes estão convidados. Não há um site para consulta. Ainda teremos essa feira imaginária e necessária. Com computadores na entrada para consulta do espaço, com pessoal para recepção do visitante. Contamos com um futuro governo que entenda essa necessidade e compreenda a importância do livro ao sol, mas o sol que leva luz à imaginação. Mas todo livro tem sua luz para dar.

18) 1.6 - Escrevi um haikai, que fica perdido por aqui:


Esteja atento à natureza.
Os insetos mais estranhos aparecem
nos melhores palácios.


19) 23.3 – Assisti ao "Drive my car", filme japonês que concorre ao Oscar. Foi oportuno assisti-lo, pois seu existencialismo, construído a partir da peça O tio Vânia, de Tchekhov, nos leva a lembrar que a existência é construída com maldades paralelas e que, em algum momento, as culpas e dores serão reconhecidas e deverão ser perdoadas. Hoje eu assisti outro filme que concorre ao Oscar como documentário. O indiano "Escrevendo com fogo", sobre um jornal digital mantido com resistência só por jornalistas mulheres. Comovente. A borboleta não tem nada a ver com a postagem, apenas estava à beira do caminho do meu passeio vespertino perto da linha de trem que contorna a minha quadra.

20) 8.3 - Participei da Live da Academia de Letras do Brasil, com Anderson Braga Horta, Marcos Freitas, Kori Bolívia, Márcio Catunda e Flávio Kothe. Fiz uma pequena introdução sobre poesia e li 4 poemas novos sobre o nosso conturbado tempo de conflitos.

21) Fui reeleito como tesoureiro da Academia de Letras do Brasil;

22) Fui eleito como Diretor de Biblioteca da Associação Nacional de Escritores.

23) Ricardo Alfaya manifestou-se sobre meu livro Vagem de vidro:

“Chegou hoje à tarde seu Vagem de Vidro. É uma obra densa, complexa, de estrutura singular. Um livro de poesia de fato diferente. Vc realiza uma colagem de textos e imagens numa velocidade vertiginosa, explorando inúmeros efeitos surrealistas, a começar pelo título; a quebra ou mesmo eliminação da pontuação formal acarreta por vezes a sensação de estarmos diante de um hipertexto – por sinal, a influência da Internet no seu fazer literário se evidencia em vários momentos. Alguns poemas marcaram-me mais, como o que fala em Ulisses. Destaco também “E se todos nós decidíssemos pela ausência?” - Esse poema, aliás, caracteriza uma das tendências que percebi em seu estilo: a criação de uma espécie de universo à parte, totalmente feito de palavras (signos), em que tudo é possível. Algum dos seus apreciadores notou, com propriedade, a presença de um tom um tanto solene, grandioso, em seu discurso; por exemplo, no poema que começa por “A palavra definitiva”, há algo de bíblico no discurso; e aquela história de “corpo que repartes” evoca a passagem bíblica mais conhecida do antigo Salomão – só que, no seu poema, quem entra em cena é Prometeu; a parte do corpo a sacrificar não é o filho, mas o heroico fígado. Enfim, é uma poesia personalíssima, muito instigante. Difícil pretender esgotar a riqueza de seus significados e possibilidades com um único e breve comentário. Porém, fica aqui o registro, não apenas do recebimento do livro, mas também do prazer que essa primeira leitura me proporcionou. Parabéns.”


24) 25.02 – O poeta Gerson Pereira Valle, que mantém sempre atenção crítica à literatura de seu tempo, apresenta esta resenha sobre nosso último livro. Faltam-me palavras que possam expressar o meu agradecimento, mas sobra emoção pela manifestação de tamanho carinho por nossa obra.

O poeta Salomão Sousa é um dos marcos literários da capital federal. Sua poesia possui uma originalidade marcante. Neste ano em que se comemoram 100 anos da Semana de Arte Moderna, que quebrou os cânones do então parnasianismo, Salomão Sousa merece um exame melhor de sua obra, quando se constata a liberdade do verso encaminhá-lo ao mesmo tempo que para metáforas e outras figuras como para a narrativa ou reflexão mais encontradiças na prosa. Mas, que nele ganham a graça de uma espontaneidade que traz em si o diferencial poético numa forma em nada tradicional. Em 2022, Salomão Sousa publicou um livro em que apresenta sua redação caminhante para várias direções entre a poesia e a prosa, “Bifurcações – memória, resistência e leitura”, Baú do Autor, Brasília. Há poemas em várias páginas, como há artigos, resenhas literárias, crônicas e mesmo ensaios. Mas, dentro de seu estilo de poesia de destacada liberdade e fruição lírica os textos não expressamente poéticos deles não destoam na continuidade da leitura, dando-lhe, ao contrário, uma benfazeja impressão de repouso, para logo prosseguir nos raciocínios e observações várias em prosa. Tal como um míni-poema-em-prosa que encabeça uma página solitariamente, e que parece referir-se à própria concepção de obra: “Nunca perdemos nada, simplesmente passamos para outra realidade, com experiências adversas aos nossos desejos. Talvez o trem tenha entrado na bifurcação errada.”

As composições passeiam entre observações personalíssimas sobre o “algoritmo”, por exemplo, “Acabar com o xingamento ajuda a Civilização”, “Processo crítico em tempos de legalização da mentira”, neste último já se aproximando de posicionamentos políticos como em “O que é um fascista?” onde perpassa por obras de, entre outros, George Orwell, Hanna Arendt, Theodor W. Adorno, “Exercícios para exorcizar o autoritarismo”, com afirmativas como “Sempre que alguém insulta, vitupera, ameaça, xinga e chuta ou se julga dono de toda cognição, deixa em dúvida se não esconde uma cauda sobre as vestes”. Em “Para não chocarmos com o fracasso” nos coloca diante da crise política observando que “O mundo está degradante por irmos desaprendendo a amar, pois falar em perda do humanismo não é suficiente”.

Memorável é o artigo “Legado de resistência de Cecília Meireles”, que deveria ser divulgado largamente com o fim de propagar a vida e obra da grande poetisa e educadora. Apresenta a colaboração jornalística perseguida no Estado Novo, junto ao trabalho desenvolvido com o educador Anízio Teixeira. Suas viagens, seu conhecimento de línguas que a aproximou da literatura inglesa, francesa, italiana, espanhola, alemã, russa, hebraica e da escrita nos dialetos do grupo indo-irânico, traduzindo Rilke, Virginia Woolf, Lorca, Tagore, Maeterlinck, Anouilh, Pushkin, bem como, em 3 volumes, “As mil e uma noites”. Enfim, cito apenas tais detalhes para aguçar a curiosidade, havendo muito mais informações e reflexões que necessitam sua leitura.

Outro poeta modernista também apresentado em várias de suas facetas é Manuel Bandeira, no texto “Muros”, que foi o discurso de posse de Salomão Souza na Academia de Letras do Brasil.

Por todas as questões aqui levantadas, concluo por sugerir a leitura do livro em pauta, como dos mais destacáveis lançamentos do início deste ano de 2022.

25) 18,2 - Da poeta Mariana Vieira, do Rio de Janeiro, recebi pela rede social esta mensagem que só as grandes almas nos enviam:

O Cerrado brasileiro me trouxe grandes amigos.

Não sei se são aquelas flores exuberantes, ou aquele céu (que só existe por lá mesmo) ou mesmo se esta afinidade decorre da mesma visão que temos sobre a necessidade de transpor a aridez aguda da vida.

O fato é que @salomaosousapoeta é parte deste rol de amigos que sempre surpreendem e que me dilatam a alma para que a arte se acampe em campos mais largos.

De modo que, chegar em casa e receber esta riqueza é simplesmente indizível.

Prosa e poesia reunidas em prol da denúncia deste estado de coisas e de indignidades que assolam um país aviltado pelo autoritarismo.

Mais do que isso, a obra revisita a história tendo como guia o meu amigo poeta.

Mais do que isso e mais do que tudo, escritos pelo gentil, culto, generoso e talentoso Salomão Sousa

Obrigada, meu amigo poeta, pela obra e pelo afeto que nos unem.

Algumas leituras:


1) Charles Dickens – Nicholas Nickliby - Ler um romance de 900 páginas dá trabalho, pois nos desacostumamos à concentração. Não é o melhor romance de Dickens, mas desnuda para nós a velhacaria da sociedade londrina, ainda que pese o pouco número de personagens. Mas centra na ganância humana. O homem mata os próprios familiares para angariar riqueza. Como Balzac se vale de seu coringa Vautrim, aqui Dickens cria os personagens de boa índole para salvar os desafortunados. Tirando alguns momentos que possam parecer piegas (aliás, piegas) agora na modernidade, nunca podemos desprezar a acuidade de Dickens. São lapidares seus diálogos. As palavras são exatas. Veja a frase: por que não construímos uma única lareira e ficamos juntos. Para ser compartilhada por duas almas, teria de ser uma única lareira. Leia Dickens, gente, e talvez compreendamos os momentos em que devemos ser melhores.

2) A Sociedade aberta e seus inimigos, de Karl Popper; e Homo Sapiens, de Harari - Após a leitura de Popper e de Harari, fiquei bastante cético. Por mais que Popper construa uma narrativa para que os homens façam escolham que cumpram a racionalidade, pergunto-me se a irracionalidade também não atenderia o conceito da razão já que esta é um contrato de um grupo. Desde que a irracionalidade adota um comportamento, temos de assumir que este comportamento irracional também ganha uma validade racional. A razão é construída com indivíduos que se confrontam face a face. Com as individualidades encarceradas no mundo virtual, a razão está sendo adotada com unilateralidade, a lá Robinson Crusoé. E toda razão unilateral leva ao ódio, que por sua vez leva à violência. A razão unilateral não admite perder, pior, não admite que o outro possa participar do processo. O jurídico existe para fazer valer a razão, mas os irracionais trabalham para derrubar essa barreira, pois se julgam donos de validades incontestáveis.

3) Várias Leituras do longo poema “Cadáveres”, de Nestor Perlongher. Cheguei a traduzir uma parte, mas já há outras traduções facilmente disponíveis. Uma surpresa enorme. Uma energia violentíssima contra o crime dos regimes ditatoriais.

4) Assisti ao filme "O som da montanha", do japonês Naruse, baseado em livro do Prêmio Nobel Kawabata, o personagem principal, ao olhar um girassol, diz que deveria ser permitida a algumas pessoas a retirada do cérebro em alguns casos, para ser lavado. Acredito que a lavagem cerebral não é suficiente. Quando há perda de compreensão da razoabilidade, nem injeção de conhecimento em pó ajudará na adoção de atitudes justas por aqueles que sujaram o cérebro ao longo da vida. Nascemos com o cérebro limpo, mas devemos atuar duro para que ele seja preenchido como o crescimento de um girassol, caso contrário, crescerá como um bolo de lodo. A este lodo renegarei sempre, por mais que se pinte de amarelo para me enganar. Ou enganar a Nação.

5) Simon Bolivar – O libertador da América. Livro de biografia. Eu não entendia nada de Simon BOLIVAR. Impecável esta biografia. Estou lendo como uma história de terror. Como a América foi sacrificada pelos espanhóis, que carnificina, que espoliação dos bens! Só homens que se desprendem de tudo, de seus bens e de sua família, são os que constroem suas pátrias. Ficou um único legado execrável de Bolivar - o afã de poder dos militares caudilhescos. A todo momento os militares se julgam donos do poder, sem passar pelo voto.

6) Esboço para um Auto-retrato, de Bernard Berenson. Guardei um livro por bastante tempo. Tinha lido sobre ele e comprei uma meia dúzia de exemplares para quando quisesse presentear um amigo. Surpresa ao terminar a leitura e encontrar aquilo que desejo na velhice. A boa leitura é aquela que nos complementa ou corresponde àquilo que somos e desejamos. B. Berenson bateu comigo.

7) Li o livro Cristina, hija de Lavrans, de Sigrid Undset, que ganhou o prêmio Nobel de 1928. 1223 pgs. A história se passa na alta Idade Media (1384 +), quando a Igreja tinha total domínio sobre os indivíduos. Adoro ler autores do Nobel, pois é inevitável que suas obras carregam humanismo. Não há edição no mercado brasileiro. Parece que nem foi traduzido por aqui. É um novelão, com uma heroína bem feminista para seu tempo. “Neste mundo, onde os seres só se unem e engendram novas gerações sob a atração das paixões da carne, a dor e as decepções são tão inevitáveis como as geadas outonais. A vida e a morte separam os amigos assim como o inverno derruba as folhas das árvores. "

8) Relatório ao Greco, de Nikos Kazantizakis - A minha primeira leitura do ano de 2022. Foi um grande desafio e um grande auxílio para eu me pacificar diante deste momento egocêntrico que vivemos. Kazantizakis, como bom grego, firma o pé na vida, afirmando que não podemos ficar reféns de deuses castradores das emoções. Os deuses gregos não são fixados em humilhar, mas em enviar o homem para conquistar e embater. Não li muito Kazantizakis. Conhecia os filmes Zorba o Grego e A última tentação de Cristo. Agora li Zorba e este seu relatorio/testamento, que funcionam como conflito memorialista. Talvez a leitura contribua para eu escrever um artigo sobre a postura atual do indivíduo diante do outro. É comum ouvir: não gosto de quem não gosta de mim? Mas temos de perguntar: o que faço para o outro gostar de mim? Qual a minha sedução? Vou ler o livro O infamiliar, de Freud, para tentar complementar essa compreensão. FREUD analisa O conto de areia, de KLEIST, e nem sei bem se o tema trata dessa questão de algumas pessoas desejarem se posicionar não-familiar. E ser não familiar é ser nao-comunitário, não-civilizado? O civilizado procura sempre a harmonia, já que o pecado, para Kazantzakis é a quebra da harmonia. Mas é assunto demais, vamos em frente. mas vejam aí: sempre que alguém dá um salto, ele está usando a energia de todos aqueles que vieram antes dele.

Obs.: vários eventos e leituras não foram registrados. Agradeço a todos que participaram desses momentos.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...