19 de dezembro de 2006

Fico siderado quando encontro um texto literário em que a genialidade da juventude vence todos os parâmetros existentes. É o caso de A família de Pascual Duarte, pequeno romance-explosão do espanhoal Camilo José Cela. Só as condições de um momento de guerra vivido pela Europa e a juventude do autor para permitir que a violência humana fosse examinada com tanta percuciência.
Acho que o Ronaldo Costa Fernandes, apesar do "interior" dissecado em em seu romance O Viúvo, não agüenta esse livro. A Família de Pascual Duarte faz contraponto com O Estrangeiro, que é o livro de cabeceira do amigo Ronaldo Costa Fernandes.
Nao vou entrar em mais detalhes do livro deste autor que foi prêmio Nobel, pois me dá medo. Quero preservar a mãe.

17 de dezembro de 2006


Estou vendo que este blog está se transformando num arremedo de diário.
No entanto, no fim de ano, onde aguardamos a renovação de nossos projetos,
temos de trabalhar dentro de nossas repetições.
Ainda conversava com meu filho hoje na Livraria Cultura: passei o fim de semana
sem consturar grandes invenções. E vou notando que até a poesia vai escapando
por entre a inexistente teia de luz.
Assisti dois filmes: Fome de viver, que há anos eu procurava o momento de me encontrar
com ele. Com Catherine Deneuve, num figurino limpo, um chapeuzinho futurista. É uma vampira que padece a angústia de ter de atravessar eternamente o tempo. Aqui, é a angústia da destruição do outro para assegurar a sobrevivência. Trata-se de um filme que abriu caminhos para muitos outros no gênero. É claro, para trás estava o impressionismo alemão, que é o pai e a mãe de tudo. A trilha sonora é de fazer inveja, e de arrepdiar: Lalo...
Mas, a valentia mesmo me aguardava no segundo filme: Alphavile, de Godard, que também se escondia de mim há mais de trinta anos. Eu sempre digo: há atrasos que acontecem para nosso bem. Godard retrata uma sociedade (comunidade, sei lá) c0ntrolada por um supercomputador. É um filme adivinhatório, prominotor ou qualquer outro nome que se queira dar. Com o controle da sociedade pela máquina, algumas palavras carregadas de ética e de humanismo vão se perdendo. E, com a perda da poesia, com o banimento da poesia, a ternura se perde. Não se sabe mais como amar. Como expressar o amor. Numa sociedade onde todos estão numerados, não há mais como amar. Somente a perda da "consciência", essa mágica que nos põe a reagir... Ai! Godard! Ai! Alphavile!!!!

12 de dezembro de 2006


Desde a infância, carrego a marca da leitura do livro A Cavalaria Vermelha, de Isaac babel, agora traduzido como O Exército de Cavalaria. Para mim, a mudança do título não alterou nada, mas agora, na tradução direta do russo, subiu a tona, com maior clareza, a poeticidade do texto desse russo que acabou morrendo no totalitarismo de Stálin.
Algumas peculiaridades me atraem na prosa de Isaac Bábel: a poeticidade, as cenas de dura crueza da vida militar, o olhar terno dentro da guerra. Olha as frases do último conto, da última página do livro: "Da negra trama do carvalhal surgiu um sol ardente. O júbilo da manhã encheu o meu ser." Ou então a violência dos instantes da guerra: "Alcancei e curvei o ganso para o chão; sua cabeça estalou sob minha bota; estalou e sangrou. O pescoço branco ficou estendido sobre o esterco e as suas asas se juntaram por cima da ave morta." Trancrevo esta passagem deslocada de toda a sua trama, e pior se transcrevesse o tiro dentro da boca do velho, que naquele instante era um inimigo.
Este é o resumo que a editora Cosac distribi sobre o livro:
Para esta edição, Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade traduziram os 36 contos da versão definitiva - que acrescentou dois contos (Argamak0 e O Beijo) aos 34 da primeira publicação em livro, de 1926. "Texto-paradigma do século XX", nas palavras de Boris Schnaiderman, estes contos "com gosto acre de sangue e terra" formam um mosaico estilhaçado das convulsões sociais da Rússia nos anos 1920. Conhecido em todo ocidente como A Cavalaria Vermelha, o livro reflete a experiência de Isaac Bábel na guerra russo-polonesa de 1920-21. Judeu, russo e míope, o narrador registra sua permamente sensação de deslocamento em meio aos brutais cossacos que lutam a seu lado. Com sua prosa expressionista, Bábel parecia encarnar o ideal soviético de uma literatura revolucionária, mas acabaria fuzilado em 1940 pela política de extermínio stalinista.

9 de dezembro de 2006

Quatro aforismos a partir de um diálogo com Lejânia Bello:
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A folha verde é o viço da esperança, e no entanto ela seca.
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É melhor chover no molhado do que viver na secura.
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É melhor acertar com os radicais que errar com os maleáveis!
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Só dois escritores me deixam no buraco:
Cioram e Schopenhauer!
Mas se não entramos no buraco
nunca saberemos como é a saída!

5 de dezembro de 2006


Ontem estivemos na festa do Robson Corrêa de Araújo, que abriu a sua exposição de fotografia na Livraria Cultura, que funciona na CasaPark. São fotos da Câmara dos Deputados, todas feitas com o olhar a partir do chão (piso). São ângulos limpos — se há a presença humana esta se insinua apenas através da sombra. E mais é mistério de quem vê, pois quem vê, sabe e conhece. E isso quem diz é o prêmio nobel Orhan Pamuk.

Um dia antes, fui ao cinema ver O labirinto do fauno, uma produção México/Espanha de Guilhermo del Toro. Eu fui acompanhado por Lídia Duarte ou por Juliana Garza.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...