24 de maio de 2012


A palavra definitiva
na fala se ausenta,
contida de sombra,
da oitiva do palco e do véu.
Em partes as palavras
não se reconhecem.
Corpo que te distrais,
não me trazes um pedaço dos teus!

A renúncia interfere
e deixa indistinta a repetição
do gesto da dança na sombra,
do gosto do beijo no feto
da carne arrancada a custo
de rapinagem e desafeto.
Ainda que contradiga a afecção,
se tenho os joelhos, os cravos
a carne, a pelve fissurada,
não são meus.

Tremulo, cansado Prometeu,
cuidando do fígado,
ainda que atrás
de alguma porta de aço
o decreto não se defina
entre uma fala e outra,
para que tu, rapina,
coma os pedaços teus.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...