A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
21 de novembro de 2024
Ainda estamos aqui
Nara Fontes
1 de novembro de 2024
Megalópolis
Infelizmente, tenho de
confessar que não encontrei coerência no filme Megalópolis, de
Francis Ford Copolla. Não há um discurso que possa ser interpretado, pois os
personagens são mal delineados, tornando impossível identificar a proposta
desejada entre os diálogos e o excesso de imagens.
O objetivo de Copolla
é criticar o déficit de civilização de nossa época e, para isso, saiu juntando
tudo que admira (e rejeita), tornando impossível arrancar um discurso dessa
caderneta de anotações de citações. O filme resultou num puzzle de peças
iguais, que o espectador recebe sem manual de orientações para a
montagem.
Da caderneta de citações
de Copolla só consegui identificar Shakespeare, que o ator recita muito bem (o
belo poema To be or not to be), três aforismos de Marco Aurélio e a
frase de Rousseau, que é nomeada explicitamente. Gostei dos clipes musicais,
sobretudo do clássico What indiference Day, de Dinah Washington
(mas só não gosta dessa música quem nunca ouviu.).
O filme é borrado,
mas a civilização está borrada; o filme é incompreensível, mas tornou-se
impossível dar ou sacar compreensão para as nossas ações. Vamos abolindo o
significado de nossa presença nos territórios. Coube a nós só a tarefa de
demolição do que foi construído até aqui, sem estarmos obrigados a colocar novas
peças, corrigir as peças que foram deslocadas?
A única saída
apresentada por Copolla: parar o tempo para que a geração que está crescendo
possa cuidar melhor do planeta, com mais jardins, beleza, objetividade nas
relações sociais, nos compromissos políticos. E postou o bebê sobre a mesa. Não
sabemos se ele vai conseguir se virar sozinho. Se conseguir, terá de juntar as
peças desse enorme puzzle que se tornou o mundo, com habitantes que não assumem
seu papel, e dar uma ordem a elas. Talvez tenham de criar o próprio puzzle,
pois o que está posto pode apresentar apenas a paisagem contaminada, pois uma
paisagem imaginada por homens tóxicos. As peças que somos, atualmente, não se
ajustam. Vamos vivendo isoladamente, incompreensíveis, e, na nossa
insignificância, sem nos ajustarmos num significado que seja de interesse
comum. Torna-se difícil deixar para futuro um puzzle montável, pois cada
um constrói, sem projeto, sua própria peça, e cada um ainda deforma a peça do
outro.
O filme de Copolla só vem
demonstrar que o discurso tem de ser objetivo, coerente e claro, mas rápido,
sem cansaço. Nunca pensamos nisso: a comunicação atual ocorre com um amontoado
de citações, de aforismos, xingamentos frasais, que não tornam possível a
execução de um projeto. As Meditações, de Marco Aurélio, e todas as
demais obras dos estoicos, são versículos bíblicos de enorme poeticidade, mas
não juntam, mas não erigem uma obra, pois não propõem uma obra, com descrição
das peças que possam deixar uma de pé sobre uma maquete (o Planeta).
Não adianta eu usar
as pragas do Apocalipse para ameaçar o outro. Copolla está certo em desejar
mais jardins, assim como Tarkovski, que, no filme Stalker, busca
uma campina ensolarada. Em Stalker, quem busca contrata quem compreende
o caminho; em Copolla, não há quem possa indicar o trajeto. No mundo do history fragmentado das redes, ficamos sem
orientação e sem quem possa nos levar a um destino, pois não há possibilidade de montagem de projeto.
Não saí do cinema e do palco por
teimosia. Mas quem insiste acaba conseguindo arrancar significado do pior puzzle.
Anita documentario
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