21 de novembro de 2024

Ainda estamos aqui

Agradeço meus netos por terem acolhido o convite para assistirmos juntos ao filme "Ainda Estamos Aqui". Fiquei feliz por encontrar o cinema repleto de jovens, que aplaudiram o filme ao final da sessão. O cineasta fez a opção de centrar a narrativa na harmonia da família, que a ditadura aparece para desmontar. É um filme que surge num momento oportuno, para mostrar que as forças totalitárias sempre desorganizam a sociedade através da instalação da insanidade. O ditador, sem mandato judicial, instala seus torturadores dentro dos lares em nome de pautas ultrapassadas. O aplauso ao filme é oportuno e o combate às ideias fascistas é uma obrigação. O fascista come na sua mesa enquanto aguarda para te matar. Que venha algum Oscar para que o alerta ainda se torne mais amplo.

Nara Fontes

O livro Corte Cego, da poeta Nara Fontesconta com a apresentação consagradora de Cláudio Dabiel e orelhas de Noélia Ribeiro. A amiga Nara Fontes, mesmo antes de publicar esse seu primeiro livro solo, vem sendo presença ativa na cena literária de Brasília, com participação em vários projetos. Soube captar as tendências da poesia contemporânea para apresentar um poemário enxuto, sem devanear pelas facilidades das composições. São poemas densos e limpos. Adorei.

1 de novembro de 2024

Megalópolis

Infelizmente, tenho de confessar que não encontrei coerência no filme Megalópolis, de Francis Ford Copolla. Não há um discurso que possa ser interpretado, pois os personagens são mal delineados, tornando impossível identificar a proposta desejada entre os diálogos e o excesso de imagens.

    O objetivo de Copolla é criticar o déficit de civilização de nossa época e, para isso, saiu juntando tudo que admira (e rejeita), tornando impossível arrancar um discurso dessa caderneta de anotações de citações. O filme resultou num puzzle de peças iguais, que o espectador recebe sem manual de orientações para a montagem. 

    Da caderneta de citações de Copolla só consegui identificar Shakespeare, que o ator recita muito bem (o belo poema To be or not to be), três aforismos de Marco Aurélio e a frase de Rousseau, que é nomeada explicitamente. Gostei dos clipes musicais, sobretudo do clássico What indiference Day, de Dinah Washington (mas só não gosta dessa música quem nunca ouviu.). 

    O filme é borrado, mas a civilização está borrada; o filme é incompreensível, mas tornou-se impossível dar ou sacar compreensão para as nossas ações. Vamos abolindo o significado de nossa presença nos territórios. Coube a nós só a tarefa de demolição do que foi construído até aqui, sem estarmos obrigados a colocar novas peças, corrigir as peças que foram deslocadas? 

    A única saída apresentada por Copolla: parar o tempo para que a geração que está crescendo possa cuidar melhor do planeta, com mais jardins, beleza, objetividade nas relações sociais, nos compromissos políticos. E postou o bebê sobre a mesa. Não sabemos se ele vai conseguir se virar sozinho. Se conseguir, terá de juntar as peças desse enorme puzzle que se tornou o mundo, com habitantes que não assumem seu papel, e dar uma ordem a elas. Talvez tenham de criar o próprio puzzle, pois o que está posto pode apresentar apenas a paisagem contaminada, pois uma paisagem imaginada por homens tóxicos. As peças que somos, atualmente, não se ajustam. Vamos vivendo isoladamente, incompreensíveis, e, na nossa insignificância, sem nos ajustarmos num significado que seja de interesse comum. Torna-se difícil deixar para futuro um puzzle montável, pois cada um constrói, sem projeto, sua própria peça, e cada um ainda deforma a peça do outro.

    O filme de Copolla só vem demonstrar que o discurso tem de ser objetivo, coerente e claro, mas rápido, sem cansaço. Nunca pensamos nisso: a comunicação atual ocorre com um amontoado de citações, de aforismos, xingamentos frasais, que não tornam possível a execução de um projeto. As Meditações, de Marco Aurélio, e todas as demais obras dos estoicos, são versículos bíblicos de enorme poeticidade, mas não juntam, mas não erigem uma obra, pois não propõem uma obra, com descrição das peças que possam deixar uma de pé sobre uma maquete (o Planeta). 

    Não adianta eu usar as pragas do Apocalipse para ameaçar o outro. Copolla está certo em desejar mais jardins, assim como Tarkovski, que, no filme Stalker, busca uma campina ensolarada. Em Stalker, quem busca contrata quem compreende o caminho; em Copolla, não há quem possa indicar o trajeto. No mundo do history fragmentado das redes, ficamos sem orientação e sem quem possa nos levar a um destino, pois não há possibilidade de montagem de projeto.  

    Não saí do cinema e do palco por teimosia. Mas quem insiste acaba conseguindo arrancar significado do pior puzzle.

Anita documentario

  Assisti ao documentario de Anitta "Larissa"". Para ser um filme para seu público, a Anitta do filme é banal, piegas e ocupa...