8 de setembro de 2009

Saul Bellow

Às vezes eu me me surpreendo perguntando sobre os grandes escritores americanos, pois quase sempre compreendemos a literatura dos EUA só em termos dos livros de livros de comunicação rápida. Mas sempre me extasio diante de Melville, de Faulkner, Salinger, Hemingway. Não podemos esquecer de Thomas Pyncho, que ridiculariza o mundo capitalista, de geração de lixo e deterioração cultural. E o encanto da literatura fragmentada e, ao mesmo tempo, tão real e necessária de Saul Bellow. À época em que ele ganhou o prêmio Nobel (1976), encataram-me O Legado de Humboldt, Henderson, O Rei da Chuva, e nunca me esqueço da última frase de O Planeta do Sr. Sammler.
— E sabemos, e sabemos, e sabemos.

Não consigo me lembrar de nada de Herzog, que é considerado sua obra prima. Terei de reler. pois aqui ele é mais questionador, indagador, bem moderno, se a narrativa, através de cartas, permite mais a introspecção do narrador ou do personagem ou ambas.

Agora estou no último volume da trilogia do Egito, de Nagib Mahfuz, e todas as 1800 páginas dos três volumes não passam desta constatação final de Saul Bellow. Sabemos e, no entanto, caímos nos mesmos fracassos.
E agora estou louco para ir à livraria buscar um exemplar de As Aventuras de Augie March, em tradução de Sonia Moreira, (Companhia das Letras, 704 págs., R$ 67). Estão dizendo que é nova tradução, mas é engano, pois o livro nunca saiu no Brasil anteriormente. O Estado de S. Paulo errou mais: a obra de Saul Bellow já foi bem contemplada e encalhada no País. Ele merece bem mais leitura do que encalhe. Qualquer sebo certamente tem livro dele.

Se o leitor é escritor, sugiro a entrada em Bellow pel'O Legado de Humboldt. Se o leitor gosta mais de leveza, por Henderson, O Rei da Chuva. Se é economista ou gosta de conhecer o sabor do uso da língua, este As Aventuras de Augie March, pois a história se passa na depressão de 29. Pelo que escreve o critico abaixo, o romance deve lembrar muito A Casa Desolada (a merecer reedição pela Nova Fronteira, já que ela editou o livro no País e ele está esgotadíssimo), de Dickens, que trata das multiplicidade das questões urbanas, sobretudo da burocratização processual, que esgota os recursos da população com excesso de documentos e tramitação, pois Bellow busca a sua experiência nos grandes narradores.
É bom lembrar que Bellow e Mahfuz são contemporâneos e que ambos ganharam o prêmio Nobel.

Vinicius Jatobá (Estado de S. Paulo):
O escritor apostou alto nesse romance de 1953: ele representa o êxtase do idioma americano, uma prosa em que o sabor do vernáculo, com todo seu senso de improviso e poesia, entra em namoro com uma ideia babélica de experiência urbana. Romance de formação, história de um homem que cresce em meio à Crise de 29, a picaresca construída por Bellow tem um sabor diferente dos romances usuais do gênero - nele, não se acompanha o desencadeamento lógico de uma personalidade. O que se vê em Augie March é a voragem de conhecimento de um indivíduo sendo deformada pela voltagem de improviso que a experiência urbana lhe oferece. Em cada esquina, uma nova história; cada pessoa é fonte de um saber único; as ideias atravessam sua vida com a mesma exuberância sedutora que as mulheres - e há muito adiante por ser descoberto para se ocupar com o passado, mesmo recente.

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