
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
30 de março de 2010
21 de março de 2010
Ventriloquias
Vou escrever uma resenha sobre 2666, de Roberto Bolaño, romance que deverá sair no Brasil nos próximos dias. "As ventriloquias de Roberto Bolaño", pois narrativas se realizam através de várias vozes, que não deixam de ser sempre a dele mesmo. Para estabelecer parâmetros, terminei de ler Os detetives selvagens. Raro romacista, de domínio raro da narrativa, e foi também poeta. Traduzi alguns poemas dele para o portal do Antonio Miranda. Deixo um aqui.
RESSURREIÇÃO
Roberto Bolaño
A poesia entra no sonho
como o mergulhador no lago.
A poesia, mais valente que ninguém,
entra e cai
direto
num lago infinito como Loch Ness
ou turvo e infausto como o lago Batalón.
Contemplai-o ali ao fundo:
um mergulhador
inocente
envolto nas plumas
da vontade.
A poesia entra no sonho
como o mergulhador morto
no olho de Deus.
RESSURREIÇÃO
Roberto Bolaño
A poesia entra no sonho
como o mergulhador no lago.
A poesia, mais valente que ninguém,
entra e cai
direto
num lago infinito como Loch Ness
ou turvo e infausto como o lago Batalón.
Contemplai-o ali ao fundo:
um mergulhador
inocente
envolto nas plumas
da vontade.
A poesia entra no sonho
como o mergulhador morto
no olho de Deus.
15 de março de 2010
Mentiras de Davi
Engano se estive na cidade
pois era uma cidade que não tinha casa
que não tinha igreja
nem morto num caixão perto do altar
Na cidade não tinha morte
As pedras não viravam areia
e a areia não virava água
E a cidade não tinha pousada
Para atravessar não tinha ponte
para trabalhar não tinha emprego
para luz não tinha poste
para nudez não tinha pose
Eu não estive na cidade
Não tinha neto na piscina
não tinha pássaro
a se equilibrar com o rabo
A flor queria e não tinha galho
O fruto queria e não tinha fome
Não tinha caco se não tinha
telha para se quebrar
copo para se partir
ossos para depois de morrer
Não tinha como fugir
se a cidade não tinha saída
Engano se estive na cidade
Se tivesse cidade
teria homem indo para o trabalho
teria mulher indo para o amor
Se existisse a cidade
não teria o gigante
sentado sobre meu giz
@ Salomão Sousa
pois era uma cidade que não tinha casa
que não tinha igreja
nem morto num caixão perto do altar
Na cidade não tinha morte
As pedras não viravam areia
e a areia não virava água
E a cidade não tinha pousada
Para atravessar não tinha ponte
para trabalhar não tinha emprego
para luz não tinha poste
para nudez não tinha pose
Eu não estive na cidade
Não tinha neto na piscina
não tinha pássaro
a se equilibrar com o rabo
A flor queria e não tinha galho
O fruto queria e não tinha fome
Não tinha caco se não tinha
telha para se quebrar
copo para se partir
ossos para depois de morrer
Não tinha como fugir
se a cidade não tinha saída
Engano se estive na cidade
Se tivesse cidade
teria homem indo para o trabalho
teria mulher indo para o amor
Se existisse a cidade
não teria o gigante
sentado sobre meu giz
@ Salomão Sousa
14 de março de 2010
FLIPIRI
Passei este fim de semana em Pirenópolis, município goiano onde acontecia o II FLIPIRI. Fui para descansar e observar de longe, pois não era um dos convidados. Assisti a última palestra de Ignácio Loyola Brandão, mas tambem não fiz tietagem — nem mesmo para relembrar a época em que ele ganhou um prêmio literário em Brasília e eu e o amigo Wil Prado fomos acompanhá-lo ao Buriti. Salve! como estava ágil nas tiradas humorísticas!
Pirenópolis está lindíssima! Descansei muito bem!
A FLIPIRI anima a cidade toda, torna-a capaz de se produzir! A motivação não vem de fora, mas está nela mesma! Há uma produção cultural própria!
Espero que na próxima edição a FLIPIRI seja capaz de atrair Goiás, pois os produtores de cultura goiana, sejam escritores ou pintores ou sei lá, não estavam lá. Eram todos de outras localidades, sobretudo de Brasília. Goiás precisa gostar de Goiás!
Pirenópolis está lindíssima! Descansei muito bem!
A FLIPIRI anima a cidade toda, torna-a capaz de se produzir! A motivação não vem de fora, mas está nela mesma! Há uma produção cultural própria!
Espero que na próxima edição a FLIPIRI seja capaz de atrair Goiás, pois os produtores de cultura goiana, sejam escritores ou pintores ou sei lá, não estavam lá. Eram todos de outras localidades, sobretudo de Brasília. Goiás precisa gostar de Goiás!
6 de março de 2010
Amin Maalouf
A introdução de duas páginas ao livro "Origens", do libanês, Amin Maalouf, é comovente. Deixo aqui os dois primeiros parágrafos. Mais na frente ele dirá: "Pertenço a uma tribo que, desde sempre, vive como nômade num deserto do tamanho do mundo". Portanto, ele realmente não pode falar em ""raízes". Na última frase há uma expressão que tanto pode conter um erro na edição da Aliança Editorial quanto algo que não consegui captar do espanhol: "a la vera". Sei lá. Nem tudo é universal ou globalização. Consegui tirar a dúvida, é "à beira" mesmo. Vou ler este livro de memórias, pois preciso comprender as minhas próprias "origens", pois tudo se confunde e preciso encarar com muita ousadia e sem subterfúgios
"Outros falariam de "raízes"... Mas não é esse um vocabulário que eu use. Não me agrada a palavra "raízes", e menos ainda me agrada a imagem. As raízes se enterram no solo, se retorcem no barro, prosperam nas trevas; têm a árvore cativa desde que nace e a nutrem em troca de uma chantagem: "Se te liberas, tu morres!".
Às árvores não resta mais que resignar-se, necessitam de ter raízes; os homens, não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu, e quando nos fundimos na terra é para apodrecermos. A seiva do solo natal não nos entra pelos pés para subir até a cabeça, os pés só nos servem para andar. A única coisa que nos importa são os caminhos. Eles nos levam: da pobreza à riqueza, ou a outra pobreza; da servidão à liberdade, ou à morte violenta. Prometem-nos, transportam-nos, impulsam-nos e, logo, nos abandonam. E então morremos, assim como nascemos, à beira de um caminho que não havíamos escolhidos."
"Outros falariam de "raízes"... Mas não é esse um vocabulário que eu use. Não me agrada a palavra "raízes", e menos ainda me agrada a imagem. As raízes se enterram no solo, se retorcem no barro, prosperam nas trevas; têm a árvore cativa desde que nace e a nutrem em troca de uma chantagem: "Se te liberas, tu morres!".
Às árvores não resta mais que resignar-se, necessitam de ter raízes; os homens, não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu, e quando nos fundimos na terra é para apodrecermos. A seiva do solo natal não nos entra pelos pés para subir até a cabeça, os pés só nos servem para andar. A única coisa que nos importa são os caminhos. Eles nos levam: da pobreza à riqueza, ou a outra pobreza; da servidão à liberdade, ou à morte violenta. Prometem-nos, transportam-nos, impulsam-nos e, logo, nos abandonam. E então morremos, assim como nascemos, à beira de um caminho que não havíamos escolhidos."
2 de março de 2010
Climério Ferreira
Notei, olhando aqui os meus registros, que não tinha postado aqui o poema que Climério Ferreira montou em nossa homenagem a partir de leituras de nossos livros. Climério vem fazendo uma séria de poemas para poetas de Brasília, e sentimo-nos envaidecidos com a homenagem.
SALOMÃO SOUSA
O que nos falta é emboscada
Nos falta uma derrota
Um jogo perdido, uma vaia
Não demos de apalpar luas
Não há dúvidas nas entranhas
As tempestades sempre voltam aos desertos
Perdi-me das constelações
Pensando em campos e nuvens e oásis
Que não se completem as fendas da fala
SALOMÃO SOUSA
O que nos falta é emboscada
Nos falta uma derrota
Um jogo perdido, uma vaia
Não demos de apalpar luas
Não há dúvidas nas entranhas
As tempestades sempre voltam aos desertos
Perdi-me das constelações
Pensando em campos e nuvens e oásis
Que não se completem as fendas da fala
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