9 de outubro de 2014


temor de viver só numa fotografia
articulada/crestada com artifícios
não ter passado por uma bruma
por um dorso/pelas arcadas da avenida
por onde anda a sensatez/ser arco
inflexível a atirar ao acaso
o medo de um vizinho ruidoso/cheio
de espuma das noites bêbadas
sem a tez do suor/as mãos que saúdam
que não articulam os gestos da degola
o ridículo de uma representação oficial
quando o diálogo não foi/não flui
outra vez o temor do empacotamento
dos homens todos/nas máquinas
nas casas cercadas por segurança/
apartamentos a trancas/a barras/a traves
outra vez o ridículo da interpretação
ouvir os homens anchos/acham que
não pode acontecer/o ridículo de pedir vez
de entrar num shopping/na universidade
outra vez o temor/outra vez o ridículo
destrinchamentos/destazados estudantes 
em Iguala Guerrero/na cadeira do dragão
e outra vez Gelman vai estar no exílio
e se alguém vai estar morto/outra vez
na forca de uma cela o novo herói 

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