7 de dezembro de 2015

Martim Vasques da Cunha

Nos meus tours pelas livrarias, noutro dia me deparei com o livro A poeira da Glória, de Martim Vasques da Cunha. Surpreendeu-me os poemas que apareciam no final da obra, de Alberto da Cunha Melo. Não comprei o livro de imediato. Mas sempre que me lembrava dos versos de Alberto da Cunha Melo, algo me instigava. "Um livro que cita um autor que não está canonizado na história oficial de nossa literatura, deve conter bastante crédito." Encomendei o livro por uma livraria virtual, pois assim o seu preço caia para menos da metade do preço.

Mas de cara, irritei-me com a apresentação. O apresentador já faz algo pernóstico ao dizer que o livro estabelece "um diálogo íntimo com o meu", e cita o seu livro. Quem está apresentando quem? Nesse gesto já estabelecia que a crítica brasileira é egocêntrica, arrogante e pernóstica. Por isso prefiro Chesterton, pois o que torna algo atrativo é a inteligência e a sagacidade.

O importante é que não consegui ir além de um quinto do livro. É um grande alinhavo de resenhas, numa colcha em que estes retalhos são mal costurados. Retalhos amontoados sem nenhuma ordem que dê uma visibilidade agradável à colcha.

Martim Vasques da Cunha perdeu oportunidade de apresentar a literatura brasileira com elegância e ordem. E sagacidade. Inteligência não lhe falta, mas lhe falta ordem e um pouco de carinho e respeito por nossos autores. E também carinho respeito por seus leitores. Nem todo leitor brasileiro está despreparado. Veja quando ele cita desnecessariamente três páginas de Dante só para dar amplitude ao seu livro: "distinto leitor, achou o trecho longo e tedioso, fique calado, não reclame, aproveite ao menos uma vez na vida a chance que estou lhe dando de ler Dante". O crítico pernóstico sempre acha que só ele tem acesso à cultura. Dou a chance de Martim Vasques da Cunha ficar com seu cabedal de arrogância.

E cheio de trapalhadas. Quando aborda Gregório de Matos, numa colagem depois de Machado de Assis, diz "retornar" a Gregório quando não tinha falado desse autor. E expressões que não cabem num livro que se diz história da literatura (esses sujeitos que simplesmente matam o prazer da leitura). Chulo pra cacete. E depois julga "fundamental" quem ele deseja destacar certamente por alguma relação pessoal e não de cultura.

Tomei uma decisão neste mundo. Se eu tiver alguma coisa a fazer por uma pessoa que se julga o centro do mundo, o centro da sabedoria, é jogar uma pá de cal sobre ela. Esta é minha pequena pá de cal sobre um livro pernóstico, arrogante e egocêntrico. Poderia ser útil, mas, para mim, já nasceu enterrado.

3 comentários:

  1. Machado de Assis disse uma vez: o remédio é a crítica

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  2. Vc vê que a sociedade faliu qdo uma crítica deste porte vem cheia de violência, por um autor que só demonstra ódio e desprezo. Em tempos de gritaria, é assim que se consegue espaço. Uma pena.

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  3. Parabéns, alguém tinha de denunciar essa pseudocrítica.

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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

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