A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
24 de junho de 2007
Poesia goiana
Estou auxiliando o Antonio Miranda a ampliar a participação da poesia goiana em sua página — que é uma das mais representativas da poesia ibero-americana no ambiente virtual. (www.antoniomiranda.com.br). Aqueles poetas goianos que puderem auxiliar, remeter currículo e poesias para o meu e-mail, e também uma fotografia.
Preparei hoje os verbetes de Tagore Biram (é de Valdivino Braz as referências bibliográficas do Tagore), e da amiga Yêda Schimaltz. Veja o verbete que preparei sobre a Yêda:
Tenho as tuas cartas e bilhetes floridos e perfumados. Desenhados com a percuciência de sua sensibilidade. E, na parede, o meu rosto entre lírios construído com o teu olhar de pintora cibernética. Na orelha de Rayon (1997) — um de seus últimos livros —, declaras: “Eu não sou poeta não, este lirismo todo é só reclamação. Goiana sou: é só observar o não repetido na frase anterior. E também essa quantidade de livros: não creia que sou uma escritora — isso tudo é só teimosia, vontade de contrariar, de desobedecer. Tem cabimento? De uma coisa de nada, faço laboratório e vou preenchendo a vida de (rima) vento. Certo é que escrevo poesia porque é tudo que possuo e sou, não sendo, e não saberia viver sem ela porque, sem ela, eu não me entendo. Rima de novo e muito fingimento.”
Não retornarei à tua casa, pois agora já posso encontrá-la à beira de qualquer piscina e passar o dia todo contemplando ao sol a candura de teu rosto e de teus versos. Vejamos o que Gabriel Nascente traz na antologia “Goiás, meio século de poesia”, sobre o rasto de sua biografia: “`YÊDA SCHMALTZ é de Recife (PE), mas sempre viveu em Goiás. Bacharel em Letras Vernáculas e em Direito. Professora da Universidade Federal de Goiás, Instituto de Artes.” E ele segue informando o rol dos livros publicados e das antologias em que figuras expressivamente. E não poderia informar a data de teu falecimento, se a poesia é anterior (foi.em 10/05/2003, aos 61 anos, no Hospital da Beneficência). “Recebeu inúmeros prêmios e distinções”, tu que não precisavas de prêmio algum para ser distinta. Mas cabe destacar alguns prêmios merecidos por tua poesia: da Associação Paulista de Críticos de Arte, melhor livro de poesia, 1985 (Baco e Anas brasileiras); Remington de prosa e poesia, RJ/1980; Simon Bolivar, Fondi, Itália, 1998; prêmio nacional Itanhangá de poesia/1985; Hugo de Carvalho Ramos /1973-1975-l985 e 1995; IV Concurso Nacional de Literatura da Fundação Cultural de Goiás/1979; José Décio Filho, GO, 1990; BEG de Literatura, GO, 96 e 97; Cora Coralina, GO, 1996, etc..
Yêda, assim conversamos sempre, pois, com Cora Coralina, a voz feminina da poesia de Goiás ganhou altura insuspeitável.
AMOR
Amor, se houve, eu tive.
De lembrar o amor
em poesia,
minha alma
sobrevive.
Do livro A forma do coração (1990)
Cavalo de Pau
Quando amo, sou assim:
dou de tudo para o amado
— a minha agulha de ouro,
meu alfinete de sonho
e a minha estrela de prata.
Quando amo, crio mitos,
dou para o amado meus olhos,
meus vestidos mais bonitos,
minhas blusas de babados,
meus livros mais esquisitos,
meus poemas desmanchados.
Vou me despindo de tudo:
meus cromos, meu travesseiro
e meu móbile de chaves.
Tudo de mim voa longe
e tudo se muda em ave.
Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando:
um pandeiro de cigana
com mil fitas coloridas;
de cabelo esvoaçando,
a Vênus que nasceu loura.
(E lá vou eu navegando.)
Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando,
enchendo-se os braços curtos
e o amado vai se inflando.
— O que de mais me lamento
e o que de mais me espanto:
o amado vai se inflando
não dos mitos, mas de vento
até que o elo arrebenta
e o pobre do amado estoura.
(Nenhum amado me agüenta.)
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