Eu quero saber do que está perto,
Do que quase me toca, sopra, venta
Eu quero saber do que me cheira,
Me olha, me atenta, e aqui estou, à mostra
Eu quero saber do que não importa
Aos grandes, mas do que ficou na gaveta
Do que cheira guardado – pó – do que está
Por debaixo das coisas
Eu quero saber dos rascunhos, das palavras ditas,
Dos gestos no ar, das despedidas, dos
Abraços lançados via vales-presente, desenhos de beijos,
mensagens telegráficas, gravadas, audiovisuais,
Vídeo-tele-conferência, centrais, webcams, cartões postais gerais (qualquer lugar).
Dessas coisas de banca, esquina, lan, grandes salas, teatros, escolas, todos os não lugares, lugar nenhum.
Que são esses lugares? Que me trazem? Por onde saio?
Quero saber o que é isso que me provoca e me fere,
Isso que não se deixa ver
Mas que, escancarado, me engole.
E salto, sim, para o fundo.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
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