A editora Mondrongo, em 2023, após publicar em dois volumes os Poemas Reunidos de Antonio, ainda deu a lume o pequeno volume Carta, que encomendei no prazo estipulado para receber o exemplar autografado. Aconteceu algum descompasso e o volume chegou sem o prometido autógrafo.
Inicialmente, acreditei que, pelo título Carta, o conteúdo tratasse de alguma mensagem do autor, alguma metapoética, ainda mais que a poesia reunida do autor acabara de sair. Para minha surpresa, trata-se de um dos melhores livro de poesia que caíram em minhas mãos nos últimos tempos.
Não há grandes invenções. Há sutileza. Leveza.
Cada poema parte de algo mínimo para expressar com sabedoria serena. Sem um propósito de ligar-se à poesia árabe ou chinesa, Antonio Brasileiro consegue aproximar-se da natureza, da voz lírica, sem as formas usadas naquelas localidades, para trazer à tona, com rara vivacidade metafórica, o que nós buscamos para nos compreendermos. Surpreendermo-nos.
Vejamos um dos poemas. Remete à poesia grega, à Rilke. Kaváfis. O último verso jogado como recorte – efeito que só um poeta que assistiu as vanguardas, sem a elas se filiar, poderia conseguir. “Pequena elegia antiga” é antológica, canônica no nascedouro, assim como a maioria dos poemas do livro.
Pequena elegia antiga
Concede-me, Zeus, a paz,
assim como concedeste a calma
ao mar, ao vento o pouso, o sono
à nossa dor.
Concede-me, mais que o amor,
a libertação do amor.
Concede-me, enfim, a voz
para calar-me e a noite para esquecer-me
e sossegar o peito,
amplo deus.
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário