5 de novembro de 2006

Algo miraculoso


São vários os temas que eu poderia abordar aqui no blog, neste domingo, de um novembro que já nos desemboca no final do ano. Assim numa abordagem memorialística, assim o prolongamento de um diário irresponsável... Antes, relembrar os buracos aberto aqui em minha garagem, com mais de metro de fundura, para reorganização da rede de esgoto. Às vezes esquecenmos que somos personagens do mundo, com necessidade de encarar nossos esgotos pessoais. Nem tudo termina em livro, mas bem que poderia terminar. Ainda há pouco, com as mariposas invadindo a minha janela, à procura de luz, eu tentava construir um aforismo:

- Nenhum livro é tão ruim que não serva para matar mosca. (este é um pensamento bem à moda de Augusto Monterroso, que fez um livro com epígrafes que remetem sempre às moscas).

Passei a semana ultimando os arranjos finais para a conclusão do Safra Quebrada. A edição está garantida. O livro estará concluído — acredito — até meados de dezembro. Mas o lançamento só acontecerá lá para os inícios de março (em Brasília e Silvânia, minha terra natal). O Mourinha até disse, quando fomos ao seu lançamento, na Livraria FNAC: vamos lançar em Goiânia. Se tiver ajuda dos amigos, quem sabe...

Voltei a encontrar a Nayara numa livraria. Ou fui encontrado por ela ou por seu companheiro. Gostaria de fazer uma metáfora que expressasse a alegria que anda com ela. Nayara é uma água intocável pelo barro? Ela é o ar que move tudo por onde passa. Se todos andassem assim com a alegria pelo braço, a amizade seria muito mais fácil de ser travada. E eu acho que somos amigos desde o primeiro dia que nos encontramos. E, lembrando dela, penso em todos os escritores latino-americanos que são amigos da latinidade. Sábato, que ela já deve ter concluído a leitura, com seu senso de defesa da humanidade, de destruição das vias que levam o homem modrno ao egocentrismo; Octávio Paz, com a sua intimidade com os destinos de seu país, principalmente em O labitinto da solidão; e Carlos Fuentes, que resiste diante das ameaças colonialistas. Saiu dele agora o Este é meu credo, em que contsrói a própria biografia em quarenta e poucos tópicos, como se fossem crônicas ou artigos memorialísticos. Amo Carlos Fuentes desde a primeira linha que li dele. Deste livro, já na primeira página, encontramos o amor à latinidade:

"Grandes civilizações foram derrubadas. A conquista da América foi uma catástrofe. Mas uma catástrofe, segundo María Zambrano, só é catastrófica se dela não nasce nada que a redima. E da catastrofe da conquista, nascemos todos nós. Somos, majoritariamente, mestiços, filhos dos encontros."

Ainda para parodiá-lo um pouco mais, poderíamos dizer que as amizades são nosso segundo lar, onde construímos o complemento de nossa formação, e habitamos melhor o mundo. A amizade é onde amamos sem a necessidade da libido.

Não era para estar dizendo nada disso, mas registrando os livros que recebi nos últimos dias. Encaminhados pelos amigos. Mas deixemo-los descansar mais um pouco sobre a minha cabeceira. Perdão Lívio Oliveira, Gabriel Nascente, Jorge Tuffic...

Estou às voltas com o imaginário para ver se consigo construir a capa do meu livro. O Robson Corrêa de Araújo, que me visitou neste sábado com o Sandro, suiço que está há um mês no Brasil, fotografou uma lagarta para fazermos experiências. Acho que esta lagarta ainda não será a capa definitiva. Poderia sobrar só o rabo desfocado dela...

O que você acha? É belo ou assustador? Ou miraculoso, como me ligou hoje a Camila para me perguntar o que esta palavra quer dizer?

A amizade é algo miraculoso. A palavra é do Godoy e a amizade era Godoy.

2 comentários:

  1. Gostei muito, Salomão! Esse texto fluiu deliciosamente. Beijos.

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  2. vamos lagarteando pois um rei lagarto disse ser o xamã e ter visões pela tribo me sinto bem por ser lembrado o suiço fez um bem enorme qualquer hora vamos sentar e levantar a borboleta junto com a rara ana das folhas de girapemba...GRATO! rOBSON...

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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

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