Enquanto estou organizando o lançamento do meu Safra quebrada, dia 15, a partir das 19 horas (Carpe Diem, 104 Sul), aproveito para traduzir um poema de Vicente Alexandre. Com a tradução, sinto-me menos inoperante e mais próximo da poesia. Sempre me encantou a poesia deste pr^mio Nobel da Espanha. É uma poesia cheia de cintilações. Pois a vida não é só a ordem, às vezes ocorre ao mesmo tempo o lagarto, o vômito e o beijo.
A felicidade
Vicente Alexandre
Não. Basta!
Basta para sempre.
Fuja, fuja; só quero,
só quero a tua morte cotidiana.
O busto erguido, a terrível coluna,
o colo febril, a convocação dos carvalhos,
as mãos que são pedra, lua de pedra surda
e o ventre que é sol, o único extinto sol.
Seja erva! Erva ressecada, raízes amarradas,
folhagem nos músculos onde nem os vermes vivem,
pois a terra nem pode ser grata aos lábios,
a esses que foram, sim, caracóis do úmido.
Matar a ti, pé imenso, gesso esculpido,
pé triturado dias e dias enquanto os olhos sonham,
enquanto há uma paisagem azul cálida e nova
onde uma menina íntegra se banha sem espuma.
Matar a ti, coagulação completa, forma ou montículo,
matéria vil, vomitação ou escárnio,
palavra que pendente de uns lábios roxos
vem dependurada na morte putrefata ou o beijo.
Não. Não!
Ter-te aqui, coração que pulsou entre meus dentes enormes,
em meus dentes ou cravos amorosos ou dardos,
o tremular de tua carne quando jazia inerte
como o vivaz lagarto que se beija e se beija.
Tua catarata de números,
catarata de mãos de mulher com argolas,
catarata de pingentes os cabelos se protegem,
onde opalas ou olhos estão aveludados,
onde as mesmas unhas se guardam entre encaixes.
Morre, morre como o clamor da terra estéril,
como a tartaruga esmagada por um pé desprotegido,
pé ferido cujo sangue, sangue fresco e novíssimo
quer correr e ser como um rio nascente.
Canto o céu feliz, o azul que se desponta,
canto a felicidade de amar doces criaturas,
De amar o que nasce sobre as pedras limpas,
agua, flor, folha, sede, lâmina, rio ou vento,
amorosa presença de um dia que sei existe.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
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publiquei o ESCUTA ZÉ NINGUEM!
ResponderExcluirESTÁ COM O TÍTULO:À NÓS OS ZÉS...
da uma olhada e faça um comentário!
Na poesia de Salomão Sousa, a "natureza" está sempre presente.
ResponderExcluirNão como objeto de contemplação, simplesmente, mas na interação com a faina humana.
Com esta, justifico minha ausência no lançamento de Safra quebrada, por motivo de viagem.
Sucesso, Poeta!
Abraços
Herondes Cezar
Domingo, Maio 13, 2007
ResponderExcluirA vertical, deste horizonte
Meu amigo, aquele "peladeiro irresponsável" (e o faço sem sinais) chico da ana de holanda, estará na cidade no mesmo dia do lançamento do safra quebrada, livro do outro amigo SALOMÃO SOUSA (aquele que foi premiado com edição da 7 letras, RUÍNAS AO SOL...), o poeta que convida a terra para dançar em seus versos, não a terrinha, mas toda terra, portanto universal.
Fui premiado com os ingressos vips para ver o CHICO e o SALOMÃO, não é que estarei em dois lugares ao mesmo tempo, desta vez, pois já é possivel, mas minha THAÍS comprou os ingressos para o dia 16, já que dia 15, ás 19h, no CARPE DIEM da 104 sul, estaremos autografando o SAFRA QUEBRADA (..."sou co-autor"...pelas fotos..."), palavras do SALOMÃO: um livro que muito me alegra ter emprestado o olhar, pois rico é em imagens naturais da poesia brotando a flor da pele na colheita madura de quem lavrou com sangue e suor e não precisa de nenhum lorde para apresentá-lo. E este correio da manhã acorda com os pardais piando, dando nota de tijolo ao humus SAFRA QUEBRADA.
ACHO QUE VOU JOGAR NA PONTA DIREITA DESTA VEZ E CRUZAR PARA O PAGÃO MARCAR A MOÇA DE HOLANDA. O CHICO DEVE ESCALAR PARA JUNTOS DRIBLARMOS IN FINTA TODA ZAGA BRAzILIENSE...
e o "... caro amigo afonsinho continua aqui mesmo aperfeiçoando o imperfeito, dando um tempo dando um jeito, pois a perfeição é uma meta defendida pelo goleiro que joga na seleção e eu não sou pelé nem nada, se muito for sou um tostão..." SEM MAIS DELONGAS, A PARTIDA É ENCERRADA COM ESTE GOL DE PLAQUETE DO AVANTE SALOMÃO SOUSA :
A vida
Um longo monólogo
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sem nenhuma conclusão