Por sugestão de uma pequena nota na Folha de S. Paulo, assisti ao filme “Kes” (1969), de Ken Loach – um dos belos filmes ingleses, se é que a miséria possa gerar algo belo. Ainda que me assuste, é esta espécie de filme que me cativa – arrancam verdades com a voz mais cruenta. E a violência é tão real na direção de Ken Loach que acreditamos que ela não é fruto da arte, mas da realidade. Creio que aquela mãe não era uma atriz, mas alguém que atravessava uma crise real. Até onde somos capazes de agredir? Até onde as pessoas precisam ser agredidas? Uma vez ouvi uma chefia dizer para sua copeira: você merece sofrer! Quem merece o sofrimento? Quem tem o direito de provocar sofrimento? As nossas frustrações têm de gerar outros sofrimentos? Às vezes agredimos onde devíamos amar. Não terei coragem de rever “Kes”. Vou deixá-lo na minha reserva de obras que vão assinalando alertas sobre as ridicularias humanas. Em umas épocas, mas agressivas; noutras, pior ainda. A leitura da trilogia das Eras.., de Eric Hobsbawm tem me auxiliado ainda mais nesta aprendizagem da violência histórica. Sempre é tempo para aprendizagens, e tão pouco sei. Quem sabe a poesia venha preencher isso tudo daqui a pouco, pois ela, neste momento, está adormecida.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
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Quem costuma agredir, maldizer, é pq geralmente se sente ferido, desfavorecido.
ResponderExcluirE como não tentar arrancar beleza de coisas tristes se estas existem em grande quantidade, não é mesmo, só assim para amenizar?
E a poesia preenche, cura, como toda expressão artística.
Grande abraço.