O debate leva o indivíduo a compreender até aqueles
posicionamentos irracionais que julgava irremovíveis de si mesmo. Por isso, as
tentativas de negar o acesso ao conhecimento – o poder (econômico e político) sabe
que, sem ele, oferecemos concordância ao que ele deseja. Sem argumentação, que
gera narrativas mitológicas e de compreensão das camadas da realidade, aceitamos
a proposta de ficar sem o filosófico, o antropológico, o histórico. No consumo
(até a literatura e a política integram os produtos do marketing), a humanidade
vai se trancafiando no ambiente depressivo. A juventude, quando descobre o processo,
se filia ao terrorismo e às milícias, pois é o que lhes resta para busca de
expressão corporal, de aventura, dor e surpresa. Enfim, a experiência fora do
virtual.
Ser livre é poder realizar junto, mas estamos abrindo
mão dessa liberdade, passando a ser vítimas, pois entregamos ao poder, sem
discussão, a capacidade de decidir nossos destinos e de nossos direitos. Somos
democratas quando a nossa argumentação compreende, questiona, acrescenta e
participa, quando permitimos a livre criatividade e a livre informação. Só
somos livres quando não somos otimizados para a aceitação da proposta, quando
participamos da construção do projeto e dele usufruímos; quando somos elementos
da comunidade e nos reconhecemos cidadãos.
Há urgência de ampliação dos espaços de argumentação
para inclusão do indivíduo à realidade, com seus cheiros, texturas, sabores,
nascimentos e apodrecimentos, para libertação do depressivo do ato de viver
isolado. A literatura precisa assumir a ação profanadora, narrativa, capaz de
compreender a realidade, fora das repetições fáceis das mensagens cifradas. O
poeta não pode se propor a ser o sujeito da sujeição, mas ser o da criação do
inesperado. Só o inesperado, que o conhecimento (aí a poesia) cria, livra o
homem de ser simples dado do big-data. Só com cultura e educação o indivíduo
deixa de ser incluído no algoritmo, onde somos classificados como consumidores
de produtos, sejam eles a política, a geladeira ou a máscara.
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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário