12 de fevereiro de 2010

Edição de Jane Austen

Quando li o cânone de Harold Bloom, anotei alguns livros que teria de conhecer. Numa viagem a Fortaleza comprei uma edição esgotadíssima de Mansfield Park, romance de Jane Austen, que está indicado no cânone do crítico inglês. Fiquei cozinhando e nunca li o livro. Em 2009, saiu nova tradução do livro pela editora Landmark, que é especializada em edições bilíngues — certamente para uso em cursos de língua. Decidi ler pela nova edição.

Mas eu confesso: levei um susto. Trata-se de uma das únicas edições lançadas no mercado nacional que precisa de recall. A tradução é inclassificável, os erros incontáveis! Talvez eu até ignore os novos destinos de edições de livros assim — como é para uso didático, talvez contenha tantos erros para que os estudantes treinem através da correção. Mas, no meu caso, que não sou estudante, gostaria de um recall deste livro - é obrigação da editora. Precisamo aplicar o Código de Defesa do Consumidor no que respeita aos objetos culturais. Basta ver o que tem aparecido no mercado de dvd's — imagens totalmente esfumaçadas! Código do Consumidor neles! Cutura é coisa séria.

Em Mansfield Park, numa leitura horizontal, é raro não assinalar pelo menos três erros gráficos por página. Sugiro uma olhada na página 290. Na quinta linha: "Ele tinha certeza o quanto..." Certeza exige um "de". Na nona linha: "serviu para aumentar suas dores de Edmund..." Se as dores são do personagem Edmundo, não são "suas", mas simplesmente "as". Lá pelo terceiro parágrafo, pulando alguns outros problemas, não podemos admitir o uso da próclise num romance vitoriano: "O via raramente...." No final deste mesmo parágrafo, aparece uma concordância verbal incorreta: "se restabelecesse as conversas..." Há uma confusão geral-verbal numa frase do quarto parágrafo: "Era uma oportunidade para qualquer pessoa que tivesse um amigo ao seu lado, abrisse o coração e contasse." Cada um tire a sua conclusão, mas esse verbo do meio aí aparesse com esses demais, pois não devia ter nenhum. No final deste quarto parágrafo, não sei se foi o tradutor (a) que mandou assim para a composição ou se foi o tradutor virtual que mandou assim para a gráfica: "Fanny não tinha ter receio da de uma repetição, esse seria um assunto completamente proibido entre eles." Oh! controle de qualidade editorial! Ai, Euler, peça a esse pessoal para reorganizar este livro. Que façam o recall!

Espero que os demais títulos da editora não estejam tão sofríveis!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Gostaríamos de informar a todos que o Departamento Editorial da Editora Landmark já identificou os problemas com a tradução realizada, reconhecendo que o trabalho realizado pela Sra. Adriana Zardini não foi um trabalho adequado e necessário diante da importância do texto de Jane Austen. Foram identificados diversos erros em um trabalho repleto de vícios de tradução e equívocos ortográficos quanto ao bom vernáculo esperado e contratado por nosso Departamento Editorial; informamos que cientes desses problemas que comprometem a correta leitura e entendimento do magnífico texto de Jane Austen, a Editora Landmark já está procedendo à uma ampla revisão da tradução realizada que será lançado ainda neste mês de fevereiro de 2010. Conscientes da responsabilidade de nossa edição, estaremos procedendo à substituição de todos os volumes solicitados por aqueles que desejarem e gostaríamos que nossa manifestação fosse divulgada alertando a todos os leitores sobre estes fatos.

    Atenciosamente,

    SAC
    Editora Landmark
    editora@editoralandmark.com.br

    ResponderExcluir

Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...