Fico siderado quando encontro um texto literário em que a genialidade da juventude vence todos os parâmetros existentes. É o caso de A família de Pascual Duarte, pequeno romance-explosão do espanhoal Camilo José Cela. Só as condições de um momento de guerra vivido pela Europa e a juventude do autor para permitir que a violência humana fosse examinada com tanta percuciência.
Acho que o Ronaldo Costa Fernandes, apesar do "interior" dissecado em em seu romance O Viúvo, não agüenta esse livro. A Família de Pascual Duarte faz contraponto com O Estrangeiro, que é o livro de cabeceira do amigo Ronaldo Costa Fernandes.
Nao vou entrar em mais detalhes do livro deste autor que foi prêmio Nobel, pois me dá medo. Quero preservar a mãe.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
19 de dezembro de 2006
17 de dezembro de 2006

Estou vendo que este blog está se transformando num arremedo de diário.
No entanto, no fim de ano, onde aguardamos a renovação de nossos projetos,
temos de trabalhar dentro de nossas repetições.
Ainda conversava com meu filho hoje na Livraria Cultura: passei o fim de semana
sem consturar grandes invenções. E vou notando que até a poesia vai escapando
por entre a inexistente teia de luz.
Assisti dois filmes: Fome de viver, que há anos eu procurava o momento de me encontrar
com ele. Com Catherine Deneuve, num figurino limpo, um chapeuzinho futurista. É uma vampira que padece a angústia de ter de atravessar eternamente o tempo. Aqui, é a angústia da destruição do outro para assegurar a sobrevivência. Trata-se de um filme que abriu caminhos para muitos outros no gênero. É claro, para trás estava o impressionismo alemão, que é o pai e a mãe de tudo. A trilha sonora é de fazer inveja, e de arrepdiar: Lalo...
Mas, a valentia mesmo me aguardava no segundo filme: Alphavile, de Godard, que também se escondia de mim há mais de trinta anos. Eu sempre digo: há atrasos que acontecem para nosso bem. Godard retrata uma sociedade (comunidade, sei lá) c0ntrolada por um supercomputador. É um filme adivinhatório, prominotor ou qualquer outro nome que se queira dar. Com o controle da sociedade pela máquina, algumas palavras carregadas de ética e de humanismo vão se perdendo. E, com a perda da poesia, com o banimento da poesia, a ternura se perde. Não se sabe mais como amar. Como expressar o amor. Numa sociedade onde todos estão numerados, não há mais como amar. Somente a perda da "consciência", essa mágica que nos põe a reagir... Ai! Godard! Ai! Alphavile!!!!
12 de dezembro de 2006

Desde a infância, carrego a marca da leitura do livro A Cavalaria Vermelha, de Isaac babel, agora traduzido como O Exército de Cavalaria. Para mim, a mudança do título não alterou nada, mas agora, na tradução direta do russo, subiu a tona, com maior clareza, a poeticidade do texto desse russo que acabou morrendo no totalitarismo de Stálin.
Algumas peculiaridades me atraem na prosa de Isaac Bábel: a poeticidade, as cenas de dura crueza da vida militar, o olhar terno dentro da guerra. Olha as frases do último conto, da última página do livro: "Da negra trama do carvalhal surgiu um sol ardente. O júbilo da manhã encheu o meu ser." Ou então a violência dos instantes da guerra: "Alcancei e curvei o ganso para o chão; sua cabeça estalou sob minha bota; estalou e sangrou. O pescoço branco ficou estendido sobre o esterco e as suas asas se juntaram por cima da ave morta." Trancrevo esta passagem deslocada de toda a sua trama, e pior se transcrevesse o tiro dentro da boca do velho, que naquele instante era um inimigo.
Este é o resumo que a editora Cosac distribi sobre o livro:
Para esta edição, Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade traduziram os 36 contos da versão definitiva - que acrescentou dois contos (Argamak0 e O Beijo) aos 34 da primeira publicação em livro, de 1926. "Texto-paradigma do século XX", nas palavras de Boris Schnaiderman, estes contos "com gosto acre de sangue e terra" formam um mosaico estilhaçado das convulsões sociais da Rússia nos anos 1920. Conhecido em todo ocidente como A Cavalaria Vermelha, o livro reflete a experiência de Isaac Bábel na guerra russo-polonesa de 1920-21. Judeu, russo e míope, o narrador registra sua permamente sensação de deslocamento em meio aos brutais cossacos que lutam a seu lado. Com sua prosa expressionista, Bábel parecia encarnar o ideal soviético de uma literatura revolucionária, mas acabaria fuzilado em 1940 pela política de extermínio stalinista.
9 de dezembro de 2006
Quatro aforismos a partir de um diálogo com Lejânia Bello:
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A folha verde é o viço da esperança, e no entanto ela seca.
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É melhor chover no molhado do que viver na secura.
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É melhor acertar com os radicais que errar com os maleáveis!
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É melhor chover no molhado do que viver na secura.
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É melhor acertar com os radicais que errar com os maleáveis!
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Só dois escritores me deixam no buraco:
Cioram e Schopenhauer!
Mas se não entramos no buraco
nunca saberemos como é a saída!
Cioram e Schopenhauer!
Mas se não entramos no buraco
nunca saberemos como é a saída!
5 de dezembro de 2006
Ontem estivemos na festa do Robson Corrêa de Araújo, que abriu a sua exposição de fotografia na Livraria Cultura, que funciona na CasaPark. São fotos da Câmara dos Deputados, todas feitas com o olhar a partir do chão (piso). São ângulos limpos — se há a presença humana esta se insinua apenas através da sombra. E mais é mistério de quem vê, pois quem vê, sabe e conhece. E isso quem diz é o prêmio nobel Orhan Pamuk.
Um dia antes, fui ao cinema ver O labirinto do fauno, uma produção México/Espanha de Guilhermo del Toro. Eu fui acompanhado por Lídia Duarte ou por Juliana Garza.
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