8 de julho de 2006


Num mundo cheio do cheiro da guerra, Salvatore Quasimodo ainda conseguia evadir-se e encontrar um mundo ainda cheio de vida. Sempre que passo por esse poeta italiano — Nobel de 1959 —, dos meados do século XX, encanta-me como ele se integra à natureza para escapar da angústia. Tão belo que angustia! É livre a versão que fiz do poema que aparece abaixo, a partir da tradução espanhola.


Talvez seja um verdadeiro signo da vida:
em torno de mim crianças com ligeiros
movimentos de cabeça dançam num jogo
de cadências e vozes no prado
da igreja. Piedade do ocaso, sombras
acesas sobre a erva tão verde,
belíssimas sob o fogo da lua!
Concede-lhes a memória breve sonho:
agora, despertai. Assim, o bramir do poço
com a primeira maré. Esta é a hora:
não mais minha, abrasados, remotos simulacros.
E tu, vento sul, cheiro forte de jasmineiros
a lua impele para onde crianças dormem
nuas, força ao poldro nos campos
úmidos dos passos das éguas, abre
o mar, levanta as nuvens das árvores:
a garça já avança para a água
e fareja lenta a lama nas espinhas,
ri o corvo, negro, nas laranjeiras.


Quem não gostaria de escrever com essa sensibilidade:

(...) o homem que em silêncio se aproxima
não esconde um punhal nas mãos,
mas um ramo de gerânio (...)

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