17 de julho de 2006

"Formação formal"

Em desdobramento ao debate sobre a questão da necessidade de "formação formal", que eu entendo necessária para a perfeita prática linguagem poética, foi novamente questionada pelo meu interlocutor anônimo, nos seguintes termos:
"as formalidades e as superioridades academicas por si só nao formam nem profissionais tao pouco artistas, sao nescessarias do ponto de vista social, mas nao sao imprencindiveis; linguagem do corpo, musical, ou linguagem aerea adiquire-se com percursos proprios mesmo quando indicado por mestres ou pseudos-mestres. E as interrogaçoes nunca serao questionamentos, o caro e o barato convivem bem no comercio. ao arquivo a critica; os artistas estao no mundo."
Não nego a importância da "escola do mundo", e muito menos renego a experiência de mundo que trilhei. Mas se eu tivesse a oportunidade de viver no passado, teria corrido meio mundo para participar da academia de Platão, ou mesmo de Abelardo! Tive de amassar muito pão e vender banana na feira para fazer uma universidade (que representa o ideal platônico-aristotélico de academia nos tempos atuais — pois academia indica formação e não conclave de intelectuais, como habituamos tratar hoje). No "percurso próprio" de todo homem, necessariamente tem de haver a formação formal, mesmo que esta seja contratada pelo próprio indivíduou ou pela família. Só para usar uma metáfora para a questão. A madeira está no mundo, mas em estado bruto ela não se torna um caibro, um tampo espelhado de mesa. Já é entiga a expressão: é preciso burilar o diamante. Todo ser humano é um diamante, mas precisa ser burilado pelas experiências de vida, pela educação familiar/social e pela "educação formal".
Meu carísismo interlocutor: não sou acadêmico. A minha academia é o mundo. Há sabedoria e sabedoria! Antigamente, a sabedoria, para saber chover, consistia em cheirar o vento; hoje a sabedoria para saber do clima passa pela academia-universidade-formal. E assim, também acontece com a linguagem poética.




Voltei a ser questionado, de novo de forma anônima, sobre a necessidade da "educação formal" para que o indivíduo seja poeta— se eu acredito nessa necessidade.
Primeiramente, é bom que se diga que, assim como na música, há uma hierarquia na poesia. Há a música de raiz, integrada ao folclore, que não exige formalidade, apenas domínio de certos ritmos já definidos; há a música popular, que está próxima do folclore e já exige domínio de composição e execução; e assim para adiante até se chegar à música erudita. Há o poeta inserido num processo quase folclórico — cite-se o caso do repentista —, e há aqueles que dominam o idioma, os procedimentos da língua erutita, que chegam a uma intimidade com as exigências do processo criativo. Para estes últimos, só a "formação formal" apresenta habilitação.
E acredito em mais: há uma crise na linguagem da poesia contemporânea justamente por faltar algumas disciplinas à "educação formal" atual , tais como línguas antigas, filosofia, bem como melhores escolhas nas adoções dos livros didáticos.
Não há mais espaço para amadorismo no campo das artes, assim como não há no campo dos esportes e da tecnologia.
Acredito que o meu caríssimo "anônimo" disso não discorde.


Alguém me questinou de forma anônima — por isso a necessidade de uma resposta específica — uma expressão por mim usada num dos tópicos deste blog. Confesso que — no momento da entrevista ao jornal Tribuna do Planalto— usei a expressão "formação formal" de forma inconsciente. Ela é equivalente a "educação formal". No entanto, pude constatar que ela é fartamente empregada no meio jornalístico e acadêmico. No contexto em que a utilizei, quis salientar a importância do educação para o exercício da literatura. Alguns exemplos do uso da expressão:

Lula não tem uma formação formal, mas é um exemplo de atitude de vida.
A Tarde (2004)

Os custos de formação nas empresas tendem a ser baixos quando comparados com os da formação formal apesar dos empregados saírem.
Relatório do PNUD

Para nós é um “educador profissional” que passa por um sistema de formação formal e
que continua nesse processo ao longo de sua vida.
Documento da UNESP

2 comentários:

  1. mais é preciso mesmo a tal da educaçao formal para ser poeta?

    ResponderExcluir
  2. as formalidades e as superioridades academicas por si só nao formam nem profissionais tao pouco artistas,sao nescessarias do ponto de vista social,mas nao sao imprencindiveis ;linguagem do corpo,musical,ou linguagem aerea adiquire-se com percursos proprios mesmo quando indicado por mestres ou pseudos-mestres. E as interrogaçoes nunca serao questionamentos,o caro e o barato convivem bem no comercio. ao arquivo a critica; os artistas estao no mundo.

    ResponderExcluir

Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...