15 de agosto de 2006

Participamos nesta terça-feira, 15 de agosto, na Universidade de Brasília, juntamente com Marcelino Freire e Nicolas Bher, de uma mesa do Encontro Nacional de Estudantes de Letras (ENEL), destinada a debater os caminhos e descaminhos da literatura brasileira contemporânea. Carpinejar apareceu rapidamente como ouvinte, talvez interessados em ouvir Marcelino ou Nicolas Bher, pois escapuliu antes de nossa fala. O tema proposto não foi abordado com correção, pois os outros dois debatedores aproveitaram para tratar de divulgação da própria obra. Talvez tenham — por experiência — agido assim por prudência, pois tão logo apontamos algumas questões da poesia brasileira, algumas de nossas observações provocaram alguns desconfortos. Fico com a impressão que mesmo os estudantes de letras — é certo que não em sua totalidade — preferem uma poesia modernista descartável, amarrada a correntes nada progressistas. Não sou academicista, mas a poesia brasileira só terá vigor futuro com desdobramentos da poética de Jorge de Lima e das experiências de vanguardas (espelhamento das palavras e versos, com turbilhões de aliterações e assonâncias). A poesia não é mais uma ressonância humorística da realidade. Quando tratei desse assunto com Victor Sosa, em diálogo que publicamos em vários jornais, reconhecemos que a poesia contemporânea é neobarroca, e que o modernismo da Semana de 22, que passou por Leminski e Mário Quintana, já está enterrado, apesar de insistirem em premiá-lo no meio crítico por conforto do entretenimento que esta corrente poética propicia.

Transfiro para cá o comentário de Ronaldo Cagiano:

Salomão, é uma pena que, num meio propício à inquietação, que deveria instigar a novos questionamentos e à procura de caminhos, não se tenha aproveitado a oportunidade para debater os rumos da literatura e o lugar da linguagem no mundo de hoje, cujo escalonamento de valores éticos e estéticos está inviabilizando uma literatura coerente com nossas demandas e necessidades de interpretar o mundo e o momento em que vivemos. Creio que a literatura confessional dos blogs está impondo uma descartabilidade ao processo criativo, mais vale o instante que a instância criativa. A linguagem é desprestigiada em nome de um utilitarismo que despreza as semânticas e renega a nervura e a coluna dorsal da comunicação: a palavra construída com zelo e artesanato. O umbiguismo dominou a literatura. Há um vácuo que precisa ser vencido e não há como negar o passado, porque como diziz Paul Claudel, não há nada de novo ou de vanguarda quem não tenha um pé na tradição. Estamos sem rumo. O vazio existencial desaguou num abismo quase incurável. Os espamos da forma tomaram o lugar da arquitetura da linguagem. E ninguém ainda se deu conta dessa inversão, que uns entendem uns apropriam como invenção. É a agonia da palavra submetida às convulsões formais. Ronaldo Cagiano

Ronaldo:
antes de iniciar o debate, fiz questão de afirmar que estava ali em razão de sua viagem imprevista a Belo Horizonte.

Um comentário:

  1. oi meu amigo

    tive que sair em função de um outro compromisso: minha filha está morando em brasília e tinha que buscá-la na escola. lamento não ter assistido sua intervenção. abraços com admiração
    Fabrício

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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

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