5 de abril de 2007

Resenha sobre o filme "300"

Por Ana Paula Condessa

Todo filme tem seus méritos, seus pontos fortes, mas também tem furos e contradições. O filme 300, já em exibição, surgiu da história em quadrinhos “Os 300 de esparta” - criada e desenvolvida por Frank Miller. É impressionante a grandeza da produção do filme que chega a representação, com muita propriedade, por retratar a batalha que enfrenta o rei Leônidas -,os soldados espartanos, seus aliados contra o exército persa de Xerxes, na Batalha das Termópilas - , desfiladeiro da Grécia.

Esparta - é uma sociedade que é toda voltada para a arte da guerra e todos os indivíduos, que dela fazem parte, são instruídos para tal. No filme é passado muito do que era Esparta e seu contexto, algo de muito valor para compreender a essência da Batalha das Termópilas - .

A guerra é o meio de vida dos espartanos e, antes mesmo desta grande batalha que ficou para a história e, cujos métodos e estrutura de guerra foram usados por muitos anos em batalhas posteriores, eles moldaram um imaginário de invencibilidade ao seu redor advindo das guerras travadas com as civilizações próximas. As diferenças dessa civilização para as outras - que vivem em seu redor está no orgulho que tem por suas vitórias e sua invencibilidade. Apesar de os espartanos serem politeístas como todos os outros povos a sua volta, eles se sentem como deuses, imortais, diferentes dos outros que vêem os deuses como superiores e seguem todas suas ordens. Os homens são ensinados desde pequenos a passar por privações e a nada temer, preparados para guerras futuras. Como todas as atividades dessa sociedade são voltadas para a guerra, eles vivem pela alimentação que é fornecida por uma população que trabalham nas plantações, eles vivem com o medo de que eles façam uma revolução, estando mais receosos com essa possibilidade em tempos de guerra. Algo que não é retratado e nem abordado no filme de nenhuma maneira.

As mulheres não participam da guerra e não podem participar das investidas, ataques e saques, mas servem como boas esposas e provedoras da prole o imaginário de deusas, intocáveis. Elas participam dos rituais nos templos e algumas delas tornam-se sacerdotisas dos vários deuses e deusas adorados pelo povo. No filme a menina tomada para ser o Oráculo é a dentre as mais belas, e a beleza é sua maldição.

O motivo-motor da batalha dos 300 é que eles seguem as ordens do Oráculo e, é com base em suas previsões que eles decidem se vão ou não para a guerra, já que eles consideram os desastres naturais manifestações divinas. A negação do Oráculo à guerra já fomentada cria a contradição de que os homens têm de lutar para não se submeter e manter o ideal alimentado por Esparta e que estão impossibilitadas de o fazer por sua própria lei.

Uma das contradições do filme é a presença de um deficiente que surge em meio aos espartanos e para os conhecedores da história e de como funcionava Esparta e suas relações sociais, saberiam que esta cena é contraditória a todo o inicio da narrativa em que o filme conta como é a tradição para a formação de um guerreiro espartano. É como se tomassem as referencias das sociedades atuais e transportassem para o filme, já que para os espartanos há uma meta, um ideal de perfeição e quando os indivíduos não conseguem atingir as metas culturais eles são executados. Os indivíduos que fogem à normalidade, ao padrão de perfeição (Homens: brancos fortes, resistentes a provações, Mulheres: beleza que possa ser equiparada a das deusas que eles veneram) são eliminados. Todos os indivíduos na sociedade têm um papel particular que deve ser desempenhado, não há furos na escala social e todos seus integrantes seguem as normas que são impostas desde o nascimento. O Estado de Esparta estabelece sua supremacia, com a manutenção desses padrões designados pelos indivíduos que dela fazem parte. Os bebês que nascem com qualquer deficiência ou que são considerados fora do padrão determinado são eliminados (jogados em um abismo). O ideal de liberdade que o filme prega, como se os espartanos lutassem porque são homens livres, mas eles lutam como o próprio filme coloca por ser a arte pela qual eles nasceram para fazer: “Men, let´s gonna do what we are born to do.”

A visão que os indivíduos têm de sua participação na sociedade está intimamente ligada a suas conquistas, ao que produzem. Os indivíduos agem mais de acordo com as tradições estabelecidas, visando atingir os ideais de bons guerreiros e de belas mulheres, pelos costumes e hábitos de exibição de força e superioridade racial. Não agem por impulso somente em relação aos ideais de fidelidade para as esposas, de beleza (por disputas de conquista de uma mulher), pela manutenção de sua moral ou interesses políticos guiados pelo Estado (financia guerras para aumentar o status da sociedade ou aniquilar civilizações inimigas, para demonstrar superioridade.) Certas vezes alguns indivíduos agem de forma afetiva, guiada por emoções imediatas, de ódio ao inimigo, amor a uma mulher, por vingança. Mas essas ações não vão contra a moral e a tradição da sociedade, pelo contrário, são alimentadas por esses ideais, pois se acredita que isto reforça sua superioridade. O melhor trailer do filme foi o da versão espanhola e a melhor frase do trailer: “Espartanos, esta noche senaremos en el Infierno.”

(Este texto da Paulinha está publicado no blog PARLA)

).

2 comentários:

  1. Numa leitura diagonal da resenha feita pela Paula do filme "300", oferece-me dizer que existe na mesma um erro de interpretação no que concerne ao deficiente, o qual é referido no filme ter sido protegido por sua mãe ao nascer e ter herdado a armadura de seu pai, algo que, não obstante este filme ser uma obra de ficção histórica, era possível ter acontecido na realidade.

    Quanto ao demais, aflora-se uma crítica exercida desde um padrão mental actual e totalmente anacrónico com o espírito da época, para o qual tais práticas eram naturais.

    Estamos nós certos actualmente ou estariam eles? Uma resposta será dada certamente no futuro próximo...

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  2. Jahgm, não consigo pensar em ser possível aquela cena, mas como poderia dizer que está errado, em se tratando duma leitura ficcional é muito possível. A crítica não é em função do padrão mental atual, e sim, na perda que ele traz para retratar uma realidade de tempos passado e de uma civilização muito diferente. É uma forma de alerta apenas por se dizer que há uma tendência em se aproximar as 2 realidades. Você fez um bom comentário, passarei no sei site.

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Salomão Sousa sente-se honrado com a visita e o comentário

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