26 de fevereiro de 2007


O labirinto do fauno, uma produção México/Espanha de Guilhermo del Toro, poderia ter sido o grande vencedor do Oscar, se não fosse o esforço da Academia em vender a sua parafernália de violência. Martin Scorcese, com um filme enroscado, que não acrescenta nenhum avanço à arte cinematográfica ou novidade crítica à sociedade americana, por trazer grandes figurões no elenco de Os infiltrados, ficou um ponto à frente de Guilherme del Toro.
O labirinto do fauno reúne (não digo “reunia”, pois seria ser injusto com ele, pois o filme continua existindo) muito mais condições para ter levado também as estatuetas de roteiro e melhor filme, e por que não a de direção? É o único filme dentre os premiados de 2007 pela Academia de Hollywood que, daqui a uns anos, certamente, será procurado para apresentações em salas de cineclubes e de associações humanitárias que vão lutar pela afirmação das liberdades individuais e de resistências às forças totalitárias. As mentes totalitárias sempre são melhores organizadas e, já que são agressivas por natureza, acabam sempre arrumando brechas na desorganização da sociedade para se instalar no poder.
A bela e oportuna peça cinematográfica de del Toro, elaborada no ritmo de uma fábula, começa no estilo "era uma vez" e termina com a fórmula "a moral é". Como a juventude tem procurado por ficção estilo Harry Potter e Senhor dos Anéis, que não têm muito par com a realidade, o filme de Guilhermo del Toro, ao juntar a realidade dura e violenta do totalitarismo franquista com elementos mitológicos, torna-se atrativo para o jovem e cria esta oportunidade de discussão de temas históricos, de organização da sociedade, de questões mitológicas, e de ameaças que sempre pairam sobre os povos. E serve não só para o jovem, mas para todo aquele que é amante de uma obra de arte funcionando em todos os takes e etapas, e se preocupam com as etapas do humanismo.
Ao acertar a cara do espectador com a violência do totalitarismo, o filme funciona como um "rito de passagem". Relembra ao homem que a qualquer momento —se não se agarrar à vigilância da construção do convívio humanitário— o totalitarismo pode estar de volta para desvirtuar o andamento harmônico de qualquer povo. Muito oportuno que as famílias levem seus filhos para ver o filme e passem de bandeja a eles a moral ali expressa de forma tão clara: não podemos entregar nosso irmão à violência, mas, sim, resistir com nosso próprio sangue para que nenhum movimento tabuleiro de violência se implante no território de nossa realidade. Não sejamos o elemento da violência: nem o que pratica nem o que é acertado na cara por ela.
Enquanto que os demais filmes da premiação do Oscar de 2007 —basta ver o filme de Martin Scorcese— acabam incentivando a organização da sociedade em grupos criminosos. Não servem de parâmetro crítico, mas muito mais de validação dos segmentos da sociedade que se organizam para levar o seu quinhão de forma fraudulenta. E os filmes do velho e charmoso Clint Eastwood, que é capaz de arrancar água sobre as mais belas pontes, ficaram em busca de desvendar situações históricas velhas, com efeitos especiais também batidos. Temos de colocar outras bandeiras sobre Iwo Jima, aquelas que combatem o individualismo, o dissociativismo, o belicismo colonialista — males que vão minando a paz no mundo, e que contribuem para que pairem ameaças de repetição de novos totalitarismos e de crescimento da corrupção, que, neste momento, está mais organizada que os próprios governos. Não construímos heróis com publicidade ou mortes em massa. Herói é aquele que, sozinho (e derrotado), desobstrui a maranha desumana de uma época. O meu oscar pessoal vai para Guilherme del Toro pelo seu inventivo O labirinto do fauno, pois, assim como Hemingway em O velho e o mar, lembra-nos que a luta tem deve ser cotidiana para escaparmos da derrota de uma realidade adversa. E mais: lembra-nos que o herói, em si mesmo, não é a vitória, mas a força conjunta que ele motiva.

21 de fevereiro de 2007

Temos todos os dias algo a comemorar. Os aniversários de familiares, as grandes catástrofes, como o grande incêndio de Lisboa. Alguns comemoram a data em que se livraram de dentes cariados. Mas neste 21 de fevereiro de 2007, faço meu minuto de alegria pelo centenário de nascimento do poeta W.H.Auden. Os grandes poetas não nascem todos os dias. É dono de uma poesia de grande sarcasmo e criatividade. Deixo aqui um de seus poemas, em tradução de Daniel Piza, publicada pela agência Estado. Fiz dois pequenos ajustes para colocar o poema na tonalidade do meu ouvido:

Funeral Blues

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
evitem o latido do cachorro com seu osso suculento,
silenciem os pianos e com tambores lentos
tragam o caixão, deixem que o luto chore.

Deixem que os aviões voem em círculos altos

riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
ponham gravatas beges no pescoço dos brancos pombos do chão,
deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,

mnha semana útil e meu domingo inerte,
meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo,
achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.

As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;

empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
esvaziem o oceano e varram as florestas;
pois no momento nada pode fazer bem algum.
Como um velho urso, só hibernei neste carnaval. Recebi a visita de meu irmão Zezinho Carteiro, acompanhado de duas de suas sobrinhas, que gostam de me visitar durante as férias. Deixei-as frustradas, pois acabaram ficando em hibernação comigo. Perdão, Mariana e Lavínia. Continuem me visitando. De repente, numa das próximas férias, o tempo esteja melhor e eu também esteja mais animado para passeios.
Vi alguns filmes, todos classe B ou C, ou ainda mais abaixo na escala cinematográfica. Um deles, Menina de Ouro, de Clint Eastwood, faz referência a um livro que estou lendo — O Urso Azul, de Lynn Schooler. O autor é de um guia de turismo do Alasca, e, neste livro, relata a sua experiência com as viagens para acompanhar Michio Hoshino para fotografar aquela região (e acabou morto por um urso pardo). Talvez Clint Eastwood não faça referências explícitas a este livro. A última adversária da menina de ouro, íntegra de imensa maldade, leva o nome de Urso Azul. O nome tanto pode ser uma referência ao livro de Lynn Schooller quando ao nome de uma seita maometana.
Assim que acabar de ler este livro, vou enviá-lo para Kelly, a minha sobrinha bióloga. Vai contribuir para reafirmação de sua paixão pelo animais.
É um livro cativante, não só pelo colorido do Alasca, mas pela pesquisa e pela acuidade com que o autor expõe suas experiências. E sabe dar um toque poético às memórias. Sempre coloca um detalhe que nos emociona. A aparição da toninha da Dall me emocionou. Pois, para suportar o frio da região, tem o coração maior que todos os outros órgãos para bombear o sangue com maior rapidez. No Alasca, se um homem cai no mar, estará congelado em 20 minutos, mesmo com roupas protetoras. Até a toninha de Dall tem de adaptar o seu coração para sobreviver.
Assim, temos de estar adptando o nosso coração, como a toninha de Dall, para vivermos.
Queria colocar aqui uma fotografia da toninha de Dall, mas, além de não localizar alguma, ainda aumentou a minha confusão para compreender a classificação dos golfinhos e das baleias. Pois, as classificações ora classificam as orças e as toninhas como golfinhos ora como baleias. O certo é que todos são cetáceos.
Foi até importante para relembrar Moby Dick, de Melville, cujo personagem é uma baleia branca. E há baleias bem maiores que as brancas.
Mas o número de informações é inesgotável para aguçar nossa curiosidade. Adquirir cultura, diante desse mar de informações, é um trabalho de árduo e cativante exercício diário; e que tem o mérito de poder ser praticado mesmo em hibernação.

A classificação dos golfinhos:
Orcas;
Golfinho de Bossa;
Golfinho-Comum;Golfinho Roaz-Corvineiro;
Golfinho de Flancos Brancos;
Golfinho Roaz Negro;
Baleote;
Golfinho-Baleia-Setentrional;
Grampo ou Golfinho de Risso;
Golfinho de Bico Comprido;
Golfinho Salpicado;
Vaquita;
Toninha Comum;
Golfinho da Guiana;
Toninha de Dall...

A classificação das baleias:
Baleia Azul(31m)
Baleia Fin (25m)
Baleia Comum (23m)
Baleia Cachalote (21m)
Baleia Boreal (20m)
Baleia Corcunda (19m)
Baleia da Biscaia (18m)
Baleia Franca ou Verdadeira (17m)
Baleia Azul Boreal (17m)
Baleia Sardinheira (16m)
Baleia Jubarte (baleia preta) (16m)
Baleia Azul Bryde (15m)
Baleia Cinzenta (15m)
Baleia de Bico de Baird (12m)
Baleia Minke (10m)
Baleia Bico de Garrafa (10m)
Baleia Orca (10m)
Baleia Anã (10m)
Baleia Piloto (08,5m)
Baleia de Cuvier (07,5m)
Baleia de Bico de Pato (07m)
Baleia Narval ou Unicornio do mar (06m)
Baleia Pigneu Verdadeira (06m)
Baleia Branca (06m)
Baleia Cachalote Anã (03,7m)
Baleia Golfinho (02,1m)
Baleia Toninha de Dall (02m)

12 de fevereiro de 2007

Lamento que não tenha circulado na edição desta semana, do Jornal Opção, editado pelo meu amigo Euler Belém, o suplemento Opção Cultural. O suplemento Opção Cultura é uma das poucas vozes das correntes artísticas de Goiás. Não pode emudecer em nenhuma semana.

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Não tenho sido feliz nas minhas escolhas culturais nestas últimas semanas. Tenho assistido filmes que não me agradam ou escolhido livros com os quais não me identifico. Estou aqui numa leitura arrastada de Cidadela, do Exupery. Muito caótico. E foi um desastre assistir o último filme de Mel Gibson (Apolalyso), que se especializou em cenas de violência. Para criticar o império americano, que poderia estar em decadência, toma como pano de fundo tribos latino-americanas para montar a sua fábula. Só que não há conexão história, não há poesia — só sangue e barbárie. E se vale de situações inverossímeis para costurar soluções do enredo. Mas, é isso, a inverossimilhança tem matado o cinema. (E talvez a ficção, também). Não é mais possível acreditar na narrativa.

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E uma desabafo rápido, já que todos são coniventes. Noutro dia eu reclamava da calhordice de Zeca Pagodinho e et caterva por gravar uma música de incentivo à bebida (latinha na mão). Agora vem a sua excia. Ivete Sangalo para suingar em propaganda de cerveja. O artista brasileira já usou um pouco mais de ética pública. Não se vendia por trinta dinheiros. A postura do artista brasileira agora é étílica. Lamentável! Meu peido para Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo e et caterva da ética etílica.

7 de fevereiro de 2007

Devo interromper a leitura do livro Balanço Final, de memórias de Simone de Beauvoir. Sempre fui retardando a leitura de um livro desta romancista companheira de Sartre. É muito enumerativo sobre o seu cotidiano, e acabou não me sendo atrativo.
Mas não podemos deixar de reconhecer que nos grandes reformadores das contutas humanas sempre estão latentes as grandes afirmações. Logo no início do livro há uma frase que me interessou sobremaneira: Usei minha liberdade para desconhecer a verdade do momento que vivia.
O excesso de liberdade que o homem (e a mulher) conquistaram — desde a revolução que Simone de Beauvoir contribuiu para a renovação das relações humanas — acabou por gerar contradições perniciosas para o homem da pós-modernidade.
Há uns quatro anos, por ocasião das comemorações da Semana do Livro, convidado a proferir algumas palavras numa escola pública de uma cidade satélite de Brasília, pude me deparar com situações agravantes que o uso da liberdade tem provocado no andamento das instituições e no comportamento humano. Antes do início do evento, notei que os jovens, em grandes grupos, apanhavam as carteirinhas de estudante e deixavam aa escola. Perguntei para a direção se os estudantes não estavam convocados a permanecer no evento. Disseram-me que os estudantes têm o direito de parmanecer ou de se afastar da escola — em nome da liberdade — no momento em que lhes aprouvessem. E, assim que começou o evento, os palestrantes tinham de usar da palavra diante de uma balbúrdia que os tornavam inaudíveis. Quando chegou a minha vez, simplesmente fiquei calado. Todos foram obrigados a se silenciarem. Disse-lhes que era um convidado e que, se não queriam me ouvir, poderiam ter me poupado de me convidar. E todos me ouviram.
Portanto, como a própria Simone de Beauvoir reconhece, a liberdade não pode ser invocada para quebra de disciplina ou mesmo para que as instituições educadoras — seja ela a família ou a escola — não possam interferir na formação de jovens. Aquele que usa o nome da liberdade para desrespeito da convivência harmoniosa, da elegância, da cortesia — não é livre. É um egocêntrico licensioso. A liberdade não ultrapassa o respeito às normas. Se uma escola tem uma lista de condutas, o jovem não pode ultrapassá-las. A casa têm uma disciplina a ser seguida. Os pais e os educadores existem para afirmar as condutas que o homem livre deve seguir, e não para permitir a licenciosidade. Se a escola e os pais se furtam desse papel só podemos esperar o aprofundamento da crise egocêntrica em que o homem vem se metendo, com geração de violência e perda de elegância.

UMA VERDADE INCONVENIENTE


Por Ana Paula Condessa


Uma verdade inconveniente é um longa-metragem que mostra os problemas ambientais causados pela forma como o homem vem se relacionando com o meio ambiente. O mote do filme é a discussão dos problemas causados pelo aquecimento global. O filme mostra a realidade que vamos enfrentar já em 2008. No documentário, Al Gore mostra o resultado de suas pesquisas sobre o aquecimento global, com fotos, imagens, gráficos e tabelas, que demonstram a gravidade da situação ambiental do nosso planeta. No filme, que é dirigido por Davis Guggenheim, Al Gore faz uma campanha bem diferente e mostra dados que preocupam não só os ambientalistas. O ex-candidato à presidência dos Estados Unidos no período Clinton achou um novo jeito para elevar seu prestígio — o mote ambiental. É a forma que ele encontrou para se fazer ouvir.

O filme mostra parte da campanha de Al Gore para parar o aquecimento global e conta com dados chocantes de como a temperatura do planeta vem aumentando e como esse aumento pode continuar a progredir. Os dados foram levantados por cientistas e pesquisadores, com os quais Gore se relacionou na busca por entender o problema ambiental. A proposta cinematográfica está tanto além da linha hollywoodiana quanto da própria política dos EUA, já que o país ratificou o protocolo de Kioto e se exime de responsabilidades.
O filme Uma verdade Inconveniente, que está em exibição em BH apenas no espaço Pitágoras, coloca em cheque todo o comportamento humano. Denuncia o que o homem vem fazendo com o meio ambiente, e trata a questão como um problema político que não está afeto apenas aos americanos. Reafirma a necessidade mais que urgente de transformação através de mudanças adotadas em conjunto no mundo todo. Os EUA e China contribuem com 31% da poluição mundial em favor do efeito estufa e os países que não assinam o Protocolo de Kioto são os maiores poluentes.

O filme nos coloca diante de um quadro assombroso de mudanças climáticas no Planeta Terra e que são preocupações de todos. Ele parece trazer à tona e colocar em um nível mais amplo uma questão que tinha ficado a cargo dos cientistas, pesquisadores e ambientalistas. E o mais interessante é a repercussão dessas notícias na mídia do que com os alarmes dos cientistas. O aquecimento global virou tema de discussão e preocupação para muitos, não mais um assunto restrito para especialistas, que acabavam não sendo acreditados. Ele é real, e está ocorrendo. Caso algo não seja feito, o mundo inteiro sofrerá seus efeitos.

4 de fevereiro de 2007

Leio hoje uma nota no blog do Célio Silva que me deixa envaidecido. Sempre nos deixa orgulhosos assistir um conterrâneo ir ultrapassando fronteiras. Abraços ao André de Leones, ao Célio Silvas, e minhas lembranças ao Cleverlan, agora nas lides do Senado Federal em assessoramento do senador Marconi Perillo. Silvânia subindo ao pódio da nacionalidade.

A nota do Célio Silva:

"Recebo agora, via e-mail, uma excelente notícia: o romance HOJE ESTÁ UM DIA MORTO, do jovem escritor, nosso conterrâneo, André de Leones, será adaptado para o cinema. O cineasta Robney Bruno, que já teve dois curtas premiados nacionalmente, vai dirigir o filme. Hoje Está Um dia Morto será o primeiro longa do cineasta.Esta é a segunda boa notícia envolvendo André de Leones esta semana. No sábado seu romance mereceu resenha publicada no jornal carioca O Globo, um dos de maior circulação no país.A obra venceu no ano passado o Prêmio SESC Brasil de Literatura e foi publicada pela Editora Record.Fico muito feliz pelo sucesso do André. Nos orgulha seu trabalho e seu talento.Aliás, diga-se de passagem, o amigo internauta que acessa e participa do BLOG DO CÉLIO elegeu no ano passado como fato do ano em Silvânia o reconhecimento nacional dado ao André.Parabéns - Pa - ra - béns André!!! Como já lhe disse uma vez ainda o veremos a ABL, no chã das cinco. E, certamente, pisando no tapete vermelho numa futura entrega do Oscar. "

Tenho seguido à risca a decisão de não entrar em conflito crítico. No entanto, a minha compreensão quanto ao filme Babel, que assisti a uns quinze dias, não coincide com a opinião competente de amigos e da crítica especilializada.

É pouco dizer que o filme do mexicano Alejandro González Iñárritu faz uma advertência à política internacional dos EUA. Que tudo de ruim que eles promovem contra outros países acaba se voltando contra eles mesmos. Em razão da defesa de uma mensagem não podemos esconder (ou calar) as deficiências da composição de uma obra de arte. Só a mensagem não valida uma obra.

Não deixamos de reconhecer que as diversas ramificações da história, assim como em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, acabam se ajustando bem na intenção final do autor. Cada personagem, com sua história desgarrada — seja da mexicana, da japonezinha, dos tunísios e marroquinos, ou mesmo dos americanos — funcionam bem isoladamente ou no contexto geral. Para mim, o que melhor funcionou foi a parte japonesa, pois tratou da questão da afetitividade de uma jovem deficiente auditiva com a carga de preconceito que a cerca. Iñárritu poderia fazer um filme só sobre essa temática.

No entanto, o filme peca na montagem, na criação de personagens (veja-se o caso do tunísio que circula junto com Brad Pit, falta-lhe carnalidade) e na escolha de cenas desgastadas e inúteis. Em Os sonhadores, quase mando Bertolucci para o limbo por trazer uma cena de masturbação ridícula. Agora em Babel a cena não só se repete — como se fosse uma novidade a iniciação sexual do adolescente através da maturbação — quanto vem acompanhada da ridicularização da família com o desnudamento de uma garota pelo próprio irmão. Não discuto a questão ética deste tratamento da postura sexual da adolescência — apenas não creio na existência de grandeza e de inventividade em cenas desgarradas iguais a estas (será que foram os americanos que levaram prática da maturbação para o Marrocos, já que o filme está criticando os EUA?).

E outra falta de inventividade na composição do enredo em Babel: no instante do desespero do personagem americano, perdido no Tusísia, com a esposa baleada, sem alternativa para encontrar um hospital, os responsáveis pelo "guion" não conseguem desenvolver uma intensidade narrativa e descambam para a burrice de ensandecer o personagem, que fica dando socos-chutes-empurrões a torto e a direita. A ação que se quer dar ao filme, neste caso, acaba terminando apenas em ridicularia, ainda mais que ela se repete, com as mesmas nuanças. Portanto, em Babel, as ridicularias são uma freqüente.

E para encerrar a notação das cenas de ridicularias: desnorteado na montagem, e mesmo no fluxo narrativo, Iñárritu (ou sei lá quem o auxiliou) se perde numa das cenas finais. Arrasta-se com a personagem baleada, sem saber onde acomodá-la, já que o próprio enredo já não sabia onde ia parar. Parece-me: enchimento de linguiça numa história que poderia ter melhor carnalidade criativa, já que a mensagem é oportuna.

RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...