25 de abril de 2007

Gosto destas leituras adiadas por anos e que nos comovem quando acontecem. Há anos vim retardando a leitura das Meditações de Marco Aurélio. Trata-se de um livro de pequenas máximas, que não chegam a ser um sistema fechado de filosofia — quase um livro de auto-ajuda. O livro foi escrito em papiros e passou por diversas mãos até chegar a nós na versão que conhecemos. Algumas edições trazem o título A mim mesmo, e agora a Planeta — edição que tenho nas mãos — optou pelo título de O guia do imperador.
Quantos estão precisando de fazer leitura deste livro!!! Para ganhar serenidade!!!! Para descobrir a fragilidade da vida, a importância de nossa presença da Natureza!!!! Só com a descoberta da fragilidade o homem dá importância a todos os seus atos, e procura aliar todos os seus atos aos atos dos demais!!!!
E me deixa um vazio em alguns verbetes, pois chega a parecer com Schopenhauer. Veja:

"Quão rapidamente, num segundo, desvanecem todas as coisas, os corpos no espaço, e a memória desses no tempo! E o que são todas as coisas sensíveis e, especialmente, as que nos seduzem com a voluptuosidade ou nos amedrontam com a dor ou são exaltadas pelos homens! Quão vis são, desprezíveis, horríveis, corrompidas, mortas!".

Seu lema: Compete a você. Não podemos ficar esperando pelos outros. Não podemos. Imagina se todos ficam na espera.... Nada acontece. Nada muda. Nada move. Vamos mudar!!! A Natureza muda todos os dias. A cada dia é uma nova floração.

22 de abril de 2007

Acabo de chegar de Silvânia, minha cidade natal, onde estarei lançando o meu livro Safra quebrada, com evento que vem sendo organizado pelo PALAS, que reúne a juventude silvaniense sábia.
Venho do 76º aniversário de Dona Fiinha, minha mãe, que é a personagem principal de meu primeiro livro de poesia (A moenda dos dias). Estavam lá todos os personagens da sagrada família.
Pesquisando na internet se alguma coisa nova surgiu nalguma página sobre a minha obra, encontrei no Jornal Opção (http://www.jornalopcao.com.br/) uma matéria que eu, João Carlos Taveira e Ronaldo Costa Fernandes escrevemos tempos atrás para servir de orientação àqueles que querem entrar no terreno da cultura. Quem quiser conhecer a matéria na íntegra, entrar na página do jornal, procurar o link do Opção cultural, e ela estará lá.

17 de abril de 2007


Ainda noutro dia, a Ana Paula Condessa me perguntava sobre a disponibilidade, no Brasil, de obras do poeta Rumi. Eu lhe dizia que há três livros em catálogo deste poeta do sufismo. Motivado por este diálogo, fui atrás de outro exemplar destes títulos, pois, eu tinha só um, de onde tirei um verso para a epígrafe do meu livro Ruínas ao sol.

Encontrei Poemas Místicos, numa bela edição da Attar, preparada por José Jorge de Carvalho. E até encontrei uma nota sobre este livro na página da amiga Ana Ramiro (Folha de Girapemba). Aninha, estou sabendo que o seu livro está correndo o mundo, e ele ainda não passou por minha porta!!!!!!!

Mas o assunto é Rumi. Realmente, sua obra é outra Bíblia pelo esplendor das imagens. Veja este poema, onde fica demonstrada a máquina do mundo, que, sem este ato de irmos sendo moídos, não existe a vida. Nós, pobres poetas modernos, parados diante do nada, não temos mais como colocar o pé dedicado a Deus.


[A água e o pão]


Rumi


Tradução de José Jorge de Carvalho


O coração é como um grão de trigo

e nós somos a mó.

Como pode o moinho saber por que gira?


O corpo é como a pedra,

e nossos pensamentos,

a água que a faz girar.


Diz a pedra: "A água sabe o que nos espera adiante".

A água diz:"Pergunta ao moleiro,

é ele quem me controla".

E o moleiro te responde:"Ó comedor de pão,

se o moinho não gira

como pode a farinha existir?"


Tudo o que é feito envolve todas as coisas.

Silêncio!

O melhor é perguntar a Deus,

somente Ele te pode responder.


E me remeto à minha infância, quando ia à fazenda do Zequinha do Cândido! Visitava o moinho só para admirar aquela enorme pedra (mó) movendo sobre os grãos. Só assim podia compreender a existência dos amidos de arroz e de milho que minha mãe usava na cozinha!! Como pode existir o passado, essa angústia, esse fervilhar do mundo, se o moinho não gira? Rasga, coração!!!

10 de abril de 2007

Andar animado de orvalho
sem ventres ao lado
com algas roçando roçando
Talvez o sexo ou a agulha
Viajar perto do abismo

dentro de olhares novos
assim perto da palavra
dentro do desejo dos seios novos
Viajar sem conhecer as distâncias
se haverá as palmas dos encontros
com algo na praia
a roçar a roçar

Viajar sem encontrar
Viajar sem desejo
sem abismo sem calhas
O rosto no espelho
Roçar nas homoplatas
no suor escorregadio
sem ruído roçar na fria prata

Estar do outro lado sem viajar
Para que não se espalhe
a tosca palha sobre as ilhas
que te aguardam
o sangue sobre o cetim
que te aquece
terás de limpar hoje
terás de limpar amanhã
Para que o pavor
não seja a cor do teu quarto
ou a porta que te fecha
terás de te entregar hoje
terás de te entregar amanhã
Para que te protejas
antes que venha a frieza
que enrijece o punho
e não vir a força
e não vir o desfecho
Para que o fogo aqueça
terás de acender hoje
terás de acender amanhã
e ele inventa histórias!
pois nada do que vivemos nunca
terá sangue ou dores
e ele inventa!
pois nada do que vivemos
jamais terá um momento num café
terá um bonde em São Januário
e ele inventa histórias!
pois nada do que vivemos
nunca terá o rápido instante
do ombro de alguém
do rosto nos joelhos
de uma tribo de onde viemos
sem histórias
e ele inventa!
todos com ciúme
a frase de Stevenson
repetida por Borges
e ele inventa histórias!
não havia finais
adoção de alguém da tribo
— nada que se ouça

ou nada que se move

9 de abril de 2007

Música para os olhos


Como o samba está associado à dança, nunca fui de ficar decorando/chorando letras de músicas ou de estudar toda a história da música brasileira. Mas, a certa altura de minha vida, estimulado por minha mulher, Cartola e Nelson Cavaquinho entraram para as minhas percepções musicais. E, mais tarde, Zé Keti. A poesia destes compositores se apresentou com encanto cheio de diferenciais. Não é só dor de cotovelo, desencanto, ou narrativa de algo do cotidiano. Há algo metafórico, ainda que o reflexo da letra esteja dentro da realidade do compositor.
Agora o documentário Cartola serviu para reviver momentos importantíssimos da música brasileira associados a estes compositores. Descobri que, mesmo não estudando a música brasileira de uma forma mais sistemática, ela está encravada no meu sangue. Parece que eu sabia aquilo tudo de cor. Que aquilo tudo sempre estava ao meu lado!
Está muito bonita a reconstituição da história em que Cartola viveu, com suas andanças pelo Catete, pelas parcerias e mesmo pela criação da estação primeira da Mangueira.
As aparições de Nara Leão (O sol nascerá) e de Elizeth Cardoso — minhas paixões, junto com Zezé Mota, que não está ligada à história de Cartola — deixaram-me de cabelo em pé.
O filme Cartola vem comprovar que o documentário brasileiro cresceu muito, e que o filão de perfis musicais acabou gerando boas obras. Desde o comovente Nelson Freire, o cativante Paulinho da Viola e o óbvio Vinicius (o de Vinicius seria bom mesmo se o filme fosse uma única cena dele dormindo), que esta revisão do cenário musical brasileiro, pelo cinema, incentiva a forma de se apaixonar pelos nossos valores. Por exemplo, ver Nelson Freire é descobrir heróis que passam quase despercebidos por nossa história. Só os iniciados sabiam de sua presença no exterior.
Nossos valores existem, precisam, isto sim, de afirmação. É salutar que o cinema traga esta contribuição — apesar de apenas os iniciados ainda buscar o cinema para este tipo de produção. Os produtores, para que o documentário não fique no âmbito apenas da elite, precisam introduzir paralelamente outras formas de socialização do conteúdo cultural de seus projetos.
Essa questão da elitização da cultura me preocupa muito. Há muito investimento em cultura, com incentivo fiscal, mas um investimento que acaba não disseminando a cultura. Acabam construindo centros culturais fora do eixo da população, as exibições acabam em salas freqüentadas apenas pela elite. Temos de colocar um pouco de fogueira nesta questão, senão o filme nacional continuará pouco visto e a leitura não passará nunca de 1,8 livro por ano na renda per capta da leitura nacional. Não podemos esperar muito do desenvolvimento cultural com este quadro e esta política de investimento.
Beijos, Cartola, onde estiveres com tuas flores e teu sol.

Autonomia
Composição: Cartola

É impossível nesta primavera, eu sei
Imossível, pois longe estarei
as pensando em nosso amor, amor sincero
Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero
Escravizaram assim um pobre coração
É necessário a nova abolição
Pra trazer de volta a minha liberdade
Se eu pudesse gritaria, amor
Se eu pudesse brigaria, amor
Não vou, não quero.

6 de abril de 2007

É alta noite.
Dei para acordar nestas horas frias,
de olhar seco e sem bulício nas madrugadas
tragadas pelo outono.
Escrevo um pequeno texto para o orkut da Whanne,
que poderei depois transformar em poesia:

e ela inventa histórias!
pois nada do que vivemos nunca
terá sangue ou dores
E ela inventa!
pois nada do que vivemos
jamais terá janelas
terá um bonde em São Januário
e ela innventa
pois nada do que vivemos
nunca terá realidade!!

Apanho o livro de Borges para ler
um pedaço de seus comentários
sobre "A Divina Comédia",
que quero comentar com a Lídia.
E ele lembra que Stevenson,
aquele que escreveu a Ilha do Tesouro,
que virou filme, desenho, e outro desenho
e outro filme, e peça teatral escolar
e conversa de botequim,
e que nunca li,
e Jorge Borges diz que Stenvenson disse que
— Borges antes diz que leu Croce e que não está de acordo
com ele —, mas que Stevenson diz que "o encanto
é uma das qualidades essenciais que o escritor deve ter.
Sem encanto, tudo o mais é inútil." E gosto
do encanto de Borges, e nem sei se concordo com ele.
Poxa! onde está o encanto?
Num rápido instante com alguém,
numa passagem, numa frase,
num instante no café
com todos com ciúmes,
num instante de ciúme,
de crime, de uma frase de Stevenson,
de frase repetida por Borges,
o encanto na Divina Comédia?
A madrugada é um encanto!!!

5 de abril de 2007

Ainda não assisti o filme "300", que retrata a guerra dos 300 de esparta.
A minha amiga Ana Paula Condessa, garota de garra nova, dos BH,
comenta o filme. Agradecemos a autorização para o seu texto figurar aqui no "safra quebrada".

Resenha sobre o filme "300"

Por Ana Paula Condessa

Todo filme tem seus méritos, seus pontos fortes, mas também tem furos e contradições. O filme 300, já em exibição, surgiu da história em quadrinhos “Os 300 de esparta” - criada e desenvolvida por Frank Miller. É impressionante a grandeza da produção do filme que chega a representação, com muita propriedade, por retratar a batalha que enfrenta o rei Leônidas -,os soldados espartanos, seus aliados contra o exército persa de Xerxes, na Batalha das Termópilas - , desfiladeiro da Grécia.

Esparta - é uma sociedade que é toda voltada para a arte da guerra e todos os indivíduos, que dela fazem parte, são instruídos para tal. No filme é passado muito do que era Esparta e seu contexto, algo de muito valor para compreender a essência da Batalha das Termópilas - .

A guerra é o meio de vida dos espartanos e, antes mesmo desta grande batalha que ficou para a história e, cujos métodos e estrutura de guerra foram usados por muitos anos em batalhas posteriores, eles moldaram um imaginário de invencibilidade ao seu redor advindo das guerras travadas com as civilizações próximas. As diferenças dessa civilização para as outras - que vivem em seu redor está no orgulho que tem por suas vitórias e sua invencibilidade. Apesar de os espartanos serem politeístas como todos os outros povos a sua volta, eles se sentem como deuses, imortais, diferentes dos outros que vêem os deuses como superiores e seguem todas suas ordens. Os homens são ensinados desde pequenos a passar por privações e a nada temer, preparados para guerras futuras. Como todas as atividades dessa sociedade são voltadas para a guerra, eles vivem pela alimentação que é fornecida por uma população que trabalham nas plantações, eles vivem com o medo de que eles façam uma revolução, estando mais receosos com essa possibilidade em tempos de guerra. Algo que não é retratado e nem abordado no filme de nenhuma maneira.

As mulheres não participam da guerra e não podem participar das investidas, ataques e saques, mas servem como boas esposas e provedoras da prole o imaginário de deusas, intocáveis. Elas participam dos rituais nos templos e algumas delas tornam-se sacerdotisas dos vários deuses e deusas adorados pelo povo. No filme a menina tomada para ser o Oráculo é a dentre as mais belas, e a beleza é sua maldição.

O motivo-motor da batalha dos 300 é que eles seguem as ordens do Oráculo e, é com base em suas previsões que eles decidem se vão ou não para a guerra, já que eles consideram os desastres naturais manifestações divinas. A negação do Oráculo à guerra já fomentada cria a contradição de que os homens têm de lutar para não se submeter e manter o ideal alimentado por Esparta e que estão impossibilitadas de o fazer por sua própria lei.

Uma das contradições do filme é a presença de um deficiente que surge em meio aos espartanos e para os conhecedores da história e de como funcionava Esparta e suas relações sociais, saberiam que esta cena é contraditória a todo o inicio da narrativa em que o filme conta como é a tradição para a formação de um guerreiro espartano. É como se tomassem as referencias das sociedades atuais e transportassem para o filme, já que para os espartanos há uma meta, um ideal de perfeição e quando os indivíduos não conseguem atingir as metas culturais eles são executados. Os indivíduos que fogem à normalidade, ao padrão de perfeição (Homens: brancos fortes, resistentes a provações, Mulheres: beleza que possa ser equiparada a das deusas que eles veneram) são eliminados. Todos os indivíduos na sociedade têm um papel particular que deve ser desempenhado, não há furos na escala social e todos seus integrantes seguem as normas que são impostas desde o nascimento. O Estado de Esparta estabelece sua supremacia, com a manutenção desses padrões designados pelos indivíduos que dela fazem parte. Os bebês que nascem com qualquer deficiência ou que são considerados fora do padrão determinado são eliminados (jogados em um abismo). O ideal de liberdade que o filme prega, como se os espartanos lutassem porque são homens livres, mas eles lutam como o próprio filme coloca por ser a arte pela qual eles nasceram para fazer: “Men, let´s gonna do what we are born to do.”

A visão que os indivíduos têm de sua participação na sociedade está intimamente ligada a suas conquistas, ao que produzem. Os indivíduos agem mais de acordo com as tradições estabelecidas, visando atingir os ideais de bons guerreiros e de belas mulheres, pelos costumes e hábitos de exibição de força e superioridade racial. Não agem por impulso somente em relação aos ideais de fidelidade para as esposas, de beleza (por disputas de conquista de uma mulher), pela manutenção de sua moral ou interesses políticos guiados pelo Estado (financia guerras para aumentar o status da sociedade ou aniquilar civilizações inimigas, para demonstrar superioridade.) Certas vezes alguns indivíduos agem de forma afetiva, guiada por emoções imediatas, de ódio ao inimigo, amor a uma mulher, por vingança. Mas essas ações não vão contra a moral e a tradição da sociedade, pelo contrário, são alimentadas por esses ideais, pois se acredita que isto reforça sua superioridade. O melhor trailer do filme foi o da versão espanhola e a melhor frase do trailer: “Espartanos, esta noche senaremos en el Infierno.”

(Este texto da Paulinha está publicado no blog PARLA)

).

3 de abril de 2007

Outono Cultural


A cidade de Brasília, neste outono, está fervilhando de programas culturais.

Tivemos o lançamento privado, no Café com Letras, do novo livro

do poeta Alexandre Marino.

Teremos Ignácio de Loyola Brandão no T-Bone

(lembro-me de eu e o Wil Prado, em tempos de ditadura,

repecionar o autor de Zero, quando ele veio à cidade

para receber o prêmio do Encontro Naiconal de Escritores,

e ele em dúvvida se comparecia de terno à solenidade).

Nesta terça-feira, 3, no Carpe Diem,

lançamento do romance Cinza da Solidão, de M.M.Haickel

(é o nosso Marco Polo, da divulgação da Thesaurus).

E, na quinta-feira, na Biblioteca Nacional,

o nosso diretor Antonio Miranda promove homenagem

ao poeta Fernando Mendes Viana, com leituras de poemas

do homenageado por Anderson Braga Horta.


RETRATO, poema de Antonio Machado

Traduzi para meu consumo o poema "Retrato", do espanhol Antonio Machado. Trata-se de um dos poetas de minha predileção, assim como...