A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
22 de outubro de 2006
As esculturas vivas de Anish Kapoor
Acredito que é assim o nirvana: estar com o corpo dentro de uma escultura viva de Anish Kapoor. Dentro do nirvana ou da expansão milagrosa do universo. Depois de visitar a exposição deste escultor indiano, naturalizado inglês, fica difícil até a volta à realidade, já que ela não será mais vista e vivida com as mesmas dimensões.
Quem comparecer ao CCBB até o fim do ano para ver as nove esculturas de Anish Kapoor ali em exposição, certamente sairá estupefato. A escultura Ascension, que dá nome à exposição, está num galpão construído especialmente para a sua instalação. Poucos minutos que passarmos ao lado daquele pequeno furacão serão suficientes para descobrimos que nosso corpo — até nosso hálito — interfere no movimento do mundo. E, ao sairmos daquele labirinto, passamos a andar mais cautelosos para não alterar a ordem das coisas à nossa volta.
Anish Kapoor (muitos dados sobre o artista podem ser conferidos em sites da internet) — todos hão de concordar após ver suas obras — desconcerta. Ao convergir experiências das culturas oriental e ocidental, mostra-nos que as dimensões do universo e mesmo corporais são outras e não estas com as quais nos adaptamos à realidade. Descobrimos que a adaptação apenas disfarça os mistérios inalcançáveis das dimensões da luz, das cores, e do nosso próprio sangue. Se vivêssemos as profundidades reais da realidade, enlouqueceríamos. Descobrimos que nosso olhar é pequeno. Aliás, talvez o nosso olhar seja inútil para o universo em que estamos perdidos. E se um dia nos descobríssemos num universo que não alcançássemos mais nenhuma realidade? Este é o desconcerto de Anish Kapoor.
Há uma escultura que, na aparência, pode parecer inútil e de total desperdício. Trata-se de um cone composto de paredes, com uma parede-espátula móvel no centro, que move sobre uma camada de oito toneladas de cera. A parede-espátula só é movida com o esforço de oito homens. E a espátula-parede, ao ser movida, altera as ranhuras daquelas toneladas de cera. Exagero? Mas, quando ela é grande, a metáfora merece e exige uma expressão que nos desoriente. E Anish Kapoor desconserta e desorienta. O cone gigantesco nos remete para nós mesmos. Para alterarmos nossas grandes texturas internas temos de mover uma espátula de difícil mobilidade. As alterações internas do indivíduo exigem a presença de outras pessoas, no exterior, para empurrar a nossa espátula desconhecida, e, assim, gravar novas ranhuras nas texturas de nossa individualidade.
Não importa quanto longe ou perto alguém esteja perto do CCBB. Não interessa se a realidade existe, o importante é ir lá conferir.
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Tenho que ver... adoro arte em 3 dimensões!
ResponderExcluirQuinta-Feira vou a Bienal em SP... é sempre uma experiencia fantastica.
Caríssimo Zé (que não conheci identificar no anonimato).
ResponderExcluirParece que nossas sensações se assemelham no que se trata da absorção da arte e da vida da cidade.
Obrigado pela visita às salas de meu blog.
fazer cera salomas.não tinta.mas gosto do passeio.precisamos fazer um destes no meu são miguel,num dia de garoa fina...beijo.seu Robson
ResponderExcluirHey...
ResponderExcluirvcs estão postando agora?
Isso aqui tá movimentadíssimo! Quase uma sala de bate papo do UOL.
zé,
ResponderExcluirissu aqui ainda tá é fraco.
Robson,
fiz a correação de tinta para cera. Cê tá corretíssimo.