Lamentei não poder participar do féretro do cubano Guillermo Cabrera Infante, que, às 23h15 de 21 de fevereiro de 2005, no hospital Chelsea and Westminster, faleceu em Londres, onde vivia exilado, vítima de pneumonia, complicada pela diabete, após ter se internado dias antes em razão da fratura do quadril. Sempre que morre um dos meus escritores preferidos, tenho a sensação de que fiquei um pouco menor, assim com menos dias. São poucas as vezes que me sinto assim um pouco mais órfão. A última vez aconteceu com a morte do amigo José Godoy Garcia. Os grandes escritores me protegem da ignorância e da sensaboria da vida.
Nascido em Gibara (Cuba), em 22 de abril de 1929, Cabrera Infante é uma das figuras de maior destaque da intelectualidade latino-americana. Formado em Medicina, que abandonou pela Literatura. Formou-se em seguida em jornalismo e, ao praticá-lo, chegou à sua outra grande paixão – o cinema. Em 1951, fundou a Cinemateca Cubana.
Chegou a estar preso na campanha para derrubada de Fulgêncio Batista. Com a chegada de Fidel Castro ao poder, aceitou o cargo de adido cultural em Bruxelas, pois, conforme declarou, “não agüentava ficar em Habana. Não suportava ver-me transformado num corrompido”. Depois de criticar o regime de Fidel pela ligação ao comunismo e prisões, pediu asilo político à Grã Bretanha. A última vez que esteve em Cuba foi em 1965 para assistir o enterro da mãe. Vivia em Londres, onde exercia o jornalismo.
Na oportunidade em que anunciou a morte do marido, a atriz Miriam Gómez disse que "Ele morreu sem pátria, mas sem amo. Ele levava Cuba dentro dele. Sua Cuba não existe mais."
Além de trabalhar para o cinema, principalmente no roteiro de Debaixo do vulcão, é na literatura que se destaca. No romance Três tristes tigres, de 1967, em catálogo no Brasil, Cabrera Infante usa linguagem descontraída e cheia de trava-línguas para recriar a cultura, a música e a noite da Havana pré-revolucionária, com os cabarés e cassinos controlados por gângsters. Outros livros de Cabrera publicados no Brasil: Vista do amanhecer no trópico, Havana para um infante defunto, Mea Cuba, Delito por danar o cha-cha-chá, e Puro fumo.
Era um sério candidato ao Nobel após ganhar, em 1967, o Prêmio Cervantes, maior condecoração da literatura espanhola. Em Vista do amanhecer no trópico o leitor encontrará a capacidade de Cabrera Infante para a condensação, a ironia, a pureza narrativa — caracteres peculiares de toda a sua obra. Em Havana para um infante defunto e Mea Cuba, além da versatilidade do seu texto, estão a sua paixão e a sua tristeza por não poder retornar ao solo pátrio. Com a sua morte o mundo das letras está menos inteligente.
A poesia é meu território, e a cada dia planto e colho grãos em seus campos. Com a poesia, eu fundo e confundo a realidade. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento)
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